- Um FIDC permite que empresas vendam seus direitos creditórios, melhorando o fluxo de caixa, explicam especialistas
- Investidores que escolhem os FIDCs recebem retorno baseado na recuperação de créditos, mas enfrentam riscos de inadimplência
- Agrupar dívidas com um único credor pode simplificar o gerenciamento financeiro
O São Paulo Futebol Clube (SPFC), um dos maiores clubes de futebol do Brasil, está em meio a uma reestruturação financeira ousada que pode servir de inspiração para quem busca reduzir suas dívidas pessoais. Com um déficit total de R$ 666,7 milhões, o clube aprovou no dia 1º de outubro a criação de um fundo de investimentos de R$ 400 milhões, destinado a reestruturar seu passivo com bancos e instituições financeiras.
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O objetivo do fundo é simples: reduzir juros, concentrar credores e alongar o prazo de pagamento – uma estratégia que, segundo especialistas, pode ser adaptada para pessoas físicas em situações semelhantes. Aprovado por 82,22% dos conselheiros do clube, o plano do São Paulo envolve a criação de um Fundo de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDC).
Esse fundo prevê captar R$ 240 milhões e deve usar receitas futuras, como patrocínios e venda de jogadores, para quitar as dívidas. Ao substituir múltiplos credores por um único investidor e alongar o prazo de pagamento para até quatro anos e meio, o São Paulo espera melhorar sua saúde financeira e liberar recursos para investimentos no futebol.
Um FIDC, segundo a diretora de crescimento da Byx, Caroline Hees, é um veículo de investimento que permite a empresas captar recursos por meio da venda de seus direitos creditórios, ou seja, créditos que possuem a receber, como duplicatas, cheques, contratos ou outros recebíveis. Esse modelo de fundo é especialmente popular entre negócios que buscam melhorar o fluxo de caixa, antecipando recursos que só seriam recebidos no futuro. O FIDC é estruturado em cotas, que podem ser adquiridas por investidores interessados em obter retorno sobre esses recebíveis, que servem como garantia para o fundo.
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Os investidores que compram cotas de um FIDC são remunerados com base no recebimento desses créditos, que podem vir de diversas fontes, dependendo da natureza da empresa que está emitindo o fundo. No caso de inadimplência, o risco é compartilhado entre os cotistas, tornando esse tipo de investimento mais arriscado que outras modalidades de renda fixa, mas também potencialmente mais rentável. A gestão do FIDC é feita por uma administradora especializada, que avalia a qualidade dos créditos e define as regras de funcionamento do fundo.
Esses direitos creditórios podem incluir Cédulas de Crédito Bancário (CCBs), cheques, duplicatas, recebíveis e outros títulos de dívida. “Os FIDCs também permitem estratégias diversas de investimento, que podem envolver desde a aquisição de títulos de dívida corporativa até a renegociação de débitos de empresas ou mesmo de pessoas físicas, possibilitando maior flexibilidade para as partes envolvidas”, diz Hees.
O FIDC pode ajudar a reduzir dívidas? Entenda benefícios e riscos
O FIDC apresenta alguns benefícios claros, como a melhoria do fluxo de caixa e a diversificação das fontes de capital, segundo a líder de assessoria de investimentos da Melver, Daiane Gubert. Ao vender seus recebíveis para um FIDC, explica a especialista, uma empresa consegue acesso imediato a recursos financeiros que, de outra forma, só entrariam em caixa ao longo de meses ou anos. Isso pode ser um passo largo para manter a saúde financeira de uma organização, permitindo que ela cumpra obrigações, invista em operações ou renegocie dívidas de forma mais estratégica.
Além disso, a venda de recebíveis reduz a dependência de empréstimos bancários tradicionais, que muitas vezes possuem custos elevados e burocracia mais rígida. Para quem enfrenta dificuldades de crédito, utilizar um FIDC pode ser uma forma mais acessível de obter financiamento, explica Gubert.
