Criptomoedas

Não existe inverno cripto nesta “praia do bitcoin”

Frequentadores do bar de bitcoin em Portugal esperam que o país se torne o Vale do Silício da criptomoeda

Não existe inverno cripto nesta “praia do bitcoin”
Apesar das perdas, frequentadores do bar de bitcoin em Portugal ainda apostam fortemente nas criptomoedas | (Foto: Envato)
  • O bar de bitcoin Bam Bam Beach, que fica em uma praia deserta no sudoeste de Portugal, é um ponto de encontro
  • Toda sexta-feira, mais ou menos 20 visitantes da Europa e de outros países se reúnem no Bam Bam para compartilhar sua fé inabalável nas moedas digitais

LAGOS, Portugal – O bar de bitcoin Bam Bam Beach, que fica em uma praia deserta no sudoeste de Portugal, é um ponto de encontro.

Para chegar lá, você passa por um porto de barcos, hotéis à beira-mar e edifícios residenciais, depois estaciona perto de um restaurante de frutos do mar sem muita movimentação e caminha por uma trilha de pedaços de madeira que corta caminho por uma duna de areia. As bandeiras amarelas com símbolo de bitcoin balançam com o vento. As conversas ali giram em torno das criptomoedas e de um fluxo futuro descentralizado.

“As pessoas sempre ficam em dúvida sobre quando comprar e quando vender”, disse Didi Taihuttu, investidor holandês que se mudou para a cidade recentemente e é um dos proprietários do Bam Bam. “Nós resolvemos isso apostando todas as fichas.”

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Sentada na areia ali por perto, a cliente do bar, Katherin Bestandig, disse: “Tudo é possível se você for corajoso”.

O bar e a comunidade de cerca de 150 apoiadores de criptomoedas nas proximidades da cidade de Lagos são uma bolha de otimismo em meio ao que se tornou conhecido como o “inverno das criptomoedas”.

Nos últimos tempos, criptomoedas como o bitcoin e o ether despencaram, e empresas do setor, como a plataforma para empréstimos de criptomoedas Celsius Network, declararam falência, já que os temores em relação à economia global derrubaram os valores dos ativos de risco. Milhares de investidores foram prejudicados pelo crash. O preço do bitcoin, que atingiu um pico de mais de US$ 68 mil no ano passado, permanece em baixa de mais de 70%.

Mas neste lugar paradisíaco à beira-mar de Portugal, a confiança nas criptomoedas segue forte. Toda sexta-feira, mais ou menos 20 visitantes da Europa e de outros países se reúnem no Bam Bam para compartilhar sua fé inabalável nas moedas digitais. A oscilação dos ativos e o entusiasmo em relação a eles continua em Portugal e em outros polos de criptomoedas ao redor do mundo, como Porto Rico e Chipre.

“Nós não vendemos o que tínhamos”, disse Paulo Estevão, trader de criptomoedas, durante o almoço em um restaurante na cidade litorânea portuguesa de Ericeira, onde ele se reúne semanalmente com outros três amigos que investem em criptomoedas. Ele disse que suas participações em criptomoedas caíram cerca de 80% em relação ao pico, mas deixou claro: “Estou investindo mais”.

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Na Europa, Portugal tem se destacado como um dos maiores polos para investidores e entusiastas das criptomoedas. Muitos defensores das criptomoedas foram para o país porque o governo português não cobra impostos pelos lucros obtidos com as moedas virtuais, ao contrário da Itália e da França.

O clima ameno, o custo de vida baixo e a facilidade para conseguir um visto de residência no país também ajudam. A Vanguard Properties, uma empresa do setor imobiliário em Portugal, disse ter vendido pelo menos dez casas de luxo para “famílias de criptomoedas” desde o ano passado. (As vendas foram comunicadas anteriormente pelo site Sifted.eu.)

Em cidades litorâneas como Ericeira e Lagos, lojas e restaurantes corroboram a aprovação das moedas digitais aceitando bitcoin como forma de pagamento. Lisboa tornou-se um polo para startups relacionadas às criptomoedas, como a Utrust, plataforma de pagamento com os ativos digitais, e a Immunefi, empresa que identifica vulnerabilidades de segurança em redes descentralizadas.

“Portugal deve ser o Vale do Silício do bitcoin”, disse Taihuttu. “Tem tudo para ser.”

