

A “geração prateada” está começando a ganhar os olhos do mercado. Não faltam pesquisas e novos dados sobre o potencial da população com mais de 50 anos como consumidores, força de trabalho e novos protagonistas de um Brasil que envelheceu.
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A “geração prateada” está começando a ganhar os olhos do mercado. Não faltam pesquisas e novos dados sobre o potencial da população com mais de 50 anos como consumidores, força de trabalho e novos protagonistas de um Brasil que envelheceu.
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Marcos Ferreira, fundador da Silver Hub, destaca que o envelhecimento da população vem acompanhado de mais saúde, conexão digital e representatividade, obrigando marcas e empresas a perceberem o potencial desse público. “Hoje, vários fatores fazem com que a potência da economia prateada comece a ser revelada”, destaca.
É uma discussão importante: com mais pessoas vivendo mais e o crescimento da população idosa, a aposentadoria pública tende a ser cada vez menos suficiente. Viver melhor exigirá atenção às finanças pessoais.
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Uma pesquisa recente da Maturi, em parceria com a NOZ Inteligência, mostra que 71% dos participantes não têm previdência privada, e 22,4% dos aposentados e 32,4% dos não aposentados nunca fizeram planejamento financeiro para a aposentadoria.
Não se trata de falta de vontade. A pesquisa mostra que 55% querem aumentar a renda nos próximos cinco anos, 35,2% buscam ampliar a reserva financeira ou patrimônio, e 30% planejam uma aposentadoria segura. O desafio é descobrir como fazer isso.
Mórris Litvak, fundador e CEO da Maturi, afirma que a pesquisa “Educação e Gestão Financeira na Maturidade” confirma um cenário conhecido no Brasil: a educação financeira é baixíssima. Entre os 50+, a dificuldade é ainda maior.
“Por mais que a pessoa esteja no seu auge intelectual, ela começa a enfrentar dificuldades no mercado de trabalho em função da idade. É o etarismo”, diz Litvak. “Há grandes desafios, o que traz oportunidade. Olhar para isso de uma forma sistêmica, com políticas públicas, mas as instituições financeiras também precisam ver esse público como potencial.”
O planejamento financeiro na maturidade é fundamental porque é nesse momento da vida em que a geração de renda tende a se estabilizar ou até diminuir, enquanto despesas importantes, como saúde, se tornam mais frequentes e elevadas. Isso pensando apenas no orçamento individual.
A geração prateada é em muitos casos a “geração sanduíche”, responsável tanto pelos pais idosos quanto pelos filhos, equilibrando cuidados e responsabilidades financeiras em ambas as frentes.
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Marcos Ferreira, da Silver Hub, explica que parte desse movimento tem a ver com mudanças de comportamento das gerações. Os mais novos estão se casando e saindo de casa cada vez mais tarde; os mais velhos, por sua vez, vivendo cada vez mais. “São pessoas ‘ensanduichadas’. É um desafio.”
Essa é a história de Cláudio Boense. Apesar de já ter idade e tempo de contribuição suficiente para se aposentar, ele segue na ativa como técnico de laboratório na Universidade de São Paulo (USP), porque precisa manter o nível de renda para arcar com os custos de saúde da mãe, que aos 95 anos está em um estágio avançado de alzheimer. Apesar de não ter tido filhos, ele também contribui financeiramente na formação dos sobrinhos jovens.
É o seu salário que ajuda a equilibrar todos esses pratos; e o conhecimento de finanças e investimentos que adquiriu ao longo da vida que permitem que Boense não precise abrir mão do planejamento da própria aposentadoria e maturidade.
Ele começou com investimentos na poupança há muitos anos. Aos poucos, com ajuda especializada, diversificou a carteira. Hoje, além de um plano de previdência possui imóveis que o ajudam a complementar a renda.
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“Eu tento manter um investimento para mim, para a minha velhice, e também invisto no meu lazer. Não quero só guardar dinheiro, a gente precisa pensar na perspectiva da vida que temos pela frente”, conta.
A “geração sanduíche” não acontece apenas no Brasil. O termo foi criado na década de 1980 pelas assistentes sociais Dorothy Miller e Elaine Brody. Desde lá, estudos indicam que esse é um peso que recai principalmente nas mulheres – justamente quem tem menos acesso à educação financeira no País.
Na pesquisa da Maturi com a NOZ, apenas 12,9% se consideram avançados no conhecimento de finanças, enquanto quase a metade (48,0%) afirmam ter pouco ou conhecimentos básicos. As mulheres aparecem em desvantagem: apenas 8,1% afirmam ter conhecimento avançado, contra 21,2% dos homens.
“Essa disparidade reflete trajetórias marcadas por menor renda, menos acesso à informação e pouco protagonismo nas decisões financeiras”, destaca Juliana Vanin, economista e fundadora da NOZ Inteligência.
A nova realidade financeira dos maiores de 50 anos se manifesta em diversos aspectos: vivem mais, enfrentam aposentadorias do INSS cada vez mais insuficientes e lidam com desafios como a geração sanduíche, o etarismo e o aumento do desemprego.
