Educação Financeira

Empréstimo pessoal tem juros de até 466% ao ano; veja as simulações

Um levantamento realizado pela Proteste analisou os encargos de 14 bancos na oferta de empréstimo pessoal

Empréstimo pessoal tem juros de até 466% ao ano; veja as simulações
Segundo especialistas, a contratação de um empréstimo precisa ser muito bem planejado pelo consumidor (Foto: Envato Elements)
  • O estudo analisou a contratação de crédito pessoal em quatro cenários: empréstimos de R$ 3 mil e de R$ 6 mil, sendo pagos em 12 e 18 parcelas
  • Para avaliar o custo final pago pelo consumidor em cada banco, a pesquisa analisou o Custo Efetivo Total (CET), indicador que reúne todos os encargos presentes na operação
  • O banco Banrisul foi a instituição financeira com as melhores condições de pagamento em todos os cenários analisados

A alta nos preços de 11,73% em um ano, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), trouxe mais uma tarefa para as famílias brasileiras: ajustar as despesas básicas no orçamento em períodos de queda no poder de compra.

Para honrar com todos os gastos e até sair do endividamento, alguns consumidores recorrem ao crédito pessoal. No entanto, dependendo das condições, o empréstimo pode atrapalhar ainda mais os planos de manter as contas em dia.

Isso porque um levantamento realizado pela Associação Nacional de Consumidores, a Proteste, mostrou que a diferença nos juros cobrados pelas instituições financeiras sobre o crédito pessoal pode variar de 46% ao ano para 466% ao ano no mesmo serviço. Para chegar a esta conclusão, o estudo analisou o Custo Efetivo Total (CET) anual de 14 bancos.

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Segundo a Proteste, o indicador contém todos os encargos, tributos e despesas presentes na operação e, por isso, serve como uma importante métrica de avaliação do custo final para o consumidor ao contratar um empréstimo.

A simulação levou em consideração quatro cenários possíveis: empréstimos de R$ 3 mil e de R$ 6 mil, sendo pagos em 12 e 18 parcelas. Em todos os cenários, houve uma diferença significativa no custo final para o consumidor entre as ofertas dos bancos. O banco Banrisul é o que oferece as melhores condições em todas as simulações.

No caso do empréstimo no valor de R$ 3 mil, sendo dividido em 12 parcelas, com juros 46,85% ao ano, o consumidor iria pagar no final da contratação do crédito R$ 3.671,64. Já no Simplic, em que os juros ficam em 466% ao ano, o valor final quase duplica, chegando a R$ 6.795,24. A diferença representa uma economia de R$ 3.123.

Agora, se o pagamento for feito em 18 meses, o crédito pessoal fica mais caro quando contratado na Losango, em que o CET é de 401,83% ao ano. Com esta condição, o valor final do fornecimento chega a R$ 8.528,04, enquanto no Banrisul custo será de R$ 4.020,66.

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Na simulação do crédito de R$ 6 mil, em 12 vezes, a Portocred possui os maiores juros (409,58% ao ano), que são os responsáveis ​​por assumir o custo do crédito para R$ 13 mil, enquanto no Banrisul, o custo final chega a R$ 7.343,28. Se os R$ 6 mil fossem divididos em 18 parcelas, o consumidor iria pagar no total R$ 16.597,08 na Losango e R$ 8.041,14 no Banrisul.

Os resultados mostram a importância da pesquisa antes de contratar as condições. “Por ser uma linha de contratação rápida e pouco burocrática, é necessário atenção para não cair em ofertas pouco vantajosas para o bolso”, alerta Rodrigo Alexandre, especialista da Proteste.

Sobre as informações do levantamento realizado pela Proteste, o Itaú Unibanco informou ao E-Investidor que busca manter a melhor relação custo-benefício para os correntistas e preços competitivos no mercado.

