Comportamento

Psicologia financeira: como as emoções influenciam os investimentos?

É preciso reconhecer os sentimentos e aprender a lidar com eles

Psicologia financeira: como as emoções influenciam os investimentos?
A saúde mental impacta significativamente os investimentos. (Fonte: Shutterstock)
  • Os métodos de investimento precisam considerar o perfil de cada investidor, os objetivos e o propósito de vida. Quanto mais alinhados esses fatores estiverem, menos sofrimento e mais facilidade em tomar decisões o investidor terá
  • Com algumas medidas simples, é possível lidar bem com as emoções e torná-las aliadas nos investimentos. Confira três dicas que podem ajudar no mundo financeiro

Filmes mostram investidores como pessoas racionais, sensatas, sob pleno autocontrole. Porém, no mundo real, a dinâmica pode ser bem diferente. A tomada de decisão no mundo financeiro passa por aspectos psicológicos que colocam em xeque a racionalidade.

Mas como exatamente a dimensão subjetiva participa do mundo dos investimentos? Afinal, o que acontece com a mente quando se ganha ou se perde dinheiro? O E-Investidor conversou com especialistas para entender mais da psicologia do investimento, ou psicologia financeira. Confira!

Como as emoções impactam os investimentos?

Investir pode expor o investidor a situações que exigem maturidade e autoconhecimento
Investir pode expor o investidor a situações que exigem maturidade e autoconhecimento. (Fonte: Shutterstock)

Ver uma ação da carteira de investimentos despencar é algo que preocupa e exige uma decisão. Mas é curioso como cada investidor, mesmo com perfil e estratégia semelhantes a outros players, pode tomar medidas muito diferentes diante do mesmo fenômeno. Isso ocorre porque cada pessoa é afetada de maneira muito individual.

A depender da história de aprendizagem, dos valores pessoais e do momento de vida pelo qual se passa, a tomada de decisão sofre alterações significativas. Para a professora Dhayana Veiga Bender, do curso de Psicologia da Universidade Positivo, não são as alterações do mercado em si que produzem instabilidade no investidor.

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Existem horizontes dramáticos em que algumas pessoas se desesperam e tomam más decisões e outras não. O x da questão está no modo de lidar com elas.

“Isso muda a depender da história comportamental anterior, do momento de vida em que se encontra e do significado que cada variação pode exercer no universo de investimentos daquele investidor”, comenta a especialista.

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A professora dá um exemplo: se a família do investidor está passando por um período de dificuldade financeira, a redução do valor de um ativo pode ser compreendida como uma ameaça à manutenção da segurança familiar, gerando ansiedade e frustração.

Por outro lado, a valorização abrupta de um ativo pode produzir emoções totalmente diferentes, tais como sensação de alívio, relaxamento e alegria.

Histórico familiar

O médico e psicólogo Roberto Debski também acredita que o histórico pessoal transforma o modo de perceber os fenômenos do mercado. Os ciclos de alta e de queda desencadeiam sentimentos como medo e euforia, que têm raízes em outras etapas da vida. “A maneira como lidamos com o dinheiro tem muito a ver com as dinâmicas que vivemos nas famílias de origem. Assistimos a nossos pais lidarem com o dinheiro de que maneira? Brigavam sempre, era um fator estressante, tinham medo da escassez?”, questiona.

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Os impactos das emoções não abalam apenas os investimentos pessoais, mas influenciam também o próprio mercado. Segundo a contadora Mylena Pontes, especialista em Normas Internacionais e Nova Economia, uma parte importante da dinâmica financeira deriva do estado emocional dos players.

“Quando o sentimento do mercado é de alta expectativa, há uma elevação nos preços. Nesse processo, a demanda por uma ação específica cresce, gerando queda na oferta. Essa maior procura pode criar um ambiente ainda mais favorável e gerar uma alta de preços ainda maior”, comenta ela.

