

A guerra comercial, desencadeada pelas tarifas de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, trouxe um período amargo para as criptomoedas. Entre os dias 2 de abril até a última terça-feira (8), o bitcoin em dólar sofreu uma depreciação na ordem de 9,8%, sendo negociado a US$ 76,2 mil – o seu menor patamar desde novembro de 2024. Hoje, o cenário parece ser de alívio. A maior criptomoeda em valor de mercado sobe 5,22% no acumulado das últimas 24 horas, segundo dados da CoinMarketCap.
Já na sessão de quarta-feira (9), o bitcoin ganhou US$ 120 bilhões em valor de mercado em apenas duas horas e meia de negociação. O fôlego se deve à suspensão temporária das tarifas de importação dos EUA. Após dias de tensão global, Trump suspendeu por 90 dias as taxas recíprocas e estabeleceu uma alíquota de 10% para todos os países. A medida é válida apenas para as nações que não retaliaram as medidas da Casa Branca. Em compensação, a China sofreu com um aumento das taxas de 104% para 125% com efeito imediato.
“Em algum momento, esperançosamente em um futuro próximo, a China perceberá que os dias de exploração dos EUA e de outros países não são mais sustentáveis ou aceitáveis”, escreveu Trump nesta quarta (9), em seu perfil na rede social Truth Social. A “trégua”, contudo, não eliminou os riscos da guerra comercial para os mercados. Beto Fernandes, analista da Foxbit, avalia que a recuperação recente do bitcoin tem grandes chances de ser apenas especulativa. “O fantasma do tarifaço não só persiste, como atua ainda mais forte na segunda maior economia global”, avalia o especialista.
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Isso porque ainda há dúvidas sobre como a aplicação das taxas pode impactar na inflação americana. Nesta quinta-feira (10), dados do índice de preços ao consumidor (CPI, em inglês) dos Estados Unidos foram divulgados pelo Departamento do Trabalho, mas os números ainda não refletiram o impacto das tarifas de Trump. Em março, o índice caiu 0,1% em comparação a fevereiro, enquanto, na comparação anual, houve um avanço de 2,4%. A expectativa é de que o impacto do tarifaço de Trump deva ser sentido nos próximos meses e pode impulsionar os dados do CPI para um pico de 3,5% em 2025.
Para Jeffrey Schmid, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de Kansas City, os recentes anúncios aumentaram a incerteza econômica e coincidiram com um declínio no sentimento do consumidor. “Estou preocupado que qualquer novo aumento nos preços aumente ainda mais a expectativa de inflação”, disse Schmid.
Cinco semanas de resgates
Antes do anúncio do tarifaço de Trump, o mercado cripto já atravessava um período amargo. Durante cinco semanas consecutivas (entre 10 de fevereiro e 14 de março), os fundos de ativos digitais e demais produtos financeiros relacionados a tokens registraram resgates que totalizaram US$ 6,4 bilhões, segundo dados da CoinShares. O quadro entre os investidores mudou apenas na metade de março, quando o fluxo se inverteu e apresentou um balanço positivo entre entradas e saídas de recursos.
Os dados mais recentes dão indicações de que o apetite dos investidores por criptoativos voltou, mas com cautela. Na semana iniciada em 17 de março, os fundos cripto registram aportes de US$ 644 milhões, conforme a CoinShares, companhia de investimentos europeia especializada em ativos digitais, encerrando a sequência histórica de saques. No período seguinte, a última semana de março (dado mais recente), os saques também foram superados pelo volume injetado no mercado cripto, mas desta vez em menor intensidade, de US$ 226 milhões.
De acordo com Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos, o que estava impulsionando os resgates em criptomoedas nas semanas anteriores era o aumento da aversão a risco no mundo, na esteira das preocupações relacionadas à desaceleração econômica nos EUA e falta de perspectivas sobre o início do corte de juros por lá. “Isso afetou o apetite por ativos de risco, incluindo as criptomoedas”, afirma Patzlaff.
A nova política de tarifas de Donald Trump, presidente americano, assim como a relação conturbada com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, também inflaram essas incertezas no período – que prejudicam os ativos de maior risco, como as criptomoedas, e provocam uma busca por segurança por aqueles mais “seguros”, como títulos do tesouro americano, os Treasuries. “Com a conjunção destes fatores, os ativos de risco são os que mais se prejudicam”, afirma Marcello Cestari, especialista em fundos de criptoativos da Empiricus Gestão.
