- Bom desempenho dá um respiro aos investidores de criptos que passaram por apuros nos últimos meses
- O patamar de US$ 23 mil no preço do BTC na visão dos entrevistados não significa que o inverno cripto acabou
- Apesar da alta do bitcoin, os entrevistados divergem sobre o que o investidor deve fazer
O bitcoin (BTC) protagonizou alta de 53,3% entre 9 de novembro de 2022, quando custava US$ 15 mil, e esta quinta-feira (26) após bater US$ 23 mil. O desempenho, há tempos não visto para a criptomoeda, dá um respiro aos investidores que passaram por maus bocados nos últimos meses.
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O BTC entrou no chamado “inverno cripto”’, quando houve a migração dos investidores de renda variável para a renda fixa por conta da alta das taxas de juros no mundo, um cenário de maior aversão a risco. A escolha por desmontar posição no ativo desencadeou uma queda de quase 38% nos últimos 365 dias – já descontado do resultado o aumento verificado nas últimas semanas.
Outro fator que também puxou o mercado de criptoativos para baixo foi a falência da FTX. A exchange entrou com pedido de recuperação judicial (RJ) em 11 de novembro e a notícia provocou um tombo no mercado cripto. Apenas o BTC caiu mais de 8% no dia, enquanto o volume de liquidações do bitcoin chegou a US$ 500 milhões, muito acima dos US$ 20 milhões de uma semana antes, apontou um levantamento do Coinglass, plataforma de dados de criptomoedas. Ou seja, a quebra da companhia trouxe uma instabilidade na confiança dos investidores, que mais uma vez optaram por vender seus ativos.
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Mas a alta desde novembro, segundo especialistas entrevistados pelo E-Investidor, foi motivada pela satisfação dos investidores com as políticas econômicas do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) no combate à inflação no país por meio de aumento das taxas básicas de juros da economia norte-americana.
De acordo com Ray Nasser, CEO da Arthur Mining, mineradora de bitcoin, “espera-se que o órgão seja mais dovish (calmo) com relação aos juros”, já que o último dado de inflação medido pelo Índice de Preços ao Consumidor (CPI) apresentou uma queda em dezembro de 2022, o que não acontecia há quatro meses. O índice de preços ao consumidor estadunidense caiu 0,1% em dezembro na comparação com novembro.
O bitcoin se valorizou com a menor aversão a risco por parte dos investidores. Desde a divulgação do CPI e, consequentemente, a expectativa de queda dos juros norte-americanos, o BTC subiu cerca de 20%.
Outro ponto que também propiciou a alta, segundo João Zecchin, sócio-fundador da gestora Fuse Capital, foi os EUA atingir teto de endividamento, o que naturalmente deprecia a moeda estadunidense. “Para cobrir a dívida, o país precisa imprimir mais moedas”, diz, ação que, segundo ele, provoca desvalorização do dólar e, automaticamente, valorização de ativos alternativos, como o bitcoin.
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Veja o desempenho da criptomoeda no último ano:
É o fim do inverno cripto?
O patamar de US$ 23 mil no preço do BTC na visão dos entrevistados não significa que o inverno cripto acabou, mas apostam que o maior impacto já passou. O CEO da Arthur Mining diz que “o mercado está a caminho de retomar a confiança”.
Marcio Kogut, fundador da Mycon, empresa especializada em consórcio digital, diz que apesar da queda mensal da inflação, ela ainda está acima da meta, que é de 2% – no acumulado de 12 meses, o CPI está em 6,5%. Ou seja, pode ser que o Fed não reduza os juros como o esperado pelo mercado e as criptomoedas sejam afetadas negativamente. Vale lembrar que quando os juros sobem, os investidores optam por migrar sua carteira da renda variável para fixa.
Bernardo Srur, diretor da Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABCripto), declara que duas ações legais podem ajudar os ativos a saírem do inverno criopto. A primeira consiste no Marco das Criptomoedas. Esse arcabouço jurídico pode “melhorar a confiança dos brasileiros no setor, gerando mais interesse pelas criptos” já que haverá um órgão regulador para regulamentar as exchanges, afirmou o especialista.
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Essa perspectiva também se mostra semelhante ao que acontece no resto do mundo. Pelo menos 27 países já desenvolvem ou de alguma forma já avançaram em regulação cripto. O que pode beneficiar o mercado como um todo, declarou Srur.
A segunda ação citada pela ABCripto é a entrada de grandes instituições financeiras no mercado de criptoativos. “Tal fato também gera uma maior confiança do mercado em relação aos ativos”, destacou Srur. Dentre alguns exemplos estão o Nubank, Banco do Brasil e Itaú.
Como o investidor deve se comportar?
Apesar da alta do bitcoin, os entrevistados divergem sobre o que o investidor deve fazer. O fundador da Mycon afirma que esse é um momento de cautela, já que a cripto consiste em “um investimento totalmente de risco e sem fundamento”. “Seu movimento é ocasionado principalmente pela oferta e demanda”, afirma. Ele sugere alocar um valor que não fará falta para o investidor caso o investimento seja perdido por conta de uma desvalorização
O CEO da Arthur Mining, por sua vez, diz: “Tem que comprar já. Se ainda não tomou posição, já era para ter tomado.” O especialista justifica que o BTC antecipa a movimentação do mercado, antes dos ativos de renda variável. “Acredito que a cripto vá se valorizar nos próximos meses”, afirma, ao justificar a previsão pela expectativa de redução nas taxas de juros pelo mundo.
O diretor da ABCripto também afirma que apesar do mercado não ser previsível todas as perspectivas do ponto de vista econômico e regulatório apontam para uma alta do bitcoin. “É importante ressaltar que é impossível cravar se haverá uma valorização na cripto”, alerta, mas diz que este pode ser um momento interessante para o investidor que acredita na alta.
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