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Quando El Salvador adotou o bitcoin como sua moeda oficial em 2021, o mundo acompanhou a mudança com certa estranheza. Na época, o Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou para os riscos à estabilidade e à integridade financeira que a criptomoeda, embora fosse a maior da indústria, poderia causar para a economia do país.
Mas a experiência de quase quatro anos transformou El Salvador em um exemplo para outros governos sobre como criar mecanismos próprios de regulação e supervisão desse instrumento financeiro.
Juan Carlos Reyes, presidente da Comissão Nacional de Ativos Digitais (CNAD) do país, explica que os bancos centrais, as comissões de valores mobiliários e as superintendências financeiras são ineficazes para criar regras apropriadas para esta indústria que, segundo ele, promete substituir o sistema financeiro tradicional.
“Se você levar esse carro elétrico a um mecânico tradicional, ele provavelmente teria um ataque do coração. Da mesma forma, os ‘mecânicos’ do sistema financeiro são especialistas em instrumentos tradicionais. Quando recebem um ativo digital, não fazem ideia do que fazer”, disse Reyes.
As falas do presidente da CNAD aconteceram nesta quarta-feira (27) durante a sua participação na Stablecoin Conference 2025, evento promovido pela Bitso, empresa de serviços financeiros baseados em criptos, na Cidade do México.
Na ocasião, Reyes falou sobre os trabalhos da comissão na qual preside e como a atuação do órgão tornou El Salvador no principal destino para companhias que buscam países com regulação clara para as criptomoedas.
“Recebemos de 10 a 15 solicitações de empresas todos os dias, vindas de várias partes do mundo”, ressalta
Apesar da alta procura, o governo possui uma taxa de rejeição de pedidos elevada. Segundo Reyes, de 100 solicitações, apenas 16 conseguem a autorização para atuar no país.
A seleção criteriosa tem um motivo: El Salvador quer apenas companhias comprometidas em fazer negócios dentro do seu territórios. Empresas classificadas pelo presidente da CNAD como “turistas”, que apenas buscam licenças para operar em outros lugares, ficam de fora desse ambiente regulatório.
“Por que isso é importante? Há muitas fraudes e se o governo não entende como funciona e abre as portas para todos, terá problemas”, alerta Reyes
Ignorar a relevância das criptomoedas ficou quase impossível para os bancos centrais e as comissões de valores mobiliários de vários países. Por isso, os governos têm se movimentado para estabelecer regras que possam criar um ambiente econômico seguro para o desenvolvimento desta indústria que, segundo dados da CoinMarketCap, soma US$ 3,92 trilhões em valor de mercado.
O avanço regulatório mais importante ocorreu em julho deste ano, quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sancionou a lei GENIUs Act. A nova legislação americana criou uma série de regras para a emissão de stablecoins, criptomoedas atreladas a moedas fiduciárias, e procedimentos para casos de insolvência (falência) desses ativos.
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A aprovação da lei foi classificada como um marco histórico para a indústria. Isso porque a decisão do governo americano legitimou a relevância desse mercado, além de viabilizar a adoção das stablecoins na economia tradicional, especialmente nas transações internacionais.
Para Reyes, os recentes movimentos de Washington são quase inevitáveis dado o potencial disruptivo que as criptomoedas podem trazer para o sistema financeiro.
“Bancos e as instituições tradicionais que não adotarem essa nova tecnologia vão deixar de existir. Essa é a verdade”, diz o presidente da CNAD de El Salvador.
Dado o aumento do interesse dos governos pelo mercado, Juan Carlos Reyes enxerga que a decisão ousada em adotar o bitcoin como moeda oficial do país colocou El Salvador em direção ao futuro do sistema financeiro.
“El Salvador aproveitou essa oportunidade em 2021. Fizemos disso uma missão nacional: nos tornar os reguladores mais eficazes e respeitados da indústria. E por isso estamos liderando”, ressalta.
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