Especialistas explicam o que avaliar antes de escolher uma conta global. Foto: Adobe Stock
As contas globais têm crescido e ganhadol popularidade no Brasil, ao oferecer saldo em moedas como dólar ou euro e a possibilidade de enviar recursos para o exterior. Só nesta semana, mais duas instituições anunciaram sua entrada no segmento: PicPay e Rico.
A primeira empresa anunciou uma opção integrada à conta brasileira, que será liberada gradualmente e deverá estar disponível para todos os clientes até o fim de 2025. A novidade é fruto de uma parceria com a plataforma de infraestrutura financeira AstroPay.
Já a corretora Rico anunciou uma conta de investimento global, que permite aos clientes acessarem ativos do mercado americano a partir de R$ 100. Durante o mês de novembro, a empresa realiza uma campanha promocional que isenta a taxa de spread para investimentos feitos dentro do período.
O chamado spread representa a diferença entre o valor pelo qual o banco compra a moeda e o valor pelo qual ele vende para o cliente – ou seja, a margem que a instituição ganha para realizar a operação. Quanto menor ela for, melhor para o usuário.
Além dos lançamentos recentes, dados também mostram o avanço das contas globais entre brasileiros. Em setembro, uma pesquisa encomendada pelo C6 Bank à Ipsos-Ipec indicou que 31% dos entrevistados de classe alta mantêm uma conta com saldo em moeda estrangeira. Em 2022, quando o levantamento foi realizado pela primeira vez, o percentual era de 12%.
A pesquisa ouviu, de forma online, 1 mil brasileiros a partir de 16 anos de idade das classes A e B – de um total de 4 classes – de todas as regiões do Brasil, entre os dias 16 e 23 de julho de 2025. A margem de erro foi de três pontos porcentuais.
O que avaliar antes de escolher uma conta global
Esse tipo de conta pode ter diferentes perfis. Algumas permitem investir em ativos de países diversos. Outras oferecem saldo em várias moedas, além de dólar e euro. Há ainda aquelas que contam com cartão integrado, facilitando saques e pagamentos no exterior.
Diante de tantas opções, vale comparar as alternativas oferecidas por cada instituição e entender qual será o objetivo principal da conta: diversificar moedas, investir no exterior ou facilitar transações durante viagens.
“As contas globais valem a pena quando fazem parte de uma estratégia bem planejada. Sozinhas, elas são apenas um meio operacional. O valor está em como elas são utilizadas”, afirma Flavio Castanheira Jr., CEO da SWM Multi Family Office, empresa que busca orientar os clientes desde a escolha da instituição e da jurisdição responsável pela conta, até a gestão dos recursos internacionais.
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Segundo Castanheira Jr., o investidor também pode considerar entre ter uma única conta ou mais de uma opção. Ele avalia que a diversificação entre instituições pode ser positiva para quem tem recursos relevantes, pois reduz o risco operacional e amplia o acesso a produtos exclusivos em diferentes plataformas.
Por outro lado, para os investidores que estão começando, concentrar em uma única conta bem estruturada tende a ser mais eficiente, além de facilitar o acompanhamento tributário.
A questão dos impostos, inclusive, merece uma atenção especial. O cliente deve sempre checar se a conta escolhida permite o envio de informes e documentação adequados à Receita Federal e ao Banco Central, respeitando as regras de declaração de ativos no exterior. Também vale conferir se o banco tem boa estrutura digital e suporte em português.
Valter Police, planejador financeiro da Droom Investimentos, recomenda que os investidores reúnam várias informações sobre a instituição, antes de abrir uma conta. É importante ainda entender se ela tem regulamentação para operar no Brasil e no exterior. “Se o cliente abre uma conta em uma plataforma que ninguém conhece, há o risco de o dinheiro sumir”, diz.
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O planejador orienta o cliente a entender se a conta oferece um cartão, qual o seu tipo e se ele corresponde a uma bandeira conhecida, como Visa e Mastercard.
Na hora de decidir se vale a pena ter uma conta global, o perfil do usuário deve ser o principal critério. As plataformas são especialmente vantajosas para quem viaja com frequência, realiza pagamentos em dólar ou recebe recursos do exterior.
“Para uso eventual, tudo bem viver sem. Mas, para quem tem relação contínua com moeda estrangeira, a conta global costuma compensar muito”, afirma Fabricio Tonegutti, especialista em direito tributário pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e diretor da Mix Fiscal.
Segundo ele, as contas globais democratizaram o acesso a moedas estrangeiras. “Elas ajudam a viajar melhor, economizar com câmbio, receber do exterior sem dor de cabeça e até começar a investir lá fora”.
Apesar de serem acessíveis, as contas globais não são totalmente isentas de custos. Vale avaliar o spread aplicado pela instituição e as taxas extras, já que saques fora da rede, envio para terceiros e custos com manutenção podem entrar no cálculo. O Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) também deve ser levado em consideração. Explicamos como esse tributo funciona aqui.