- A aquisição de um bem ou de um produto pode representar para algumas pessoas um “passe-livre” para participar de determinados grupos sociais
- O consumo de bens e serviços para ter um determinado “status financeiro” também costuma simbolizar a ideia de “sucesso” para algumas pessoas
- Anotar todas as despesas para saber quanto pode gastar é uma das principais tarefas para se blindar desse comportamento
A aquisição de um bem ou de um produto, em algumas situações, pode ser motivada para atender uma necessidade específica: pertencer a uma classe ou grupo social. O problema é que essa motivação na hora da compra nem sempre apresenta uma lógica racional.
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No entanto, algumas marcas, produtos e acesso a serviços oferecem de uma forma implícita um “status financeiro” ou um “padrão de vida” que, em alguns casos, vão além do poder aquisitivo do consumidor. A grande questão é que essa busca quando não é bem administrada pode comprometer as finanças pessoais.
A situação é mais comum do que se imagina. Segundo uma pesquisa feita pela fintech Leve, dos 3.450 funcionários de empresas atendidas pela plataforma de educação financeira, 55% deles gastam tudo ou mais do que ganham.
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Um dos motivos para esse descontrole financeiro é a busca para ter um padrão de vida inadequado ao orçamento. “A pessoa quer atingir esse status a qualquer custo. Para isso, gasta mais do que ganha. As dívidas começam e tudo isso vira uma grande bola de neve”, ressalta Bárbara Almeida, consultora financeira da Leve.
Segundo os especialistas, é importante observar que ter um padrão de vida incompatível com a renda tem uma explicação. De acordo com Álvaro Machado Dias, neurocientista, professor adjunto da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a posse de um bem ou de um produto de determinada marca pode simbolizar sucesso ou um “passe-livre” para fazer parte de determinados grupos sociais.
“Uma blusa despojada da burberry (grife britânica), por exemplo, insere a pessoa em um mundo de elite que ela se diferencia a partir do objeto”, explica Machado Dias. Segundo ele, a mesma lógica pode ser feita para empresários que compram carros de luxo como uma forma de investimento para conseguir mais dinheiro.
“Qual é o sentido disso? É um símbolo de sucesso que ajuda a transmitir a sensação de confiança nesses grupos que são muito ligados a status”, acrescenta o professor.
Consequências
Quanto mais alta for a classe social, mais prejudicial esse comportamento pode ser para o orçamento. O motivo se deve às dívidas adquiridas que costumam ser de longo prazo, o que exige dessas pessoas um controle financeiro ainda maior para não ficar no vermelho.
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Para Sigrid Guimarães, sócia e CEO da Alocc Gestão Patrimonial, essa sensação de uma riqueza momentânea sem pensar no futuro é um dos piores inimigos de quem está sempre em busca de “status financeiro”.
“O resultado disso são adultos que veem o padrão de vida cair substancialmente na velhice e/ou precisam depender dos filhos no futuro”, ressalta Guimarães. “O maior inimigo da preservação do patrimônio é a sensação de riqueza não quantificada em termos de duração”, acrescenta a especialista.
Mas as consequências também são sentidas na hora de organizar as contas. Ivens Gasparotto, diretor da Suno Consultoria e da Suno Wealth, conta que há um desafio psicológico durante esse processo porque a pessoa se acostumou com um estilo de vida superior e, por isso, enfrenta dificuldades para descer de padrão.
“A pessoa se acostumou com coisas melhores, um carro melhor ou um apartamento maior. Quando decide mudar, sofre uma pressão psicológica e geralmente se preocupa com o que os outros vão pensar dela com a queda do padrão”, explica Gasparotto.
Como se blindar
A aquisição de bens para ser aceito em determinados grupos ou ter um determinado “status financeiro” não significa de forma isolada uma atitude prejudicial, na visão dos especialistas financeiros. As pessoas podem ter o direito de se dar determinados “luxos” ou enxergar algumas compras como um investimento.
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No entanto, esse comportamento se torna um problema a partir do momento que o consumidor não impõe um limite para esses gastos não essenciais e ultrapassa a capacidade de compra do seu orçamento.
Para se blindar, Aline Soaper, educadora financeira e idealizadora do Instituto Soaper, plataforma de ensino de educação financeira, recomenda analisar as despesas para conseguir visualizar o padrão de consumo que a sua renda permite.
“Se uma família tem uma renda mensal de R$ 5 mil, essa família não pode gastar todo esse dinheiro. É necessário destinar pelo menos R$ 1 mil para investimentos ou para a reserva de emergência”, sugere Soaper.
O restante do salário deve ser administrado para os gastos essenciais, como alimentação e moradia, e para a compra de itens não essenciais, como roupas ou lazer. “Ter um orçamento bem feito, fazendo o controle de gastos semanal e sabendo das suas metas de vida, evita que você compre além do que pode”, afirma a especialista.
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Nessa divisão, Fernando Bueno, especialista em investimentos da Ágora, sugere alguns percentuais que podem ajudar na hora de montar seu planejamento pessoal. De acordo com ele, as pessoas devem destinar 50% da sua renda para os gastos de sobrevivência, como aluguel, alimentação entre outras despesas. Outros 30% para gastos com lazer, como uma viagem, ou outros custos variáveis, considerados não essenciais. O restante deve ser aplicado para os investimentos.
“Não é necessário abdicar de tudo e viver com um monge, por exemplo. Mas é importante que as pessoas respeitem o seu planejamento financeiro e se divirtam dentro daquele limite orçamentário”, aconselha Bueno.