- Especialistas ouvidos pelo E-Investidor avaliam que esse movimento consiste em uma tendência, que deve ganhar mais espaço, mas que também tem um quê de especulação, uma vez que esses ativos tendem a se valorizar com o passar do tempo - e os últimos meses apontam para isso
- Quando a Bored Ape foi lançada em abril de 2021, cada token da coleção valia 0,08 ETH (por volta de US$ 248 ou R$ 1,3 mil). Considerando apenas o token BAYC #6633, que Neymar pagou 159,99 ETH, a valorização do ativo foi de 199.887,5%. No caso do BAYC #5269, pelo qual o jogador brasileiro pagou 189,69 ETH, o ganho de valor acumulado em menos de um ano foi de 237.012,5%
- Segundo a advogada do escritório Dias Carneiro, antes de investir em NFTs, é importante entender exatamente quais são as características do que está sendo adquirido e quais são os direitos concedidos
Não é de hoje que os NFTs (tokens não fungíveis, em português) têm feito sucesso, mas é cada vez maior a velocidade com que esses ativos digitais têm se popularizado internacionalmente. Em 2021, por exemplo, NFT foi eleita a palavra do ano pelo dicionário britânico Collings. Embora utilizado para diversas finalidades, é no campo da arte, sobretudo a imagética, que esse ativo digital vem caindo no gosto de celebridades.
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O jogador brasileiro Neymar Jr. foi um dos que investiu uma quantia considerável em NFTs recentemente. No caso, foram duas peças da coleção Bored Ape Yacht Club (BAYC), uma das mais populares e valiosas desse mercado. A operação, realizada na plataforma de marketplace de NFTs OpenSea, custou 349,68 ETH (Ethereum), o que equivale a US$ 1,1 milhão.
A BAYC é uma espécie de clube exclusivo, que tem outros integrantes de destaque internacional, também detentores das valiosas imagens de macacos, como o apresentador Jimmy Fallon, o cantor Justin Bieber e o rapper Eminem. De acordo com a descrição da coleção no OpenSea, o Bored Ape também funciona como um cartão de membro do Yacht Club, que “concede acesso a benefícios exclusivos para membros, o primeiro dos quais é o acesso ao The Bathroom, um quadro de grafite colaborativo”.
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Especialistas ouvidos pelo E-Investidor avaliam que esse movimento consiste em uma tendência, que deve ganhar ainda mais espaço, mas que também tem um quê de especulação, uma vez que esses ativos tendem a se valorizar com o passar do tempo – e os últimos meses apontam para isso.
“O preço desses NFT tem subido bastante porque tem essa questão da exclusividade, da demanda cada vez maior com celebridades comprando. Então acaba criando uma pressão para o preço subir”, explica Alex Buelau, CTO da fintech de criptoativos Parfin.
“Eles estavam sendo vendidos, na média, a US$ 6 mil cada um, em julho de 2021. Agora, a média está em mais ou menos US$ 300 mil. O próprio Neymar comprou dois por cerca de US$ 1 milhão. Então, como investimento, o resultado fala por si só. Foi um excelente investimento para quem comprou lá atrás”, completa Buelau.
Quando a Bored Ape foi lançada em abril de 2021, cada token da coleção valia 0,08 ETH (por volta de US$ 248 ou R$ 1,3 mil). Considerando apenas o token BAYC #6633, que Neymar pagou 159,99 ETH, a valorização do ativo foi de 199.887,5%. No caso do BAYC #5269, pelo qual o jogador brasileiro pagou 189,69 ETH, o ganho de valor acumulado em menos de um ano foi de 237.012,5%.
Marketing faz parte da popularização
Assim como uma pintura rara vai ganhando valor histórico, cultural e, claro, financeiro ao longo do tempo, espera-se que, em um mundo cada vez mais digital, o mesmo aconteça com os NFTs. Neste cenário, os famosos leilões e tecnologias se tornam as redes de tecnologia blockchain, a mesma utilizada nas criptomoedas, como o bitcoin e o ethereum.