"As taxas de juros do crédito pessoal dependem de fatores que vão além da taxa básica de juros, como por exemplo a inflação, os custos operacionais e as características de cada produto ofertado, assim como o perfil do cliente e sua capacidade de pagamento", informou o banco por meio de nota.

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As outras instituições financeiras citadas no levantamento foram consultadas pelo E-Investidor, mas até o momento não se posicionaram sobre os encargos atribuídos ao crédito pessoal.

Quando contratar o crédito pessoal?

Com a forte adesão dos aplicativos das instituições financeiras, as ofertas de crédito pessoal surgem na “palma da mão” do consumidor e podem até parecer como uma “salvação” para quem já está no aperto financeiro. Porém, é preciso ter cuidado para que o empréstimo não aumente ainda mais a sua dívida.

Por isso, Larissa Quaresma, analista e educadora financeiro da Empiricus, alerta para que a contratação seja feita de forma muito planejada para que o valor da parcela esteja compatível ao orçamento.

“O ideal é pagar o empréstimo com menos parcelas. Quanto antes a pessoa acabar pagar, menos juros a pessoa vai ter de arcar. Mas isso vai depender da capacidade de pagamento porque não adianta você contratar um empréstimo com menos parcelas se não tem condições de arcar com aquele valor”, explica.

Alexandre, da Proteste, recomenda que o valor da prestação não ultrapasse mais do que 30% do orçamento de um consumidor. “O crédito pessoal deve ser sempre o último recurso para, de fato, sair do aperto. Até porque, ninguém gosta de pagar encargos”, afirma.

E nesta busca por crédito mais barato os empréstimos consignados podem aparecer como uma alternativa mais barata porque os juros costumam ser mais baixos devido à garantia de pagamento.

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"Essa modalidade é oferecida para aposentados, pensionistas e servidores públicos, mas há empresas privadas que possuem acordos com bancos que disponibilizam essa linha de crédito para os seus funcionários. Vale checar”, acrescenta o especialista.

Oferta de crédito personalizada

O Open Finance, sistema de compartilhamento de dados, promete transformar a oferta de crédito no País. O sistema permite a troca de informações bancárias do consumidor, com o seu consentimento, entre as instituições financeiras.

A medida ajuda os bancos a analisarem de forma personalizada o perfil de risco de cada consumidor a partir do seu histórico bancário. Antes, essas informações eram restritas às empresas na qual a pessoa possui conta.

Segundo Gustavo Bresler, gerente de estratégia da Quanto, empresa de tecnologia para Open Finance, neste primeiro momento a tecnologia, que segue em processo de implantação pelo Banco Central (BC), deve ampliar o acesso ao crédito para os brasileiros. Essa mudança pode resultar na oferta de melhores condições de empréstimo.

“Há a expectativa de impacto direto no preço, já que o consumidor poderá utilizar os seus dados em outras instituições para conseguir taxas melhores. A competitividade criará uma precificação baseada no risco – e o risco pode ser aferido individualmente com o Open Finance”, explica Bresler.

A vantagem para as empresas é que, com a troca das informações, será possível aumentar as suas operações de crédito e reduzir a inadimplência. Por outro lado, ainda  não há dados consolidados dessa mudança para o todo o mercado financeiro. Mas algumas empresas já conseguiram obter eficiência nas suas operações.

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Segundo a Klavi, plataforma de Software as a Service (SaaS) de Open Finance e empresa especializada em processamento de dados financeiros, as instituições atendidas pela companhia conseguiram aumentar em 30% a aprovação de crédito e reduzir a inadimplência em 25%.

“Uma das grandes dificuldades que empresas têm na concessão de crédito é a falta de informação financeira dos consumidores”, afirma Bruno Chan, CEO da Klavi. “Há uma parcela significativa de consumidores que possuem bons históricos de pagamento, mas não são vistos. Por meio do Open Finance, esse público pode compartilhar suas movimentações financeiras e conseguir ter acesso a crédito novamente”, avalia Chan.

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