- Perspectiva de alta da taxa de juros nos principais mercados globais impacta os ativos digitais
- As criptomoedas Solana (SOL) e Avalanche (AVAX) foram as que apresentaram as maiores perdas
- Por outro lado, as moedas Shibu Inu e BNB conseguiram registrar altas no acumulado de agosto
Daniel Rocha e Abel Serafim, especial para o E-Investidor – As incertezas no cenário macroeconômico voltaram a “assombrar” o mercado de criptoativos ao longo de agosto.
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Ao contrário de julho, quando o bitcoin (BTC) e o ethereum (ETH) apresentaram altas de 20% e 60%, respectivamente, os últimos 30 dias foram de perdas e de testes de novos suportes para os ativos digitais. No entanto, as moedas Shiba Inu e BNB conseguiram romper essa “onda” de pessimismo e registraram altas no acumulado do mês.
Os dados são de um levantamento realizado pelo Mercado Bitcoin (MB) a pedido do E-Investidor, que avaliou a performance das 12 maiores criptomoedas em valor de mercado durante agosto. Os resultados mostraram que Solana (SOL) e Avalanche (AVAX) foram as criptomoedas que mais sofreram durante o período, com perdas de 21,8% e 16,1%, respectivamente. O bitcoin apresentou uma desvalorização de 12,7% durante o mesmo período.
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Segundo Rony Szuster, analista de criptoativos do Mercado Bitcoin, assim como ocorre com os mercados tradicionais, a perspectiva de um ciclo de aperto monetário mais severo nos Estados Unidos e em outros países tem maltratado as criptomoedas. “Com os riscos de estagflação em alta ao redor do mundo e a reação hawkish (termo que define a adoção de política austera, com taxas de juros mais altas) das principais economias mundiais, os criptoativos ainda devem sofrer por alguns meses ou até mesmo anos, até o fim desse ciclo (de aperto monetário)”, explica Suzester.
O ethereum também registrou queda no acumulado de agosto, mas em menor intensidade em comparação ao BTC. De acordo com o levantamento do Mercado Bitcoin, a desvalorização do ETH foi de apenas 2,4%. A diferença de dez pontos porcentuais entre as duas maiores criptomoedas em valor de mercado se deve à proximidade do “The Merge” (a fusão, em tradução livre) que representa o processo de atualização da rede ethereum.
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Previsto para acontecer entre os dias 10 e 20 de setembro, a conclusão da atualização, caso seja bem sucedida, deve mudar o mecanismo de validação de blocos (que formam a blockchain e onde são registradas as informações da rede, como as transações de criptomoedas) de Proof-of-Work (prova de trabalho) para o Proof-of-Stake (prova de participação).
“Além de melhorias no quesito ambiental, são esperadas alterações no token economics do ether, pois a emissão de etheres como recompensa para os mineradores será findada. A maioria das projeções são de deflação para a moeda, o que potencialmente alavancaria seu preço nos meses após a atualização”, detalha Suzester.
Qual foi o diferencial do Shiba Inu e do BNB?
As criptomoedas Shiba Inu e BNB foram as únicas que conseguiram sobressair do cenário de baixa do mercado. No acumulado de agosto, os dois ativos digitais apresentaram altas de 3,2% e de 1,1%, respectivamente.
Para Tasso Lago, gestor de fundos privados em criptomoedas e fundador da Financial Move, não há justificativa específica para os ganhos dessas moedas. “A Shiba Inu é uma moeda sem fundamento. É uma moeda de meme. Então, a sua valorização e desvalorização ocorrem, simplesmente, por oferta e demanda. A BNB também não tem um grande motivo para essa valorização, mas eu destaco que é por aleatoriedade”, avalia Lago.
Murilo Cortina, analista de criptomoedas da Empiricus, enxerga algumas possíveis razões para as valorizações. No caso da Shiba Inu, o crescimento tem relação aos projetos recém-criados e que despertaram interesse dos investidores. “Ela (a criptomoeda) recentemente lançou a ShibaChain, uma tentativa de abraçar vários setores de cripto a partir do seu ecossistema e que teve um hype momentâneo (despertou interesse) em torno do projeto, porém sem um objetivo claro”, explica Cortina.
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Para o BNB, as razões podem estar relacionadas ao lançamento do liquid staking (mecanismo que permite os investidores realizem apostas sem perder liquidez). “Creio que os principais fatores foram a recente ponte que fizeram com a rede do ethereum, permitindo a conversão entre os ativos e também o lançamento do liquid staking de BNB a partir da Ankr, Stader e pStake”, acrescenta Cortina.
No entanto, Caio Villa, CEO da Uniera, avalia que as altas registradas pelas duas criptomoedas não são relevantes para o mercado. “Quando a gente fala de cripto, não tem como considerar altas até uns 10% e 15%, a menos se você estiver falando do bitcoin e do ethereum porque possuem valor de mercado bem maiores”, justifica Villa.
O que fazer?
As quedas podem até sinalizar um momento pessimista para o mercado de criptomoedas. No entanto, os analistas ressaltam que são nestes momentos que o investidor deve buscar oportunidades de investimento com perspectiva de retornos no longo prazo. “O racional do brasileiro tem de ser o invertido. É para comprar em momentos de queda e vender em momentos de alta”, orienta Lago aos investidores.
Por outro lado, Villa ressalta a necessidade de ter em mente o risco de novas quedas no mercado de criptomoedas nas próximas semanas diante do possível agravamento do cenário macroeconômico. “O momento ideal para os aportes é agora. No decorrer do mês de setembro, a gente espera mais quedas do mercado de criptomoedas como um todo”, alerta.