O que este conteúdo fez por você?
- No primeiro semestre de 2021, chegou ao total de 3 bilhões de downloads globalmente - o primeiro app não pertencente à Meta (dona do Facebook e Instagram) a alcançar esta marca, segundo dados da SensorTower
- Tamanho sucesso pode ser explicado por alguns diferenciais. Além do entretenimento trazido pelos vídeos curtos e virais, a plataforma disponibiliza programas para recompensar em dólar os criadores de conteúdo maiores de 18 anos
- Entretanto, monetizar pode ser mais difícil do que parece. Pelo “Programa Criativo TikTok Beta”, o valor bruto em dólar pago a cada 1 mil visualizações (RPM) é de cerca de US$ 0,15
O TikTok, da empresa ByteDance, surgiu há pouco mais de sete anos mas já conseguiu um alcance recorde no mundo. No primeiro semestre de 2021, chegou ao total de 3 bilhões de downloads globalmente e se tornou o primeiro app não pertencente à Meta (dona do Facebook e do Instagram) a alcançar esta marca, segundo dados da SensorTower.
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Quase metade desses downloads – 1,3 bilhão – ocorreu somente entre janeiro de 2020 e junho de 2021, ápice da pandemia de covid-19 e período em que a popularidade da plataforma explodiu. No Brasil, eram pelo menos 82 milhões de usuários até fevereiro de 2023, de acordo com dados mais recentes do site de inteligência DataReportal.
Tamanho sucesso pode ser explicado por alguns fatores. Além do entretenimento com os vídeos curtos e virais, a plataforma disponibiliza programas para recompensar em dólar para os criadores de conteúdo maiores de 18 anos. O mais popular é o “Programa Criativo TikTok Beta”, lançado em novembro de 2022 e que remunera os usuários por visualizações nos vídeos.
Para ser elegível para a modalidade, o perfil precisa ter pelo menos 10 mil seguidores e 100 mil visualizações nos últimos 30 dias. Os vídeos também devem ser autorais e com 1 minuto ou mais de duração. O valor bruto em dólar pago a cada 1 mil visualizações (RPM) varia, mas pequenos influencers da rede afirmam ganhar em torno de US$ 0,15.
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Fazendo uma conta simples, para conseguir uma renda de R$ 1 mil por mês, esse criador de conteúdo precisaria ter pelo menos 1,4 milhão de visualizações no período.
Nem todas as visualizações são contabilizadas para o pagamento, mas apenas as “qualificadas”, quando o usuário assiste por cinco segundos ou mais. Esses rendimentos também são tributados, ou seja, o levantamento acima pode estar superestimado.
Por isso, ganhar dinheiro com a monetização do TikTok é mais difícil do que parece, até mesmo para perfis com números expressivos de seguidores e curtidas. São os casos de influenciadores como Matheus Marcolino (@lancesnaareia), Bruna Canellas (@brucanellas) e Pedro Passari (@pedropassari)
Sucesso de audiência, dificuldade na remuneração
Matheus Marcolino, analista de engenharia, é a mente por trás da página @Lancesnaareia, que publica recortes de lances de futevôlei e demais conteúdos relacionados ao esporte. O perfil dele no TikTok tem 118,7 mil seguidores e 2 milhões de curtidas, com um ritmo de publicação de pelo menos um vídeo por dia. Ele relata que, em média, são necessários de 20 a 30 minutos para cada edição, no entanto, as publicações mais complexas podem levar até 3 horas.
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Na plataforma da ByteDance, Marcolino ganha em média R$ 250 por mês com o “Programa Criativo TikTok Beta”, que funciona como uma renda extra ao criador. Ele também pretende focar mais na plataforma e acelerar na produção de conteúdos para ampliar os ganhos. Por ora, a rede que mais remunera o analista é o Instagram, por meio de ações publicitárias.
De fato, segundo Mari Lima, líder de relacionamento com a comunidade de criadores do TikTok no Brasil, ter frequência de publicação é essencial para o criador conseguir expandir o perfil. “A maneira mais eficaz de se tornar elegível para os programas de monetização é produzir conteúdo com frequência, ser autêntico e se atentar às tendências do momento", afirma Lima.
Esse conselho vale não só para pequenos perfis, mas para criadores que já alcançaram números expressivos. A conta de Bruna Canellas (@brucanellas), por exemplo, tem 281 mil seguidores e mais de 7,6 milhões de curtidas. Apesar do sucesso, ela nunca ganhou dinheiro com a plataforma, onde atua desde 2020.
O sucesso veio com encenações de histórias variadas por meio por meio da hashtag “POV”, que significa “Point of View” (ponto de vista, em português). A primeira viralização ocorreu com uma história de terror sobre duas irmãs.
Ela não parou com os conteúdos criativos até maio de 2022, quando voltou ao mercado de trabalho tradicional e precisou parar a produção para o TikTok. Como o Programa Criativo da plataforma foi lançado só em novembro daquele ano, Canellas não coseguiu monetizar o perfil. “Se tivesse esse programa na época em que eu produzia teria tirado uma grana relevante”, afirma.
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A jornalista até pretende voltar a gravar vídeos, mas não encontra tempo livre para se dedicar à criação de conteúdo - que exige muita dedicação e, principalmente, frequência.
Depois que ela desacelerou o ritmo de produção, em meados do ano passado, o engajamento automaticamente caiu. "Tem que manter um fluxo de vídeo, sim. Antes eu gravava toda semana, fazia pelo menos uns seis roteiros e postava todos os dias pelo menos um vídeo”, diz Canellas. “Sempre tinha fluxo, porque os vídeos demoram para viralizar. Quando acontece, já dava engajamento para outro que tinha acabado de sair e assim vai."
