E viu seu FIA subir 106,97% em 36 meses, contra 42,20% do CDI e 40,91% do Ibovespa no período.
A carteira do Rubik Bequest é pulverizada entre 25 a 30 nomes de qualidade, de empresas resilientes e com capacidade de geração de lucro. Os nomes não variam muito e podem parecer “muito chatos”, destaca Breno Falseti, gestor de investimentos e sócio da Rubik Capital, sobre a seleção de gigantes como Equatorial (EQTL3), Itaú (ITUB4), BTG Pactual (BPAC11), Suzano (SUZB3) e Klabin (KLBN11).
A preferência por ações de grandes empresas está atrelada ao fator liquidez. Como o fundo foi constituído como um veículo para os clientes de tíquete elevado, a gestão precisa ter flexibilidade caso alguém queira liquidar as posições. Da mesma forma, a estratégia de investir em papéis maiores dá conforto para corrigir a rota, se a asset mudar de opinião no meio do caminho.
Tudo isso porque o diferencial do FIA não está apenas nos nomes que escolhe, mas na forma como entrelaça e ajusta o tamanho das posições com o momento do cenário macroeconômico. Uma leitura que a Rubik gosta de fazer no “contrassenso” do mercado, a partir do entendimento de política monetária, especialidade do CIO da casa, Julio Rodrigues.
Rodrigues e Falseti trabalhavam juntos na gestão de multimercados antes de migrarem para a Rubik com a missão de estruturar um fundo de ações após a demanda de um cliente da área de wealth management da casa por gestão de um portfólio ativo de ações. A cabeça ligada ao macro acompanhou.
“O nosso tipo de cliente não precisa daquela grande valorização patrimonial. Para ele, é muito mais importante a manutenção no longo prazo, então é preciso mitigar o drawdown“, explica o gestor. “Não gostamos de teses muito consensuais, de estar em um trade em que todo mundo está operando na mesma direção. Nesse tipo de posição, a porta de saída é muito pequena e geralmente vemos movimentos muito agressivos”.
Maior cautela para o 2º semestre
O Rubik Bequest encerrou o primeiro semestre deste ano com um retorno acumulado de 22% graças a um posicionamento mais favorável a risco adotado ao final de 2024. Entre novembro e dezembro, o mercado brasileiro atingiu o auge do pessimismo em relação ao fiscal, após se decepcionar com as medidas apresentadas pelo governo federal para conter o crescimento dos gastos públicos.
A Bolsa derreteu, o dólar foi a inéditos R$ 6,28 e a curva de juros longa passou a precificar uma Selic de 17% ao ano. Enquanto investidores se desfaziam de posições, a Rubik foi às compras.
“A precificação de juros não era coerente com o quadro de inflação e balança comercial. Entendíamos que, apesar do impulso fiscal muito grande, havia uma oportunidade de assimetria muito grande”, conta o gestor. “Se a realidade fosse ruim como o mercado precificava, a piora nos ativos era marginal porque já estava todo mundo vendido; se fosse um pouco melhor, teríamos muito a ganhar.”
Fazia muito sentido comprar o prêmio de risco das ações brasileiras, que, nos cálculos da asset, estavam pagando “IPCA + 15%”. E essa foi a história do primeiro semestre na gestora: aproveitar o fechamento dos prêmios via papéis de incorporadoras, varejos e bancos, com posições montadas enquanto o mercado estava no modo pânico.
Em maio, enquanto o Ibovespa atingia os 140 mil pontos pela primeira vez na história, a asset passou a reduzir a exposição a risco. Papéis como MRV saíram da carteira.
Falseti explica que a visão ainda é construtiva com o estrutural de Brasil, mas prefere manter maior cautela com o curto prazo após a valorização já acumulada este ano por ativos domésticos. Um movimento que, segundo ele, teve muito mais a ver com o exterior do que com fundamentos locais.
“O mercado trouxe muito otimismo para a mesa muito rápido, querendo transformar uma história que era do exterior em uma história local”, destaca. Aqueles mesmos investidores que em dezembro diziam que o Brasil “acabou”, agora colocam as ações brasileiras como um dos melhores investimentos.
Nem lá, nem cá, a Rubik prefere manter o pé no chão até entender se os motivos que impulsionaram as altas recentes, seja a volta do fluxo estrangeiro, seja o início da discussão em torno das eleições de 2026, como alguns players têm apontado, serão mesmo estruturais. “Muitos investidores locais têm trazido essa tese de renovação política, mas é uma discussão prematura. Os indicadores econômicos estão piores do que estavam ano passado, no Brasil e fora.”
Falseti faz uma conta rápida. Nos atuais 140 mil pontos, para ganhar do CDI, o Ibovespa precisaria chegar a 161 mil pontos em 12 meses. Um movimento que precisaria de um otimismo adicional, coisa que a gestora não vislumbra em um ambiente macroeconômico ainda incerto. Não só no Brasil, mas nos Estados Unidos, que podem acabar contaminando investidores por aqui.
“A assimetria parece maior para uma piora no humor dos investidores locais do que para novas rodadas de otimismo”, afirma. “Hoje, o prêmio de risco das ações está mais próximo de IPCA + 5,5%. É o mesmo patamar de 2019, por exemplo, e não era uma Bolsa barata.”
A estratégia da casa tem três “camadas de proteção”, que costuma acionar em momentos de maior cautela. A primeira tem a ver com liquidez, reduzindo a exposição a papéis que a margem de retorno já caiu. Isso começou a ser feito; o caixa do fundo de ações atualmente está perto de 20% do PL total.
A outra saída é reduzir o beta da carteira – um indicador que mede a sensibilidade da alocação às oscilações de mercado. Se o Beta é superior a 1, o fundo tende a variar mais; se for inferior, a tendência é de atenuar os movimentos. Isso também já foi feito pela gestora.
A terceira camada é o que Falseti chama de “trash basket”, uma cesta de ações que a casa não gosta, mas monta posições vendidas para se proteger em momentos em que o mercado entra no modo euforia. Na Rubik, a cautela ainda não chegou a esse ponto.