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Veja a movimentação do BTC em 2025, conforme dados levantados por Einar Rivero, sócio-fundador da Elos Ayta:
Guerra comercial ameaça novos recordes do bitcoin?
O estresse dos mercados em torno das tarifas de Trump, que aumentou a tensão dos mercados nas últimas semanas, não deve ameaçar os novos recordes do bitcoin. Os especialistas acreditam que o BTC pode chegar até US$ 200 mil ao longo de 2025. A expectativa se baseia na postura pró-cripto do novo governo que prometeu criar um ambiente favorável para as criptomoedas.
Em março, Trump assinou um decreto que determinava a criação de uma reserva estratégica de bitcoin. O estoque será formado apenas por BTCs que foram detidos pelo governo americano em processos legais. Na época, os especialistas avaliaram a política como um reconhecimento da maior economia do mundo de que o bitcoin é um investimento importante. A nova presidência da Securities and Exchange Commission (SEC) – órgão dos Estados Unidos equivalente à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) brasileira – sob os comandos de Paul Atkins, empresário com uma postura pró-cripto, também trouxe otimismo para o mercado.
A nova gestão deve simplificar a regulação em torno da indústria de cripto e viabilizar um ambiente mais favorável para os ativos digitais. “O lado regulatório está extremamente positivo porque muitos dos processos que tinham sido iniciados pela SEC contra a Coinbase e Binance, por exemplo, foram retirados”, diz Bazan. Em março, o CEO da Ripple, Brad Garlinghouse, comunicou ao mercado que a SEC desistiu do processo judicial contra a plataforma de pagamento. A declaração trouxe euforia para a criptomoeda XRP que subiu mais de 10% no dia do anúncio.
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Com esses recentes eventos, Bazan acredita que as projeções iniciais ainda se mostram factíveis. “Estamos falando de uma valorização em torno de 100%, o que acontece de forma corriqueira em ativos, como o bitcoin“, diz o especialista.
As cinco criptos para abril
Beto Fernandes, analista da Foxbit, elencou cinco criptos indicadas para abril. O bitcoin lidera a lista, pois, segundo o especialista, “ainda há fundamentos importantes que podem ajudar no desenvolvimento do preço do ativo”. “Se a perspectiva do mercado para um corte de juros em junho pelo Fed de fato acontecer, o investidor pode mais uma vez se voltar ao risco e, claro, potencializar uma subida do bitcoin”, afirma Fernandes. As outras quatro recomendadas pelo analista da Foxbit são ripple (XRP), solana (SOL), ondo finance (ONDO) e pudgy penguins (PENGU).
A XRP deve ser beneficiada pela flexibilização regulatória promovida por Trump nos EUA. A empresa por trás do projeto, a Ripple Labs, está próxima do governo americano. Além disso, no dia 19 de março, um processo de bilhões de dólares movido pela SEC – o “xerife do mercado dos EUA” com o mesmo papel por lá que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) assume no Brasil – contra a empresa foi encerrado após pagamento de multa de US$ 50 milhões.
A SOL, por sua vez, vem demonstrando um desempenho melhor do que o ethereum nas últimas semanas, seu principal concorrente. “Isso faz com que o token já seja um bom atrativo. Além disso, a bolsa de Chicago iniciou a negociação de contratos futuros de SOL. É mais um ambiente em que a Solana está ativa para o mercado tradicional. E isso pode se expandir, caso os ETFs (fundo atrelado a uma carteira de ativos negociado em Bolsa de Valores como se fosse uma ação) da criptomoeda sejam aprovados no futuro”, diz Fernandes.
A ONDO é um dos principais protocolos de DeFi (finanças descentralizadas) do mercado e, apesar do movimento de queda do mercado cripto, manteve-se nas máximas históricas. Já a PENGU é uma memecoin (criptomoeda inspirada em meme da internet) que pode atrair atenção nas próximas semanas após a gestora Canary Capital entrar com um pedido na SEC para aprovação de um ETF da cripto.
“As chances de o documento ser aprovado são bastante baixas, principalmente neste momento (Solana tem potencial maior de ter aprovação agora). Mesmo assim, isso gera um burburinho e traz atenção ao token que, para o especulador mais agressivo, pode trazer algum resultado interessante”, conclui Fernandes. O investidor de bitcoin e outros ativos digitais pode acompanhar o mercado cripto aqui.
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