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- Segundo dados do IBGE, no Brasil, os trabalhadores autônomos chegaram a R$ 25,5 milhões em 2022
- Apesar de terem mais liberdade em relação aos profissionais com regime CLT, essa população precisa ter um retorno ainda maior para garantir uma estabilidade financeira
- De acordo com especialistas, esse trabalhador precisa ganhar pelo menos 40% a mais para garantir o mesmo padrão de quem tem carteira assinada
Os trabalhadores autônomos precisam ter um “jogo de cintura” a mais com as finanças pessoais em comparação aos celetistas. Embora possam ter alguns benefícios, como flexibilidade de horário de trabalho (em alguns casos), esses brasileiros precisam colocar na ponta do lápis todas as despesas, como gastos com alimentação e previdência social, que costumam já vir descontadas na folha de pagamento dos profissionais com carteira assinada.
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Ou seja, já não bastasse a ausência de previsibilidade de receita, esses profissionais possuem uma preocupação a mais: garantir uma reserva maior para situações de emergência. No Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número médio anual de trabalhadores com esse perfil chegou a 25,5 milhões em 2022, uma alta de 2,6% em comparação ao mesmo período de 2021.
E para essa população significativa no mercado brasileiro, os especialistas em finanças ressaltam a importância de um planejamento financeiro mais arrojado com a separação dos custos pessoais com as do próprio negócio, mesmo se tratando de uma atividade de pequeno porte.
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“Se não fizer isso, pode acabar misturando todas as despesas e não conseguir corrigir falhas ou imprevistos que podem surgir”, diz Marcos Corrêa, especialista da Suno Research. Assim como ocorre com as finanças pessoais, esse processo ajuda a identificar quais são as despesas que podem ser readequadas ao atual momento do negócio e, talvez o mais importante, a separar um percentual da receita para a construção de uma reserva de emergência.
“Um servidor público pode ter uma reserva correspondente a três meses do seu custo de vida. Agora, para um trabalhador por contra própria, dependendo do negócio, recomendamos um valor equivalente a 12 meses”, diz Corrêa. O problema é que essa tarefa nem sempre é palpável nos primeiros meses para quem “abriu mão” da CLT para ter o seu próprio negócio.
Foi o caso do microempresário Felipe Sampaio, de 31 anos. Em 2020, ainda nos primeiros meses da pandemia, ele e a esposa, Isabela Vasconcelos, de 30 anos, decidiram entrar no ramo da confecção de lingerie para garantir uma renda extra. O negócio ganhou espaço no mercado e a demanda por novas peças cresceu ao ponto de não ser mais possível conciliar a nova atividade com o seu antigo emprego de coordenador em uma rádio, em Fortaleza.
“Foi quando decidi montar uma loja em um shopping popular e passamos a vender muito bem”, diz Sampaio. Com o crescimento do próprio negócio, decidiram arriscar ainda mais: entraram também no segmento de acessórios em prata por oferecer um retorno mais atrativo. “A gente se organizava da seguinte forma: colocávamos todos os custos da loja, o meu antigo salário e o antigo salário da minha esposa, quando ela atendia como psicóloga, para saber quanto precisávamos vender”, conta.
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No entanto, foi apenas em 2022 que os dois conseguiram ter um faturamento capaz de destinar um porcentual para a construção de uma reserva de emergência para a loja. “Montamos a loja em dezembro em 2020, mas 2021 foi um ano apenas para pagar contas e sobreviver. Somente no ano passado conseguimos começar a juntar dinheiro para os meses ruins de venda”, explicou Sampaio.
Planejamento financeiro
O relato de Sampaio mostra que, assim como ocorre no emprego regime CLT, os profissionais que trabalham por conta própria enfrentam inúmeras barreiras para conseguir estabilidade financeira. São essas dificuldades que, para Eduardo Maróstica, professor de MBA da Fundação Getúlio Vargas (FGV), reforçam a necessidade de planejamento antes de trabalhar por conta própria.
“Como o profissional não terá FGTS, plano de saúde, décimo terceiro e férias, é preciso fazer uma projeção para que o seu negócio consiga oferecer uma renda de pelo menos 40% maior a um salário de carteira assinada para manter o mesmo padrão de vida”, afirma Maróstica.
Na prática, isso significa que uma parte do lucro do profissional autônomo deve ser destinado para, além da reserva de emergência, gastos com plano de saúde e previdência social.
Por isso, caso o trabalhador queira fazer um “paralelo” com o regime CLT, Diogo Chamun, diretor da Federação Nacional das Empresas de Serviços Contábeis (Fenacon), estima que é preciso reservar em média mensal de oito por cento do seu “salário” para simular os depósitos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) que o celetista possui. “Seria uma forma de gerar uma reserva acumulativa”, ressalta.
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Vale ressaltar que o acúmulo desses recursos deve estar associado a investimentos que garantam um retorno, pelo menos, acima da inflação e que possuem uma boa liquidez. Os investimentos nos títulos do Tesouro Direto podem ser uma alternativa porque, além de serem aplicações de baixo risco, há uma alta liquidez. Os ativos de renda fixa, como CDBs, LCIs ou LCAs, também podem servir como destino desta renda por serem investimentos com cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGV).