O que este conteúdo fez por você?
- O endividamento das famílias ficou em 66,5% em maio, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic)
- O aluguel é uma das principais despesas que pesam no bolso, e que virou motivo de negociação, principalmente por quem foi ou teme ter o salário reduzido, ou até mesmo ser demitido
- Um levantamento da consultoria Consumoteca, realizado entre os dias 4 e 12 de maio com 2 mil pessoas, mostrou que 20% perderam o emprego e 15% começaram a se endividar durante a pandemia
Apesar de todas as medidas implementadas pelo governo para dar liquidez e proteger a economia contra a crise provocada pelo coronavírus, as finanças dos brasileiros não resistiram e o nível de endividamento continua alto como reflexo da pandemia. Em maio, o número de famílias com dívidas foi de 66,5%, segundo dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
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O aluguel é apontado como uma das principais despesas fixas que pesam no bolso, e que virou motivo de negociação nos últimos meses principalmente por receio de sofrer uma demissão ou ter o salário reduzido.
Um levantamento da consultoria Consumoteca, realizado entre os dias 4 e 12 de maio com 2 mil pessoas, mostrou que 20% perderam o emprego e 15% se endividaram durante a pandemia. Diante da dificuldade para acertar as contas do mês, 26% priorizariam o pagamento do aluguel ou financiamento imobiliário.
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Mas qual a melhor forma de se chegar a um acordo? O E-investidor ouviu o especialista em negociação Breno Paquelet e a educadora financeira Carol Stange, que destacam as principais ações para quem está em débito com os locadores, ou quem prevê dificuldade para quitar a cobrança do imóvel.
Uma boa proposta requer pesquisa e preparação
O primeiro passo deve ser uma pesquisa sobre os valores praticados no mercado. Isso pode prevenir surpresas e sedimentar a criação de uma proposta viável. “Já pensou se o inquilino vai até o dono do imóvel com o objetivo de conseguir abatimentos e descobre que o valor precisa ser reajustado, de acordo com o que o mercado está praticando?”, reflete Carol.
A educadora explica que os moradores devem se informar se o valor cobrado pelo imóvel está de acordo com a cidade, o bairro, e outros imóveis com as mesmas características no próprio condomínio. “Essa pesquisa pode ser feita através dos sites de busca de imóveis ou mesmo com a ajuda de um corretor ou imobiliária.”
Paquelet reforça que inquilinos precisam refletir sobre os reais interesses e restrições para saber qual o seu poder na negociação e até onde é possível ir com a proposta. “Se não fechar um acordo com o proprietário, a pessoa está disposta a se mudar? Isso seria um problema muito grande?”, questiona.
O processo de entender a situação é importante para pensar em alternativas. Se o problema for fluxo de caixa, por exemplo, em que medida um desconto resolveria o problema? Paquelet lembra que é necessário pensar de forma ampla para se chegar a outras possibilidades de solução.
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Na inviabilidade de pagar o aluguel, por exemplo, uma opção é descontar a cobrança caução paga na abertura do contrato. “Uma outra opção para quem está com dificuldade e não tem como arcar com o aluguel agora é jogar esse valor alguns meses para a frente”, diz o especialista.
O que pode ajudar na argumentação
Carol esclarece que se o aluguel cobrado estiver em desacordo com os valores do mercado, o inquilino tem uma forte justificativa para pedir um abatimento. Outro agregador é o bom histórico de pagamentos e de cuidados com o imóvel. “Será que vale a pena para o proprietário correr o risco de colocar uma pessoa descuidada ou que apresente dificuldades maiores do que as suas no seu lugar?”, pontua a educadora.
Não há de se descartar a chance de o inquilino sugerir realizar melhorias no imóvel e abater os custos do valor do aluguel mensalmente ou por um período específico.
Caso a meta seja um desconto, é importante que esse valor esteja contextualizado por que fica mais fácil de o proprietário entender o valor, do que se apresentado isoladamente. “Se nos últimos meses eu tive uma redução da minha receita de 50%, mas venho pedir um desconto no aluguel de 30%, então 50% passa a ser uma referência. E os 30% parecem até um número menor”, compara Paquelet.
De todo modo, sejam quais forem as tratativas, a dica de Carol é que neste momento não cabe blefar. “Sugiro fortemente que o inquilino não blefe alegando que, se não houver negociação, ele sairá do imóvel. O momento pede cautela e uma mudança não planejada só atrapalharia ainda mais seu orçamento”, sublinha.
O tom e o canal da comunicação fazem diferença
A crise gerada pela pandemia tem alterado as emoções de todos. Portanto, inquilinos e proprietários precisam ter cuidado no tom de diálogo. Os especialistas reforçam a importância de se estabelecer uma comunicação com seriedade, mas de forma não agressiva.
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“Neste momento, a carga emocional está muito grande. As pessoas estão ansiosas, frustradas, preocupadas. Quando você vai de uma forma muito agressiva, em geral, a outra pessoa se fecha ou será agressiva de volta, e aí o impasse acontece rapidamente. Isso faz muita diferença”, assegura Paquelet, especialista em negociações.
Tão importante quanto o tom da mensagem, é entender qual o canal mais eficaz para a comunicação, uma vez que os encontros presenciais estão dificultados. Enquanto um e-mail ou mensagem de texto só tem a comunicação verbal, uma ligação indica o tom de voz, e uma videochamada, além destes detalhes, permite visualizar a linguagem corporal dos interlocutores.
É importante saber que cada canal pode se enquadrar melhor em um tipo de situação, principalmente pela capacidade de sincronismo. “Se você acha que vai ser uma discussão pesada, com alta carga emocional, é bom ver a reação do outro para corrigir alguma distorção imediatamente”, diz Paquelet.
Em contrapartida, há casos que menos contato e sincronicidade podem ajudar. “Se você achar que quando for colocar o seu pedido de redução do aluguel, a pessoa vai ficar te cortando e minimizando a questão, um meio com menos sincronismo, como um e-mail, aumenta as chances da pessoa ler a sua argumentação inteira, refletir sobre aquilo, e considerar o que você está pedindo”, afirma.
Vale a pena adquirir crédito para quitar o aluguel?
Carol avalia que as negociações diretas entre inquilino e proprietário são mais vantajosas para ambos os lados.
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“O empréstimo talvez seja capaz de resolver a situação de forma pontual, não dando fôlego para os meses que vêm pela frente”, diz. “Uma boa negociação, porém, pode garantir um respiro para o inquilino recuperar sua capacidade de pagamento e com um pouco mais de tranquilidade.”