Portanto, neste momento inicial, os desbravadores desse novo mundo das artes acreditam que, em certa medida, estão comprando os futuros Picasso, Kahlo, Monet, Dalí etc. Em relação aos valores das obras, as operações já estão se aproximando. Em maio do ano passado, o quadro intitulado “Mulher sentada junto a uma janela”, do pintor espanhol Pablo Picasso, foi vendido em um leilão da Christie’s, em Nova York, por US$ 103,4 milhões. A venda mais cara de um NFT até o momento foi uma colagem do designer gráfico Mike Winkelmann, mais conhecido como Beeple, por mais de US$ 69 milhões, em março de 2021.
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No entanto, por este mercado ainda ser incipiente e desconhecido por considerável parte da população, esse público de interessados famosos seria resultado de estratégias de marketing, avaliam fontes ouvidas pela reportagem.
“As coleções mais populares de NFTs como Crypto Punks, ou BAYC (Bored Apes Yacht Club) representam um sinal de status e de pertencimento a um grupo seleto, como se fosse o ingresso de uma festa exclusiva”, compara Alexandre Ludolf, diretor de investimentos da QR Asset Management.
O movimento de grandes celebridades como jogadores de futebol e da NBA, rappers, entre tantos outros, inclusive usando as imagens dos Tokens em suas fotos de perfil em redes sociais, deram muita visibilidade para o fenômeno das NFTs, que vai muito além de imagens, destaca Ludolf.
“Esse fenômeno global tem uma boa estratégia de marketing, com as empresas que criaram as mais celebradas coleções doando NFTs para celebridades. Mas é bem importante entender que o mundo de NFTs é muito maior do que as imagens pixeladas que fizeram tantas pessoas se interessarem por esse mercado”, frisa o diretor da QR Asset.
Entre as oportunidades que as tecnologias descentralizadas, como a blockchain, cujos contratos inteligentes viabilizam os NFTs, Ludolf exemplifica que os artistas teriam acesso a um mercado global e com comissões muito menores.
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“Galerias de artes tradicionais costumam cobrar até 50% de comissão na comercialização de artistas menos celebrados e marketplaces focados em NFTs, como OpenSea e Rarible, são uma forma dos artistas terem um alcance muito maior e pagarem menos por isso”, diz Ludolf, sinalizando que, além do mercado de imagens e memes, os NFTs já são usados como soluções nos setores de saúde, música, streaming, entre outros.
Quais os riscos e cuidados?
Marco Jardim, diretor de tecnologia blockchain da fintech cripto Investtools, compara o NFT a um certificado que garante a propriedade daquele arquivo único, como uma imagem em formato JPG, a uma pessoa.
“Você pode olhar o blockchain como um cartório digital e, dentro dele, tem certidões, inclusive de obras de arte, que você possui algum direito sobre aquilo”, afirma Jardim.
Embora a imagem do macaco possa ser copiada e estampada em camisas, tal qual acontece com pinturas famosas, como a imagem da Monalisa, apenas o detentor daquele “certificado” terá os direitos referentes ao arquivo – como o Louvre possui a propriedade do mais icônico quadro de Leonardo Da Vinci.
Vanessa Pareja Lerner, sócia do escritório Dias Carneiro Advogados, observa que os NFTs são ativos intelectuais diversos que permitem, com precisão, ter a identificação de sua origem e rastreabilidade, uma vez que estão armazenados em tecnologia blockchain (de criptomoedas). “Seria como ter um quadro, referente ao qual temos certeza quase absoluta do momento de sua criação e de toda a sua cadeia de transmissão até chegar a você”, diz Lerner.
Segundo a advogada do escritório Dias Carneiro, antes de investir em NFTs, é importante entender exatamente quais são as características do que está sendo adquirido e quais são os direitos concedidos.
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“Por exemplo, a blockchain na qual o NFT é hospedado permite a liquidez desse ativo com facilidade? Estou adquirindo uma obra original e única ou apenas uma série limitada (como uma edição colecionável de um álbum)? A NFT por meio de um contrato inteligente permite a reprodução posterior da arte ou a utilização da obra de alguma forma ou é apenas um item colecionável, como um quadro que você compra para expor, mas não tem direitos em relação à propriedade intelectual”, lista Lerner.
Esses cuidados ajudam o investidor a evitar dores de cabeça, inclusive com a parte de tributação, e aproveitar o real potencial de ganhos com esse mercado, tendo sempre em vista, claro, os riscos inerentes, como qualquer ativo especulativo.