- O Big Brother Brasil não garante uma virada de chave na vida dos participantes, como muitos imaginam
- As pessoas precisam ter um planejamento financeiro e um propósito ao entrar no reality show
- Caso contrário, poderá sair da casa mais vigiada do Brasil com dívidas e sem perspectivas de novos trabalhos
Participar do Big Brother Brasil (BBB), reality show de maior audiência da TV Globo, faz parte do sonho de alguns brasileiros. Uns buscam na passagem do programa a fama, enquanto outros almejam apenas uma oportunidade para mudar a sua realidade financeira.
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Independentemente do objetivo, todos esperam uma virada de chave nas suas vidas ao entrar na casa mais vigiada do Brasil. É como se a participação no programa fosse uma grande aposta individual com a perspectiva de colher bons frutos no fim dessa empreitada.
Mas assim como ocorre no mercado de capitais, a espera de retornos elevados exige disposição para lidar com riscos da mesma magnitude. No BBB, não é diferente. A superexposição durante o programa cobra dos participantes um preço – que também pode ser interpretado como um investimento. O problema é que a maioria desconhece esse cálculo.
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Foi o caso do professor de geografia Michel Nogueira, ex-participante do BBB de 2024. Antes da fama, ele dava aulas para 19 turmas das escolas públicas do Estado de Minas Gerais e tinha uma remuneração mensal média de R$ 4,5 mil. Entrou no programa sem olhar para trás já que o seu contrato de trabalho como professor havia encerrado em dezembro de 2023. Não tinha nada a perder. A participação no BBB era uma oportunidade única de garantir a aposentadoria do pai de 77 anos e oferecer uma condição financeira melhor para a família.
“Meu pai trabalha até hoje. Ele é autônomo. Também quero ter o meu cantinho (conquistar a casa própria) e poder fazer o meu casamento. Eu nunca sonhei com luxo”, disse Nogueira em entrevista ao E-Investidor. Mas ao ser eliminado pelo público no dia 5 de março com 70,33% dos votos, foi surpreendido com uma dívida de quase R$ 60 mil. A despesa era referente à remuneração da equipe de profissionais responsáveis pela administração das suas redes sociais, enquanto esteve confinado.
“Você precisa ter uma equipe que possa te assistir 24 horas por dia. A internet é muito rápida e uma pessoa não dá conta de tudo o que acontece na casa”, ressalta o ex-participante. A sorte de Michel Nogueira é que ele ganhou cerca de R$ 264 mil em prêmios. Desse total, R$ 20 mil foram em dinheiro e destinados para pagar parte do serviço de social mídia. O restante da quantia vem do carro Chevrolet Equinox 2024 que ganhou em uma das provas. A pretensão dele é vender o veículo para pagar o restante dos profissionais e poder organizar a sua vida financeira.
“Se eu tivesse saído sem os prêmios, teria ficado endividado. Eu não tinha dívidas, mas também não tinha dinheiro guardado”, ressalta Nogueira. Neste quesito, o vendedor Nizam Hayek, ex-participante da edição do BBB de 2024, teve mais sorte. A sua irmã e o cunhado são publicitários e com experiência suficiente para trabalhar a imagem dele nas redes sociais.
Mesmo assim, ele precisou vender o próprio carro, avaliado em R$ 60 mil, para criar uma reserva financeira que fosse capaz de arcar com algumas despesas financeiras até o fim do contrato comercial com a Globo – previsto para julho de 2024, mas que foi antecipado para a última quarta-feira (21).
“Eu tinha R$ 39 na minha conta antes de entrar no programa. Então, sugiro se organizar como se fosse passar três meses de férias”, orienta Hayek. Ao sair do confinamento até o fim do contrato com a Globo, todas as parcerias publicitárias são realizadas por meio do setor comercial da emissora.
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No entanto, não há garantias de que haverá contratos de publicidade à sua espera. Essa demanda vai depender da performance do participante no programa. Se conseguir conquistar o público, a tendência é que, além de ficar mais próximo do prêmio final, possa fechar patrocínio com as marcas via BBB.
“Eu fiz algumas parcerias e participei de alguns eventos por causa da Globo, mas não foram participações remuneradas”, ressaltou Hayek. Segundo os entrevistados, a Globo garante uma remuneração aos participantes até o fim do contrato. O valor foi mantido no sigilo, mas os-brothers disseram que não é o suficiente para quem pretende aproveitar a visibilidade do BBB e conseguir mudar de vida por meio das redes sociais. “Depois que você sai do programa, vai ser preciso construir um caminho para ganhar dinheiro”, complementa Nizam.
O E-Investidor entrou em contato com a Globo para entender como funciona a ajuda de custo aos participantes do Big Brother Brasil (BBB), mas até o momento não recebeu reposta. O espaço segue aberto.
Redes sociais: a nova fonte de renda
A final do Big Brother Brasil de 2024 encerrou no dia 16 de abril deste ano com o motorista de aplicativo Davi Brito, sendo o vencedor da edição. Mas desde o dia 21 de janeiro, quando Nizam foi eliminado, ele trabalha para manter a sua visibilidade em alta nas redes sociais e conseguir transformar essa audiência em uma fonte de renda. Uma das suas apostas é a produção de conteúdos adultos, mas há outros projetos em desenvolvimento que devem se tornar público nos próximos meses.
