- Os métodos de investimento precisam considerar o perfil de cada investidor, os objetivos e o propósito de vida. Quanto mais alinhados esses fatores estiverem, menos sofrimento e mais facilidade em tomar decisões o investidor terá
- Com algumas medidas simples, é possível lidar bem com as emoções e torná-las aliadas nos investimentos. Confira três dicas que podem ajudar no mundo financeiro
Filmes mostram investidores como pessoas racionais, sensatas, sob pleno autocontrole. Porém, no mundo real, a dinâmica pode ser bem diferente. A tomada de decisão no mundo financeiro passa por aspectos psicológicos que colocam em xeque a racionalidade.
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Mas como exatamente a dimensão subjetiva participa do mundo dos investimentos? Afinal, o que acontece com a mente quando se ganha ou se perde dinheiro? O E-Investidor conversou com especialistas para entender mais da psicologia do investimento, ou psicologia financeira. Confira!
Como as emoções impactam os investimentos?
Ver uma ação da carteira de investimentos despencar é algo que preocupa e exige uma decisão. Mas é curioso como cada investidor, mesmo com perfil e estratégia semelhantes a outros players, pode tomar medidas muito diferentes diante do mesmo fenômeno. Isso ocorre porque cada pessoa é afetada de maneira muito individual.
A depender da história de aprendizagem, dos valores pessoais e do momento de vida pelo qual se passa, a tomada de decisão sofre alterações significativas. Para a professora Dhayana Veiga Bender, do curso de Psicologia da Universidade Positivo, não são as alterações do mercado em si que produzem instabilidade no investidor.
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Existem horizontes dramáticos em que algumas pessoas se desesperam e tomam más decisões e outras não. O x da questão está no modo de lidar com elas.
“Isso muda a depender da história comportamental anterior, do momento de vida em que se encontra e do significado que cada variação pode exercer no universo de investimentos daquele investidor”, comenta a especialista.
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A professora dá um exemplo: se a família do investidor está passando por um período de dificuldade financeira, a redução do valor de um ativo pode ser compreendida como uma ameaça à manutenção da segurança familiar, gerando ansiedade e frustração.
Por outro lado, a valorização abrupta de um ativo pode produzir emoções totalmente diferentes, tais como sensação de alívio, relaxamento e alegria.
Histórico familiar
O médico e psicólogo Roberto Debski também acredita que o histórico pessoal transforma o modo de perceber os fenômenos do mercado. Os ciclos de alta e de queda desencadeiam sentimentos como medo e euforia, que têm raízes em outras etapas da vida. “A maneira como lidamos com o dinheiro tem muito a ver com as dinâmicas que vivemos nas famílias de origem. Assistimos a nossos pais lidarem com o dinheiro de que maneira? Brigavam sempre, era um fator estressante, tinham medo da escassez?”, questiona.
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Os impactos das emoções não abalam apenas os investimentos pessoais, mas influenciam também o próprio mercado. Segundo a contadora Mylena Pontes, especialista em Normas Internacionais e Nova Economia, uma parte importante da dinâmica financeira deriva do estado emocional dos players.
“Quando o sentimento do mercado é de alta expectativa, há uma elevação nos preços. Nesse processo, a demanda por uma ação específica cresce, gerando queda na oferta. Essa maior procura pode criar um ambiente ainda mais favorável e gerar uma alta de preços ainda maior”, comenta ela.
Um exemplo disso ocorre no chamado efeito manada, que leva os indivíduos a repetirem as mesmas ações das pessoas ao redor. É bastante comum que, por conta de movimentos de especulação, o preço de uma ação dispare em um único dia, mesmo sem outros critérios que expliquem a dinâmica.
3 dicas para lidar com as emoções ao investir
Saber ler os fenômenos e se posicionar adequadamente é um diferencial para conseguir acertar nas decisões. Por isso, os especialistas dão algumas dicas para não se deixar levar por questões que paralisam, como o medo.
1. Conheça o mercado
Não existe um investidor que esteja acima das emoções, mas fortalecer o lado racional é um bom caminho para não ficar refém delas. Afinal, quanto mais repertório ligado a finanças tiver, mais espaço para tomar decisão você terá.
“Tenho conhecimento suficiente do tipo de investimento que pretendo fazer e do funcionamento do mercado? Conheço prazos e riscos envolvidos? Conheço e converso com investidores bem-sucedidos nos investimentos que almejo?”, questiona Bender.
2. Desenvolva autoconhecimento
Conhecer mais de si é tão importante quanto entender o mercado. Afinal, todo o manejo no mundo dos investimentos é baseado em tomar a melhor decisão possível, e isso passa pela capacidade de leitura. Mente sã, finanças sãs.
Isso pode vir de experiências de terapia, para elaborar melhor a própria história e ter mais liberdade diante das circunstâncias particulares, ou de outros modos de autoconhecimento. O mindfulness é um exemplo de atividade capaz de tirar o foco das demandas imediatas e ensinar a se observar sob outro ponto de vista.
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Debski aponta que todas as pessoas podem ressignificar seus traumas com ajuda profissional. Aprender a ser mais tranquilo diante de fatores estressantes ajuda em todos os aspectos da vida, incluindo as finanças pessoais. E essas habilidades podem ser desenvolvidas a qualquer tempo, segundo o psicólogo.
A disposição em se colocar em questão tem consequências práticas no mundo financeiro. Um exemplo da importância de se autoconhecer é definir qual perfil de investidor mais atende a seus objetivos. Entre uma atuação mais arrojada ou mais conservadora, não existe certo ou errado, a ideia é entender o que combina com suas intenções.
“Cada um de nós deve buscar a coerência entre nossos objetivos financeiros e as decisões que objetivamente nos aproximam de nossos valores pessoais e propósitos. Qualquer decisão que nos distancie dessa coerência impõe algum grau de desconforto ou até de sofrimento”, diz Bender.
Bender, da Universidade Positivo, diz ser importante estruturar a organização pessoal de modo a maximizar a coerência das escolhas. Os objetivos financeiros precisam dialogar com os valores individuais e as necessidades da pessoa e da família.
3. Conheça seus desafios
Planejamento nunca é demais. Antecipar-se aos principais desafios pode fazer toda a diferença em um ambiente que exige adaptação rápida a novos cenários.
Assim, é importante saber quais são as habilidades mais importantes para seu tipo de investimento. Pontes observa que, para quem opta por buy and hold (estratégia de negociação de longo prazo), é fundamental ter capacidade de análise das ações e das empresas, além de uma boa dose de paciência e disciplina. A nitidez do que o trajeto demandará de você ajuda a ter tranquilidade para o momento de tomar uma decisão.
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Debski lembra, por fim, que os investimentos devem ser encarados com serenidade. Mais que pensar em metas financeiras pontuais, deve-se estar preparado para encarar momentos de tensão. “Resiliência para lidar com revezes e saber se adaptar a situações imprevistas são qualidades fundamentais”, conclui.