- O parcelamento permite a compra de bens mais caros. Ao mesmo tempo, pode ser um risco à organização financeira, se não houver atenção e planejamento.
Todo mundo já se viu na seguinte situação: de frente para o caixa e com o cartão de crédito em mãos, o atendente lança a famigerada pergunta: “Vai parcelar?”. Enquanto alguns consumidores têm uma resposta intuitiva para dar de bate-pronto, outros são confrontados com um dilema quase literário. Parcelar ou não parcelar? Eis a questão.
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São muitas as variáveis que podem levar consumidores a pagarem tudo no ato da compra ou por meio de prestações mais suaves ao longo dos meses seguintes. Preço da aquisição, dinheiro disponível, despesas em aberto, cobrança de juros, descontos à vista e tantas outras.
Antes de qualquer decisão, o consumidor precisa ter consciência de que o cartão de crédito “não é um complemento da renda”, explica Gilvan Bueno, sócio e gerente educacional da Órama Investimentos. Quer um exemplo? Um trabalhador que recebe R$ 3 mil de salário mensal não dobra sua renda se tiver R$ 3 mil de limite no cartão de crédito. Ao contrário, ela passa a dever R$ 3 mil ao banco, caso utilize todo o limite — zerando sua renda real.
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Outro ponto importante envolve o planejamento, sabendo quanto há para receber e quanto será preciso gastar até o próximo salário. Em outras palavras: ter consciência do orçamento mensal, seja ele individual ou familiar.
Posto isso, existem situações nas quais o parcelamento se torna mais vantajoso e outras em que pagar à vista traz mais benefícios. A materialidade e capacidade de cada um, como será mostrado, são os fatores determinantes.
À vista com desconto ou parcelamento sem juros?
Para quem tem o hábito de negociar condições de pagamento mais favoráveis, não é raro receber uma proposta de abatimento do valor, um desconto, caso desembolse a quantia total do produto. Segundo o planejador financeiro Marlon Glaciano: “Pagar à vista com desconto fica mais vantajoso, tendo em vista que o desconto gera mais economia.” Além disso, evita dívidas futuras.
“Um produto de renda fixa com liquidez diária, que remunera 100% do CDI, traz uma rentabilidade de 0,7% ao mês, descontado o Imposto de Renda”, explica Glaciano. Dessa forma, pechinchar um desconto à vista de 5% seria mais vantajoso do que parcelar, porque o abatimento superaria a rentabilidade citada.
O CDI mencionado pelo planejador financeiro diz respeito ao Certificado de Depósito Interbancário, título emitido por instituições financeiras, como forma de captação de recursos, com prazo de um dia útil. O CDI serve como um parâmetro para analisar investimentos no mercado.
Mas nem todo mundo pode pagar compras à vista. É comum o trabalhador não tenha dinheiro disponível no ato da compra, ainda que o gerente lhe ofereça 5%, 10% ou 15% de desconto. “Depende”, pondera Gilvan Bueno. “Se só o parcelamento sem juros cabe no bolso, ele é a melhor opção”, completa ele.
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Mesmo que o consumidor tenha a quantia integral, uma aquisição grande pode bagunçar as contas do mês. Carol Stange, educadora em finanças pessoais, ainda lembra que não é fácil se manter em posse do dinheiro. Parcelar sem juros “pode ajudar quando o orçamento está apertado e para não comprometer objetivos financeiros”, sugere ela.
Para quem se dá ao luxo de pagar à vista, outros fatores podem nortear a escolha. “Quanto é a poupança? 6,23% ao ano. Talvez o desconto à vista tenha que ser essa taxa. E o melhor número seria 13,25%, que é a Selic atual. Assim, teria a taxa da inflação mais uma rentabilidade real”, ensina Bueno. Em resumo, conhecer as taxas praticadas no mercado no momento da compra constitui um bom parâmetro de avaliação.
A prazo: riscos, vantagens e quando não aceitar
Como mencionado, o parcelamento permite a compra de bens mais caros. Ao mesmo tempo, pode se tornar um risco à organização financeira se não houver atenção e planejamento. Os três profissionais são unânimes em dizer que, ao parcelar, o consumidor precisa saber o impacto da escolha nos meses por vir.
Glaciano alerta para a “bola de neve” acarretada por compras à prazo em excesso. Ao sentir a necessidade de parcelar o pagamento de uma fatura de cartão, muitos consumidores entram para o chamado crédito rotativo e acabam esmagados por juros exorbitantes.
“No caso de parcelamento de fatura em 12 vezes, o valor pode chegar a 440% ao ano”, ilustra o planejador financeiro ao tratar do rotativo. Como uma armadilha, a inadimplência faz com que o trabalhador perca acesso a crédito no mercado e fique preso a uma dívida que cresce dia após dia. “O cartão pode dar a sensação de que você pode fazer compras infinitas”, diz Bueno.
Outro aspecto são os juros embutidos. Nesses casos, valores ditos “sem juros” já consideram a cobrança deles no preço “limpo”, apresentado ao comprador. Ainda assim, a aquisição fracionada passa a caber no bolso, levando os consumidores a optar pelo pagamento a prazo.
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Ainda há fenômenos psicológicos por trás da compra parcelada que merecem atenção: “Quem compra a prazo tem a sensação de que paga R$ 50 por algo que custa R$ 600, ainda que sejam 12 parcelas de R$ 50”, explica Bueno.
Mesmo assim, tomadas as devidas precauções e olhando por um prisma prático, Stange ressalta que comprar à prazo sem juros “pode ser um recurso útil para equilibrar gastos ao longo do tempo”. No entanto, se incidirem juros sobre a compra a prazo, a recomendação é fugir: “Parcelar com juros? Jamais”.