No entanto, o governo português talvez crie entraves para o status do país como um polo das criptomoedas. Em maio, Fernando Medina, ministro das Finanças, disse que o governo estava considerando cobrar impostos sobre os lucros com criptomoedas como renda regular e “pretende legislar em relação ao tema”. Uma decisão pode surgir no próximo mês, quando Portugal divulgar o seu orçamento anual.

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O ministério das Finanças recusou-se a comentar seus planos.

Por ora, Portugal continua popular entre os traders otimistas e iniciantes que estão tentando usar seus investimentos em criptomoedas para viajar e viver sem um emprego tradicional. Lançando mão dos lucros quando os valores das moedas digitais dispararam ao longo dos últimos anos, este grupo fez de Portugal uma base.

Muitos em Lagos, inspirados por Taihuttu, 44 anos, frequentam o bar Bam Bam. Em 2017, ele vendeu quase tudo que tinha na Holanda para investir em bitcoin. Na época, o preço de um único bitcoin era de aproximadamente US$ 900, hoje, cada bitcoin custa cerca de US$ 19 mil. Com a esposa e três filhas, que não recebem nenhuma educação formal desde 2017, ele viajou para 40 países, registrando cada passo nas redes sociais. Eles se autodenominavam “a família Bitcoin”.

Conforme a história de sua família saía na imprensa, os seguidores nas redes sociais de Taihuttu aumentavam, transformando-o em um influenciador e uma fonte de aconselhamento de investimentos. Uma equipe que filma documentários o acompanha há um ano e meio. Não faz muito que ele se estabeleceu em Portugal, mas rapidamente se tornou uma espécie de embaixador das criptomoedas no país.

Ele tem como objetivo transformar a Meia Praia, nome da praia onde o Bam Bam está localizado, em “praia do bitcoin”. Ele está comprando imóveis para criar uma comunidade nas redondezas para outros apoiadores das moedas digitais.

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“Você prova que é possível administrar alguma parte do mundo [com criptomoedas], mesmo que seja apenas uma”, disse Taihuttu, segurando um copo de Jack Daniel’s com Coca-Cola. Ele tem cabelo preto na altura dos ombros e vestia uma regata que deixa à mostra seu bronzeado e as tatuagens (entre elas está uma do símbolo do bitcoin no antebraço).

Katherin é um daqueles que Taihuttu atraiu para Portugal.

A alemã disse que ela e a família estavam na estrada desde 2020. Eles conseguiram ganhar bastante dinheiro investindo em ether e em outras criptomoedas nos últimos anos para arcar com as despesas das viagens, afirmou.

O valor do ether caiu cerca de 60% no ano passado, o que Katherin disse ter sido desolador. Ela cortou gastos com alimentação e hospedagem, mas continua firme com os investimentos em criptomoedas e disse que a família tinha dinheiro suficiente para seguir com o estilo de vida atual.

“Vendemos nossa casa, nossos carros, tudo que tínhamos”, disse ela. “Estamos tentando nos relacionar com outras pessoas que apoiam as criptomoedas.”

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Quase todo mundo no Bam Bam já tinha passado pela experiência de ser enganado ou perder dinheiro em incidentes como o fracasso da Mt. Gox, uma exchange virtual com sede em Tóquio que declarou falência em 2014 depois de enormes perdas inexplicáveis de bitcoin.

Se os preços das criptomoedas não se recuperarem, “muitos deles terão de voltar a trabalhar”, disse Clinton Donnelly, americano e advogado tributarista especializado em criptomoedas, a respeito de alguns dos clientes reunidos no Bam Bam.

Contudo, Donnelly e outros frequentadores do bar disseram que a fé deles nas criptomoedas permanece inabalada.

Thomas Roessler, usando uma camiseta preta com estampa de bitcoin e bebendo uma cerveja “inspirada” na moeda, disse que tinha vindo com a esposa e os dois filhos pequenos para decidir se iria se mudar da Alemanha para Portugal. Ele investiu pela primeira vez em bitcoin em 2014 e, mais recentemente, vendeu um pequeno apartamento que alugava na Alemanha para investir ainda mais nas moedas digitais.

Roessler estava preocupado com a queda nos valores das criptomoedas, mas disse que estava convencido de que o mercado se recuperaria. Mudar para Portugal poderia reduzir os gastos com impostos e dar à sua família a chance de comprar um imóvel acessível em um clima quente, disse ele. Ele tinha ido ao bar para conversar com os demais que haviam feito essa escolha.

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“Não conhecemos muitas pessoas que vivem dessa maneira”, disse Roessler. Depois, ele comprou outra rodada de bebidas e pagou por elas com bitcoin.

* Tradução de Romina Cácia

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