O que este conteúdo fez por você?
- Em apenas um mês, Gustavo viu os seus lucros de 1000% desaparecerem e amargou um prejuízo de 66% do aplicado inicialmente em NFT de games. Poderia ser pior, tendo em vista que hoje os ativos não valem nada
- 2022 está marcado pela aversão ao risco, e, por isso, os criptoativos estão sendo penalizados no mercado. A principal criptomoeda, o Bitcoin, perdeu 45% do seu valor no ano
- Por se tratar de uma classe de ativos em consolidação, baseada em tecnologias que ainda estão se provando e cujo maior potencial de geração de riqueza está no futuro, os criptoativos são, de fato, mais voláteis do que os tradicionais
Quando o advogado Gustavo Campos, 24, resolveu aplicar 20% do seu patrimônio em NFT de games, em setembro do ano passado, rapidamente o dinheiro se multiplicou. Investindo em tokens não fungíveis de jogos como Crypto Planes, Monster Grand Prix e BombCrypto, que recompensavam os jogadores em criptomoedas, logo ele observou o valor aplicado crescer 1000%.
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“Um amigo ficou sabendo disso. Começamos a conversar sobre e assistimos uma live de um streaming que fala sobre criptos. Na nossa cabeça ainda era apenas o início, tinha muita coisa para vir”, conta o advogado sobre a decisão de entrar no mercado de ativos digitais.
No entanto, se o movimento de alta foi acelerado, a queda foi ainda mais rápida. Em apenas um mês, Gustavo viu os seus lucros desaparecerem e amargou um prejuízo de 66% do aplicado inicialmente. Poderia ser pior, tendo em vista que hoje os ativos não valem nada.
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Em um ano marcado pela aversão ao risco, os criptoativos estão sendo muito penalizados. A principal criptomoeda, o Bitcoin, perdeu 45% do seu valor em 2022. Já o Ethereum desvalorizou em 58%. No mês de maio, apenas uma entre as 40 principais criptomoedas apresentou desempenho positivo.
“Para os jogos NFT o inverno cripto foi ainda pior. É um ativo com ainda mais risco, por ter muita fraude no meio”, lamenta o jovem.
O gestor de portfólio da Hashdex, João Marco Cunha, explica que, por se tratar de uma classe de ativos ainda em consolidação, baseada em tecnologias que estão se provando e cujo maior potencial de geração de riqueza está no futuro, os criptoativos são, de fato, mais voláteis do que os tradicionais.
Segundo Cunha, eles são sensíveis tanto a fatores externos, como choques na aversão a risco dos investidores, quanto a questões internas, como hackeamento de protocolos ou exchanges – plataformas de negociação de criptoativos. “Por conta disso, os preços dos criptoativos, via de regra, oscilam mais que dos ativos tradicionais”, afirma.
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O diretor de Investimentos da QR Asset Management, Alexandre Ludolf, entende que a história dos criptoativos – e a sua volatilidade – lembra o início do mercado de ouro na década de 70 nos Estados Unidos. Para ele, à medida que a classe de ativos se solidifica, a volatilidade deve diminuir.
Então, visando proteger o patrimônio e não ficar refém de tamanha oscilação, a grande maioria dos especialistas consultados pelo E-Investidor indica que as pessoas apliquem de 1% a 10% do seu capital nessa classe dos ativos. Para quem está começando a se expor a criptos, a indicação é que seja até menos, entre 1% a 5%.
“Você tem que investir apenas o que pode perder. Claro que os ganhos possíveis são múltiplos, mas é um mercado extremamente volátil, diz o diretor de investimentos da Uniera, Caio Villa.
Felipe Medeiros, analista de criptomoedas e sócio da Quantzed Criptos, empresa de tecnologia e educação financeira para investidores, indica que, quem já investe em outras classes de ativos, deve começar por criptomoedas como bitcoin e ethereum, enquanto estuda o restante do mercado e entende se a volatilidade está de acordo com o seu perfil de risco.
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Já para quem não investe, o ideal, segundo ele, é aportar aos poucos. “Dessa forma, irá fazer um preço médio adequado e também se adaptar à volatilidade sem grandes sustos”, diz Medeiros.