Um exemplo disso ocorre no chamado efeito manada, que leva os indivíduos a repetirem as mesmas ações das pessoas ao redor. É bastante comum que, por conta de movimentos de especulação, o preço de uma ação dispare em um único dia, mesmo sem outros critérios que expliquem a dinâmica.

3 dicas para lidar com as emoções ao investir

Contar com apoio profissional pode ser fundamental para não comprometer os investimentos com problemas de ordem psicológica
Contar com apoio profissional pode ser fundamental para não comprometer os investimentos com problemas de ordem psicológica. (Fonte: Shutterstock)

Saber ler os fenômenos e se posicionar adequadamente é um diferencial para conseguir acertar nas decisões. Por isso, os especialistas dão algumas dicas para não se deixar levar por questões que paralisam, como o medo.

1. Conheça o mercado

Não existe um investidor que esteja acima das emoções, mas fortalecer o lado racional é um bom caminho para não ficar refém delas. Afinal, quanto mais repertório ligado a finanças tiver, mais espaço para tomar decisão você terá.

“Tenho conhecimento suficiente do tipo de investimento que pretendo fazer e do funcionamento do mercado? Conheço prazos e riscos envolvidos? Conheço e converso com investidores bem-sucedidos nos investimentos que almejo?”, questiona Bender.

2. Desenvolva autoconhecimento

Conhecer mais de si é tão importante quanto entender o mercado. Afinal, todo o manejo no mundo dos investimentos é baseado em tomar a melhor decisão possível, e isso passa pela capacidade de leitura. Mente sã, finanças sãs.

Isso pode vir de experiências de terapia, para elaborar melhor a própria história e ter mais liberdade diante das circunstâncias particulares, ou de outros modos de autoconhecimento. O mindfulness é um exemplo de atividade capaz de tirar o foco das demandas imediatas e ensinar a se observar sob outro ponto de vista.

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Debski aponta que todas as pessoas podem ressignificar seus traumas com ajuda profissional. Aprender a ser mais tranquilo diante de fatores estressantes ajuda em todos os aspectos da vida, incluindo as finanças pessoais. E essas habilidades podem ser desenvolvidas a qualquer tempo, segundo o psicólogo.

A disposição em se colocar em questão tem consequências práticas no mundo financeiro. Um exemplo da importância de se autoconhecer é definir qual perfil de investidor mais atende a seus objetivos. Entre uma atuação mais arrojada ou mais conservadora, não existe certo ou errado, a ideia é entender o que combina com suas intenções.

“Cada um de nós deve buscar a coerência entre nossos objetivos financeiros e as decisões que objetivamente nos aproximam de nossos valores pessoais e propósitos. Qualquer decisão que nos distancie dessa coerência impõe algum grau de desconforto ou até de sofrimento”, diz Bender.

Bender, da Universidade Positivo, diz ser importante estruturar a organização pessoal de modo a maximizar a coerência das escolhas. Os objetivos financeiros precisam dialogar com os valores individuais e as necessidades da pessoa e da família.

3. Conheça seus desafios

Planejamento nunca é demais. Antecipar-se aos principais desafios pode fazer toda a diferença em um ambiente que exige adaptação rápida a novos cenários.

Assim, é importante saber quais são as habilidades mais importantes para seu tipo de investimento. Pontes observa que, para quem opta por buy and hold (estratégia de negociação de longo prazo), é fundamental ter capacidade de análise das ações e das empresas, além de uma boa dose de paciência e disciplina. A nitidez do que o trajeto demandará de você ajuda a ter tranquilidade para o momento de tomar uma decisão.

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Debski lembra, por fim, que os investimentos devem ser encarados com serenidade. Mais que pensar em metas financeiras pontuais, deve-se estar preparado para encarar momentos de tensão. “Resiliência para lidar com revezes e saber se adaptar a situações imprevistas são qualidades fundamentais”, conclui.

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