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Tudo isso reforça que é preciso avançar com a educação financeira no País, ajudando as pessoas a se planejarem para viver mais e também melhor. Quem tem essa possibilidade, pode contar com ajuda especializada para se organizar esta nova fase da vida, mas é possível dar os primeiros passos sozinho. O importante, segundo especialistas, é saber que não é tarde para começar.
Ainda que cada investidor tenha um perfil de risco e objetivos individuais, existe um passo a passo de organização financeira universal. Revisar o orçamento para cortar gastos não essenciais, gastar menos do que se ganha, juntar uma reserva financeira para emergências, só depois começar a investir.
É uma fórmula que continua valendo para quem tem mais de 50 anos, mas que ganha novas nuances. Gastos mais elevados com saúde e uma necessidade maior de liquidez, por exemplo.
“Nessa fase, o planejamento financeiro deixa de ser uma opção e passa a ser uma necessidade”, diz Claudio Ianface, especialista em investimentos e sócio da The Hill Capital. “O objetivo passa a ser organizar o que já foi construído e garantir estabilidade, tranquilidade e segurança para o futuro.”
O primeiro passo é revisar as contas. Gastos mensais com moradia, alimentação e saúde precisam estar no centro do orçamento. Anote todos os custos fixos de um mês, uma forma de facilitar a organizar tudo que precisa ser pago, mas também de revisar aquilo que é supérfluo.
Danilo Brito, planejador financeiro CFP pela Planejar, dá algumas dicas práticas:
Com as contas já organizadas, o passo seguinte é construir uma reserva de emergência. Trata-se daquele valor guardado exclusivamente para cobrir imprevistos, como perda de emprego, consertos domésticos ou despesas inesperadas. Ao contrário dos investimentos de longo prazo, esse dinheiro deve estar sempre disponível, com resgate imediato e sem risco de perdas.
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É uma “regra” que vale para todo tipo de investidor. Idealmente, a reserva deve ser equivalente a seis meses de despesas fixas.
“É manter uma reserva de liquidez, um dinheiro fácil de acessar em caso de emergência, sem precisar movimentar investimentos pensados para o futuro”, explica Bruna Pacheco, especialista em investimentos e sócia da GT Capital.
Como mostramos nesta outra reportagem, alguns produtos de investimento fazem mais sentido para investir esses valores. Certificados de Depósito Bancários (CDBs), que são facilmente encontrados em bancos e corretoras e que tenham liquidez diária podem ser alternativas, assim como o Tesouro Selic, um título emitido pelo governo que também pode ser resgatado no mesmo dia.
Contas em dia, reserva para emergências montada, é hora de investir. Para Pacheco, da GT Capital, a lógica deve ser construir uma carteira equilibrada entre produtos que ofereçam liquidez, estabilidade e geração de renda.
É um contexto que joga a favor de uma alocação mais conservadora – depois de 50, o investidor não pode, como na casa dos 20 anos, correr o risco das aplicações mais arriscadas. Por causa disso, a renda fixa acaba sendo o principal componente da carteira.
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“O ideal é que os aportes rendam acima da inflação no longo prazo, sem abrir mão de investimentos de maior liquidez no curto prazo, para garantir flexibilidade durante a formação do patrimônio”, orienta Danilo Brito, da Planejar.
Há ainda outros dois produtos que podem ajudar nesse momento da vida, os planos de previdência privada e os seguros de vida. Ainda que sejam para o longo prazo, não há uma idade limite para contratar um plano de previdência.
Esse tipo de investimento também oferece benefícios tributários, que facilitam a transferência de patrimônio aos herdeiros sem a necessidade de inventário. Além, claro, de serem pensados para garantir uma renda complementar.
A dica dos especialistas é se atentar bem ao tipo de plano – Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL) ou Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL) – e aos regimes de tributação de cada um. No modelo regressivo, por exemplo, a alíquota de imposto cai com o tempo e isso pode trazer benefícios fiscais interessantes. O ponto de atenção é olhar para o prazo de acumulação e os custos do plano, para não perder rentabilidade.
“Os planos VGBL costumam ser mais indicados, pois a tributação incide apenas sobre os rendimentos. A escolha da tabela de Imposto de Renda deve considerar o prazo até o resgate: a progressiva pode ser mais vantajosa no curto prazo, enquanto a regressiva tende a oferecer alíquotas menores em prazos mais longos”, explica Brito.
Quanto aos seguros de vida, os especialistas também veem o produto como um aliado importante, sobretudo para aqueles que chegam à maturidade como o principal responsável financeiro da família.
Marcos Ferreira, da Silver Hub, que atuou como executivo na indústria por décadas, diz que o seguro de vida é indicado especialmente para jovens na fase de acumulação de patrimônio, com dívidas e filhos pequenos, mas também deve ser considerado por pelos 50+.
“É um elemento de proteção essencial para não destroçar o orçamento familiar, o sonho da aposentadoria e os planos na pós-carreira, além de garantir uma reserva em caso de fatalidade”, afirma.
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