No entanto, o modelo também apresenta riscos, como o de inadimplência. Se os devedores dos créditos adquiridos pelo FIDC não cumprirem suas obrigações, os retornos para os investidores podem ser impactados, comprometendo a operação. Fora isso, os custos envolvidos no processo, como taxas administrativas e jurídicas, podem reduzir os benefícios financeiros que a venda dos recebíveis proporciona.
Outro ponto de atenção é a complexidade do processo. A estrutura de um FIDC pode ser difícil de entender, e uma empresa pode enfrentar dificuldades para lidar com a gestão dos recebíveis, principalmente se não houver familiaridade com as cláusulas e obrigações contratuais que envolvem a venda de créditos. Isso pode acarretar em custos adicionais e maior esforço de administração financeira.
Caroline Hees, diretora de crescimento da Byx, diz que é importante entender que o FIDC, por si só, não concede crédito diretamente. Ele atua como uma ferramenta de investimento, sendo comum que créditos concedidos por bancos ou fintechs sejam eventualmente vendidos a um FIDC para securitização.
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No contexto do SPFC, o clube adotou uma estratégia personalizada com o uso de um FIDC para antecipar receitas futuras, como patrocínios e direitos de transmissão. Isso permitiu ao SPFC obter recursos para quitar dívidas mais caras, reduzindo sua exposição a altos juros. Para uma pessoa física, entretanto, Hees pontua que o acesso a um FIDC costuma ser indireto, por meio de intermediários como bancos e fintechs, que oferecem crédito.
Endividado deve fazer levantamento financeiro e tentar diálogo com instituições
A pessoa física também pode adotar táticas semelhantes às utilizadas pelo SPFC ao lidar com seus próprios credores, é o que explica a líder de assessoria de investimentos da Melver, Daiane Gubert. O primeiro passo, diz ela, é fazer um levantamento detalhado da situação financeira, mapeando valores, taxas de juros e credores. A partir disso, é fundamental abrir um diálogo com os bancos ou instituições financeiras, com metas claras de renegociação, como redução de juros ou prazos maiores.
A apresentação de propostas realistas e a transparência sobre a situação financeira são elementos-chave para o sucesso da renegociação. “No entanto, sabemos que nem sempre o diálogo é amistoso. As dívidas mais recentes costumam ter taxas maiores, e, à medida que a dívida envelhece, começam a ser oferecidos descontos relevantes para quitação e até mesmo parcelamento, especialmente nos feirões de crédito de fim de ano”, afirma Gubert.
O professor da Fia Business School, Marcos Milan, compara o processo de renegociação financeira pessoal com o modelo adotado pelo SPFC ao optar por um FIDC como alternativa mais barata para lidar com suas dívidas. Assim como o clube, conforme Milan, as pessoas físicas precisam entender profundamente suas finanças, receitas futuras e ajustar suas contas antes de aceitar qualquer proposta de renegociação.
Para ele, a pressão dos gerentes de bancos, que têm metas a cumprir, não deve ser um fator decisivo no processo. “O momento da renegociação pede calma, estudo do valor das parcelas, das taxas de juros e leitura atenta de todas as cláusulas do contrato”, aconselha, recomendando o auxílio de um profissional de finanças pessoais sempre que possível.
O que fazer para reduzir dívidas?
Quando o objetivo é reduzir o custo de dívidas, a diretora de crescimento da Byx, Caroline Hees, aconselha que o caminho mais vantajoso para o consumidor é buscar bancos ou fintechs confiáveis que ofereçam taxas de juros menores. Ela recomenda ter cuidado com propostas baratas demais, que podem esconder riscos. “A pessoa física deve sempre ter em mente que os créditos colateralizados, ou seja, créditos com garantia em imóvel, automóvel, investimentos financeiros ou recebimento via folha de pagamento [consignado] sempre serão as linhas com menores taxas de juros. Se esses empréstimos são acessíveis para você, ou seja, se você possui alguma forma de colateral, via de regra, é daí que se deve começar. Deixe as linhas do cheque especial e limite do cartão de crédito por último, sempre”, ensina.
