Rafael Meyer atua como portfólio manager no segmento de wealth management da AVIN
(Foto: AVIN/arte E-Investidor)
Os investidores com patrimônio acima de R$ 10 milhões intensificaram as alocações em investimentos offshore nos últimos 12 meses. Dados da AVIN, gestora de recursos com R$ 14 bilhões sobe gestão, mostram que os clientes da casa ampliaram em 17% os aportes em direção ao mercado internacional. Entre os oito estados onde a asset atua, os investidores do Ceará foram os que apresentaram a maior alta. Por lá, os investimentos no exterior subiram 180,29% durante o período.
O movimento ocorre em meio aos esforços do governo em equilibrar as contas públicas via aumento de impostos sobre a população mais abastada do País. Em maio, a equipe econômica decidiu elevar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), de 1,1% para 3,5%, com intuito de engordar a arrecadação. A pauta, no entanto, chegou ao Congresso sem fôlego e foi derrubada por parlamentares. O mesmo aconteceu com a Medida Provisória que alterava o regime tributário de todos os investimentos, como mostramos nesta reportagem.
O projeto de lei que eleva a faixa de isenção do Imposto de Renda (IR) para R$ 5 mil foi o único que teve sucesso nos últimos 12 meses e já segue para a sanção presidencial. A nova lei criou um “imposto mínimo” de até 10% sobre lucros e dividendos que compõem os rendimentos mensais dos contribuintes de alta renda, como uma forma de compensar a perda arrecadatória.
Mas as discussões dessas pautas, segundo Rafael Meyer, portfólio manager da AVIN, aumentaram o sentimento de insegurança jurídica no País e levaram os investidores a buscar proteção dos seus portfólios no exterior. Quem não investia fora do País passou a investir e aqueles que tinham baixa exposição decidiram aumentar para 30% a fatia do patrimônio no exterior.
“Os investidores estão buscando mais proteção às essas mudanças e têm feito de forma rápida. Quando chegam no exterior, buscam construir um portfólio que viabilize uma estrutura de sucessão na gestão patrimonial”, disse Meyer ao E-Investidor.
No Brasil, a estratégia segue a mesma lógica: a busca por proteção. Apesar dos recordes recentes do Ibovespa que alcançou a maior série de dias consecutivos de alta desde 1994 neste mês, as carteiras do segmento wealth management (gestão de fortunas) têm priorizado ações de setores resilientes aos ciclos econômicos, como energia e saneamento básico. Do lado da renda fixa, os títulos prefixados ganham notoriedade diante da expectativa de queda da Selic a partir do próximo ano.
E-Investidor – Em 2025, o governo elevou a carga tributária do IOF, tentou alterar os impostos sobre aplicações financeiras e conseguiu aprovar o projeto de lei que eleva a faixa de isenção para R$ 5 mil do imposto de renda. Como essas movimentações de Brasília influenciaram nas decisões de investimento dos investidores de alta renda?
Rafaelo Meyer – Temos acompanhado uma saída de investidores em busca de diversificação internacional de forma considerável. Está muito maior do que antes. Esse movimento tem dois motivos. O primeiro é a importância da diversificação, com os investidores cada vez mais conscientes da importância de ter exposição internacional e em uma moeda forte. O segundo é pelas ações do governo que trouxeram insegurança jurídica aos investidores, especialmente quando voltam atrás nas decisões ou quando as pautas são derrubadas ou alteradas no Congresso. E no exterior, esse público se depara com uma estabilidade um pouco melhor. Por causa desses eventos, quem tinha apenas 5% de alocação no exterior decidiu elevar para 30% a sua exposição.
Então, os investidores de alta renda buscam no exterior mais proteção ao risco Brasil do que oportunidades de investimento?
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Os investidores estão buscando mais proteção às essas mudanças e têm feito de forma rápida. Quando chegam no exterior, buscam construir um portfólio que viabilize uma estrutura de sucessão na gestão patrimonial. É claro que os investidores também estão atentos às oportunidades de investimentos que oferecem boas rentabilidades, mas o objetivo preponderante tem sido a proteção às alterações regulatórios e de tributação no País.
E onde os recursos estão alocados no exterior?
Buscamos um pouco mais de risco porque o cenário no exterior é diferente a do Brasil. Os juros estão mais baixos e, no caso dos Estados Unidos, o BC americano já iniciou o corte de juros. Vemos os ativos de bolsa, como o próprio índice S&P 500, com altas muito fortes em função dos avanços tecnológicos em torno da inteligência artificial. Então, os investidores estão posicionados nessas empresas que possuem teses de investimentos ligadas à IA.
No Brasil, como tem sido a alocação dos investidores em meio à manutenção da Selic a 15% e recordes recentes do Ibovespa?
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Na renda fixa, títulos bancários e títulos de crédito corporativo de setores não-cíclicos (que costumam ser mais resilientes à trajetória da taxa de juros) são os perfis que mais buscamos na hora de investir, sejam eles pós-fixados ou atrelados à inflação. Gostamos também dos prefixados porque o BC pode cortar os juros no início do próximo ano e os investidores que estiverem com taxas mais altas devem se beneficiar com esse movimento. Na renda variável, a base das nossas carteiras permanece ancorada em setores resilientes, como energia e saneamento básico, e também em bancos, telecomunicações e companhias reconhecidas pela geração consistente de dividendos, que historicamente entregam valor robusto no longo prazo.