Pedro Passari, ator e criador de conteúdo (@pedropassari), possui uma experiência parecida com seu perfil, que possui 12,7 mil seguidores e 102 mil curtidas. Ele começou a produzir conteúdo em agosto do ano passado e não demorou a viralizar com os personagens interpretados por ele. O principal era de um terapeuta que respondia dúvidas de seguidores com humor. “Eu estava indo muito bem no TikTok, postava todo dia um vídeo", afirma Passari.
Entretanto, no início deste ano, ele precisou parar a produção por três meses para participar do elenco de um programa de TV. Quando voltou a produzir os conteúdos, o engajamento estava longe de ser o mesmo e ele não conseguiu monetizar a produção.
“Minha entrega dos vídeos foi lá para baixo e tudo que eu tive de rendimento com o TikTok, desde então, foi exatamente doze centavos de dólar”, afirma Passari. “Hoje eu produzo duas vezes por semana, um volume mais baixo”, diz. Apesar de não conseguir ganhar com monetização, ele vê o TikTok como uma forma de ampliar sua marca pessoal, ser reconhecido e conseguir outros trabalhos como ator.
Lives: um caminho interessante
Uma outra maneira que o TikTok disponibiliza para monetização de conteúdos são as doações feitas em lives de criadores. Os usuários podem comprar moedas dentro da plataforma e enviar “presentes virtuais” aos influencers durante a exibição das transmissões. Depois, os criadores podem trocar esses presentes, que valem centavos de dólar, por dinheiro.
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Foi nesta modalidade que o criador Guilherme Alves (@guigoakirah), com 148,6 mil seguidores e 3 milhões de curtidas encontrou um nicho. Ele trabalhava no mercado de comunicação e produzia conteúdo sobre games nas redes sociais de forma paralela. Quando foi demitido, em meados de 2021, passou a intensificar a produção.
“Percebi que as lives do TikTok tinham um alcance muito bom e passei a focar lá. Em uma das primeiras haviam mais de 1,3 mil pessoas assistindo”, afirma Alves, que toca músicas brasileiras e sons de memes no game Clone Hero. “Acho que as pessoas não esperavam ver isso, é diferente do que geralmente se faz.”
Por meio dos “presentes virtuais” enviados por seguidores em lives e pela “Live Pix”, que facilita doações em pix de seguidores ao streamer, Alves fatura, em um mês menos movimentado, 1,5 salário mínimo. Ele também já fechou publis (conteúdos publicitários) com marcas grandes, como iFood, mas afirma que tais peças são mais esporádicas.
A principal remuneração vem das lives que acontecem pelo menos cinco dias por semana, com quatro horas de duração. “Como criador de conteúdo, eu coloquei na minha cabeça que preciso estar presente em uma certa hora do dia. A ideia é que as pessoas tenham essa noção de que, quando elas abrirem o aplicativo nessa hora específica, eu vou estar lá ao vivo”, afirma Alves.
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E o “Guigo” não é o único a utilizar a estratégia de lives. Durante quatro anos, Rodrigo Fialho (@rofialho21) trabalhou de segunda a segunda em uma loja de aparelhos celulares em São Paulo. Lá, chegou à posição de gerência, mas a rotina exaustiva custou sua saúde. “O trabalho era muito estressante e tinha picos de ansiedade com frequência", relata.
Em março de 2022, ele foi demitido em meio a um corte de funcionários e essa foi a deixa para que o ex-vendedor começasse a colocar um antigo sonho em prática. Fã de jogos eletrônicos desde a infância, Fialho tinha a pretensão de se tornar um influenciador na internet que transmite ao vivo as partidas. Com o dinheiro acumulado durante os anos de trabalho na loja e parte da rescisão, comprou um Playstation 5 e os equipamentos necessários para realizar as lives de games.
O primeiro conteúdo de Fialho que viralizou foi justamente o “unboxing” do Playstation 5. Publicado em agosto de 2022, o vídeo atingiu mais de 20 mil visualizações e fez o perfil ultrapassar a marca de 1 mil seguidores.
Desde então, ele mantém uma rotina fiel de lives diárias, feitas de segunda à sexta, das 10h às 16h, e depois, das 19h às 0h. Atualmente, a conta no TikTok, possui 4,7 mil seguidores, mais de 7 mil curtidas e se tornou a principal fonte de renda – ganha o equivalente ao trabalho anterior na loja de eletrônicos. Na live em que ele mais faturou, conseguiu cerca de R$ 750. “Eu converso com as pessoas que me assistem e procuro conhecer cada um para fazer com que os seguidores se sintam em casa”, diz.
Outras formas de monetização
Outras opções de monetização são o "Creator Market Place" e o "TikTok Series". No Creator Marketplace, o criador é pago por colaborar com marcas em campanhas de publicidade. Para ser elegível à modalidade, o usuário também precisa ter pelo menos 18 anos, 1 mil seguidores, ter publicado três vídeos ou mais nos últimos 30 dias, com pelo menos 1 mil visualizações. O conteúdo também não pode ferir as políticas de conteúdo do TikTok.
Já no TikTok Series, lançado no mês passado, os criadores elegíveis podem publicar uma série de conteúdos "premium", cujo acesso é pago. Entretanto, não está disponível ainda para todos os criadores.