“Eu quero voltar com o meu quadro semanal de vídeos sobre os lugares que eu visitei. São mais de 62 países com mais de 140 cidades. Estamos também com um escopo de um podcast. Não posso dar spoiler, mas vai sair em breve do papel”, afirmou o ex-BBB ao E-Investidor.
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Michel Nogueira também vai na mesma linha. Ele pretende produzir conteúdos para as redes sociais que estejam mais alinhados com o seu perfil. “Eu estou produzindo alguns vídeos para o instagram sobre curiosidades de Belo Horizonte (cidade onde mora). Pretendo depois expandir para o interior de Minas Gerais e poder ir para outros lugares do Brasil”, disse Nogueira.
Nesta etapa, todos os esforços são válidos para manter e atrair novos seguidores. Mas Fernando Marchesini, professor de MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e CEO do BMNI, agência de publicidade e marketing, pontua que os ex-participantes precisam ser estratégicos para conquistar a atenção do público e poder concorrer com os outros influencers já presentes no mercado. Diante da tarefa, a sugestão é que, assim como ocorreu durante o confinamento, os ex-brothers tenham uma equipe de profissionais para auxiliá-los nesse planejamento.
“Isso é um investimento que precisa ser feito. O custo vai depender do que ele pretende fazer e a periodicidade das publicações. Quantas postagens, ele pretende fazer? Os conteúdos vão ser criados por ele ou por uma agência? Tudo isso tem um custo”, afirma Marchesini. Já para os próximos participantes, a recomendação é que já tenham esse planejamento definido, como os profissionais por trás das redes sociais e os conteúdos que serão publicados antes, durante e após o confinamento. “Quando entrar no Big Brother, a tendência é que o número de seguidores dispare”, ressalta Marchesini.
Seja empreendedor
Quando Anamara participou das duas edições do reality show nos anos de 2010 e 2013, as redes sociais não tinham o mesmo potencial de rentabilizar como hoje. Mas as suas duas passagens pelo programa a fizeram entender que o BBB não se trata de um “trampolim” capaz de te levar para fama e a fortuna em um piscar de olhos. Assim como o professor da FGV, ela recomenda aos futuros integrantes da casa que tenham em mente um propósito antes do confinamento e analisar como o programa pode lhe ajudar a alcançar os seus objetivos.
“É preciso analisar o que se espera do programa e como vai te ajudar a suprir as suas necessidades futuras. Você tem a chance de se dar muito bem, mas também pode voltar para a sua vida anterior ou ficar sem nenhuma fonte de renda”, diz Anamara. Hoje, se tivesse a oportunidade de entrar no BBB pela primeira vez, como há 14 anos, teria agido diferente após o fim do programa. Teria montado o próprio negócio mais rápido e administrado melhor o dinheiro conquistado com os trabalhos de publicidade.
“Eu pequei muito em usar esse dinheiro como “salário” e demorei a pensar em investir em algo, além dos investimentos bancários que eu mantinha”, confessa Anamara. A coragem para empreender só surgiu em 2019, seis anos após a sua segunda participação no reality show, quando montou uma clínica de estética, chamada Anita Beauty Clinic.
Como montar uma reserva financeira
As inscrições para o Big Brother Brasil (BBB) de 2025 estão abertas e, para esta edição, a participação será em dupla. A novidade não inviabiliza a organização financeira que cada pessoa deve ter antes de entrar no reality show. Com base na experiência dos participantes anteriores, Fernando Bueno, especialista de investimentos da Ágora, sugere a construção de uma reserva financeira equivalente a seis meses do seu custo de vida. E atenção: esse planejamento deve iniciar o quanto antes.
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O volume dessa “poupança” vai depender da realidade financeira de cada um. Se for equivalente a R$ 2 mil, o ideal seria juntar R$ 12 mil. Na prática, esse valor exigiria uma capacidade de poupança mensal equivalente a R$ 455,53 durante dois anos. Os aportes devem ser aplicados em investimentos com uma rentabilidade média de 0,80% ao mês.
Agora, para um período de apenas um ano de planejamento, os valores mensais sobem para R$ 956,76. “Essa reserva deve ser aplicada em ativos financeiros com a possibilidade de resgate diário, como CDBs com liquidez diária e o Tesouro Selic”, orienta Bueno.
Veja quanto você precisa de reserva financeira para entrar no BBB
Reserva de emergência | Rentabilidade mensal | Valor mensal durante 6 meses | Valor mensal durante 1 ano | Valor mensal durante 2 anos |
R$ 12 mil | 0,80% | R$ 1.960,52 | R$ 956,76 | R$ 455,53 |
R$ 15 mil | 0,80% | R$ 2.450,46 | R$ 1.195,95 | R$ 569,41 |
R$ 50 mil | 0,80% | R$ 8.162,22 | R$ 3.986,5 | R$ 1898,03 |
Fonte: Fernando Bueno, especialista em investimentos da Ágora |