McCarthy e Bacceli não gostam de target – não tem por exemplo uma previsão para a cotação da moeda americana o final de período X ou Y. Mas apostam que vai seguir se desvalorizando contra divisas pelo mundo, um ciclo perene, menos intenso do que o movimento visto no primeiro semestre deste ano, mas que pode durar anos a frente.
Dos R$ 6,18 a que iniciou o ano para os atuais R$ 5,40, o dólar à vista acumula uma queda acima de 12% contra o real.
“Há quatro anos temos a visão de que o dólar estava extremamente caro, por uma somatória de razões. Tem pelo menos 15% de queda ainda para acontecer, mas, no geral, o dólar demora 10 anos para cair ou subir”, diz McCarthy. Bacceli completa: “Pode não voltar para o low, mas é um reequilíbrio global.”
Não é que os especialistas estejam pessimistas com os Estados Unidos, apenas entendem que a combinação de desaceleração da economia americana em meio a tarifas e a maior taxa de juros em décadas deve fazer o mundo superar o crescimento do país. Coisa que não acontecia há tempos e pode levar a uma diversificação das carteiras de investidores globais, que vinham sobre comprados no mercado de lá nos últimos anos.
“Não vemos um fluxo de saída dos EUA. O que esta acontecendo no curto prazo é que as pessoas, no lugar de comprar bolsa americana em dólar, estão comprando na própria moeda”, destaca McCarthy. Uma posição que também está na carteira do Itaú desde o início do ano, o S&P 500 em reais, para capturar a oscilação do índice sem a queda da moeda americana.
Desde o início de 2025, em meio ao episódio da DeepSeek, o banco voltou a recomprar “mundo”, com uma posição acima do neutro para bolsa global e mercados emergentes. Também há uma posição vendida em dólar contra as outras moedas desenvolvidas que compõem o índice DXY.
A outra mudança na carteira internacional feita neste mês tem a ver com a renda fixa americana. A alocação nos Treasuries, o título público do país, de prazo longo foi reduzida de neutra para -1. No lugar, o banco aumento de neutro para +1 a posição em crédito privado high yield.
O argumento é que em uma economia ainda resiliente e que não deve entrar em recessão, as empresas dos EUA estão saudáveis para gerar lucro e honrar o pagamento dos títulos de dívida. Na outra ponta, a oscilação na inflação de curto prazo que o tarifaço de Donald Trump pode trazer aos EUA torna mais difícil dizer quando os juros por lá vão começar a cair – ainda que o mercado esteja apostando que o início do ajuste começa já no próximo mês e com alguns cortes até o fim do ano, uma visão que o time do Itaú acha otimista. Nesse contexto, o investimento em juro longo fica mais vulneravel do que o crédito privado high yield, cujo duration é mais curto.
Brasil barato, mas ainda neutro na carteira
Apesar do viés pró risco para emergentes, a tendência de queda do dólar ainda não foi o suficiente para fazer o Itaú aumentar a exposição à Bolsa brasileira. Por aqui, falta uma variável relevante. E ela não tem nada a ver com o “trade de eleição“, uma aposta cada vez mais presente no mercado de que a possibilidade de alternância de poder nas eleições presidenciais de 2026 fará as ações brasileiras dispararem.
Para Nicholas McCarthy e Gina Baccelli, a discussão política é ruído. E a alocação na carteira precisa de fundamentos.
O que fará a Bolsa brasileira andar de forma relevante, e, assim, levará os especialistas a aumentar a parcela de bolsa brasileira na carteira é a queda da inflação e a possibilidade de cortes na taxa de juros.
Na virada do ano, o Itaú estava com o menor nível de risco local na carteira desde meados de 2016. Entre janeiro e fevereiro, recomprou as posições em ações que estavam em -2 para neutro, entendendo que o enfraquecimento global do dólar e o consequente redirecionamento do fluxo de capital estrangeiro para emergentes beneficiaria o mercado local de alguma forma. Como realmente aconteceu.
“Estamos construtivos, mas para sobrealocar realmente precisamos que a inflação de 12 meses caia abaixo de 5% para conseguir determinar quando a queda de juros vai acontecer. Esse processo, concomitante à queda global do dólar, podemos entrar em ciclo de 2 a 3 anos de alta na Bolsa”, explica McCarthy. “Apesar de estar próxima das máximas históricas, ela ainda é bem barata. O que não significa que vai andar, ainda pode demorar.”
Com o custo de oportunidade direcionando todo mundo para a renda fixa, está faltando investidor. A pessoa física está no CDI, os fundos de pensão, no IPCA+. Fundos de ações e multimercados estão com a alocação na mínima histórica.
Até os juros caírem, o mercado fica à mercê do capital estrangeiro, que em 2025 recomprou parte das posições que vendeu em 2024, mas ainda não voltou ao País de forma estrutural.
“Na realocação global, o primeiro mercado é euro. Em um segundo momento, tem diversificação para emergentes e o Brasil está lá dentro, ainda que apenas 4%. São os primeiros que vão fazer a Bolsa subir”, diz Baccelli.
A carteira de Brasil do Itaú segue concentrada na renda fixa, aguardando este momento de ampliar a alocação de risco. Até lá, a preferência é por prefixados em títulos de três anos, uma posição que subiu de neutro para +1 na carteira há poucas semanas, com viés de aumentar. O IPCA+ de longo prazo, acima de 5 anos, também tem posição +1.