No entanto, é necessário entender que os criptoativos só são recomendados para investidores com horizonte de investimento alongados, de anos, salienta João Marco Cunha, da Hashdex.
Antes de investir, estude o ativo
O analista de marketing Fernando Bevilacqua, 23, entendeu, no final do ano passado, que investir em Crypto Planes seria uma boa ideia. No caso da criptomoeda atrelada ao game, após adquirir um token era possível disputar corridas diariamente. Dependendo do resultado, o jogador era recompensado com criptomoedas.
No entanto, demorou pouco tempo para as moedas perderem todo o seu valor. “Quando entrei a moeda valia US$ 3,50 o dólar, um mês depois já não valia nada. Vi o dinheiro derretendo. Virou pó”, conta Bevilacqua. “É quase um esquema de pirâmide. Se as pessoas param de entrar, para de ter dinheiro para rodar no jogo. O jogo precisava de ter gente entrando para ter dinheiro rodando”, lamenta.
O investimento foi feito em conjunto com o seu irmão e eles sabiam do risco envolvido, mas não imaginavam que tudo aconteceria tão rápido. Hoje, ele acredita que o jogo, no fundo, era um esquema de pirâmide.
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De acordo com Felipe Medeiros, da Quantzed Criptos, a teoria do analista de marketing está correta. Ele afirma que grande parte dos quase 20 mil criptoativos existentes são golpes, que buscam ludibriar com diferentes discursos.
“Por ainda não ser um ambiente regulado, esses golpes são facilitados e acabam atingindo o investidor, que é levado pela promessa de grandes retornos em um período curto de tempo”, diz Medeiros.
Segundo ele, na esteira do jogo Axie Infinity, várias versões genéricas do game, incluindo o da Crypto Planes, foram “febre” em 2021. Com alto retorno, logo eles inundaram o mercado, mas o tempo provou que todos eram apenas esquemas de pirâmide que enriqueceram os criadores e lesaram muitos investidores.
Por isso, os especialistas indicam que os investidores estudem as teses antes de investir. Segundo Felipe Vella, analista de renda variável da Ativa Investimentos, são as teses que vão fazer os ativos conseguirem superar o momento de aversão ao risco.
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“Alguns criptoativos vão morrer nesse inverno cripto. É agora que vamos ver quais que têm demanda real, que resolvem algum problema. Não existem apenas para as pessoas especularem e ganharem dinheiro”, avalia Vella.
Comprei criptoativos e estou no prejuízo, devo vender?
São os fundamentos citados por Vella que devem guiar o investidor que já investiu em criptoativos e, agora, amarga prejuízo.
Segundo Alexandre Ludolf, Diretor de Investimentos da QR Asset Management, para quem está precisando de liquidez e vê elevadas perdas no portfólio fica muito fácil falar que o correto é não vender e segurar para o futuro. Mas, segundo ele, é necessário se desfazer dos projetos que não possuem fundamentos sólidos a longo prazo.
João Marco Cunha, da Hashdex, acrescenta que as decisões de investimento passadas não devem interferir na carteira atual. Ou seja: independentemente de ter perdido com a queda recente o investidor deve buscar a alocação adequada ao seu perfil de risco. Isso pode significar vender, manter ou, até mesmo, comprar mais.
Mas apesar das quedas recentes os especialistas também entendem que a classe de ativos deve se recuperar do tombo. Felipe Medeiros diz que é consenso entre as maiores instituições financeiras do mundo, grandes investidores e governos que os criptoativos vieram para ficar.
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Ele afirma que, como está atrelado à tecnologia, o mercado cripto só deve se recuperar quando houver uma melhora no cenário macroeconômico, mais especificamente na inflação nos Estados Unidos. Tal situação na economia norte-americana força um aumento da curva de juros, o que é péssimo para os ativos de tecnologia.
“Entendemos a importância de passar pelos invernos com naturalidade e se posicionar para o próximo ciclo de alta. Apesar dos preços deprimidos vemos uma pujança no ecossistema, com muita coisa de qualidade sendo construída”, diz Ludolf, da QR Asset Management.