Outra estratégia recomendada para renegociação de dívidas é tentar pagar à vista, com desconto, especialmente se a dívida já estiver atrasada, porque a expectativa do banco de receber esses valores, de acordo com Hees, diminui com o tempo. Para aqueles que não conseguem quitar de uma só vez, o parcelamento das dívidas é uma opção, sendo que a utilização de plataformas como o aplicativo do Serasa Experian pode facilitar as negociações.
A portabilidade de crédito também é uma excelente ferramenta para reduzir as taxas de juros, de acordo com o professor da Fia Business School, Marcos Milan. Com informações simples como número de contrato e dados pessoais, o devedor pode buscar outras instituições financeiras e avaliar se elas têm interesse em adquirir a dívida. “Estando dentro das condições às quais o devedor tem condições de pagar, o banco para onde vai a dívida paga a dívida anterior e faz um novo empréstimo. Em até 5 dias úteis a operação de portabilidade é concluída”, explica.
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Para a a líder de assessoria de investimentos da Melver, Daiane Gubert, a consolidação de dívidas pode ajudar a simplificar o gerenciamento financeiro e melhorar as condições de pagamento. Porém, Gubert alerta que esse processo exige uma disciplina financeira rigorosa. O principal risco é que, ao limpar o nome e consolidar as dívidas, o devedor possa contrair novos empréstimos e entrar novamente em uma espiral de endividamento. Portanto, além da renegociação, é fundamental adotar uma mudança de comportamento em relação ao dinheiro, reconhecendo que o aspecto emocional e comportamental é tão importante quanto os números.
No caso de concentrar as dívidas em um único credor, como fez o São Paulo FC, há vantagens, como a simplificação dos pagamentos e uma negociação mais eficiente. No entanto, para que essa estratégia funcione, os especialistas dizem que é preciso encerrar quaisquer novas oportunidades de crédito com outras instituições, evitando o risco de endividamento adicional e agravamento da situação financeira.
Passo a passo: usando um FIDC para encerrar dívidas
- Entenda o que é um FIDC
- Trata-se de um veículo que permite que investidores comprem recebíveis, ou seja, dívidas que terceiros devem. Para uma pessoa física, a ideia é vender suas dívidas a um FIDC, que se torna responsável pela cobrança.
- Avalie suas dívidas
- Faça um levantamento completo de todas as suas dívidas. Anote os credores, valores, taxas de juros e condições de pagamento. Compreender sua situação financeira é crucial antes de considerar um FIDC.
- Pesquise FIDCs disponíveis
- Pesquise instituições financeiras e fundos de investimento que oferecem FIDCs para pessoas físicas. Verifique as condições e a reputação dos fundos, e consulte a disponibilidade de produtos que permitam a venda de suas dívidas.
- Contrate um FIDC
- Entre em contato com a instituição financeira que gerencia o FIDC. Você precisará fornecer informações sobre suas dívidas e sua situação financeira. Algumas instituições podem exigir documentação adicional, como comprovantes de renda e documentos pessoais.
- Avalie as condições de venda das dívidas
- O FIDC analisará suas dívidas e apresentará uma proposta. Esse processo inclui a avaliação do risco de crédito e pode resultar em um valor de venda menor do que o montante total devido. Certifique-se de entender todas as taxas envolvidas na operação.
- Formalize a venda
- Se concordar com os termos, formalize a venda das dívidas. Isso geralmente envolve a assinatura de um contrato que especifica os termos da transação e a responsabilidade do FIDC pela cobrança das dívidas.
- Receba o pagamento
- Após a formalização, o FIDC pagará um valor acordado pelas suas dívidas. Esse valor pode ser usado para quitar dívidas pendentes, melhorando sua situação financeira imediata.
- Acompanhe a cobrança
- Após a venda das dívidas, o FIDC assume a responsabilidade pela cobrança. Acompanhe o processo, se possível, para entender como suas antigas dívidas estão sendo tratadas.
- Reavalie suas finanças
- Após liquidar suas dívidas através do FIDC, reavalie sua situação financeira. Crie um novo orçamento para evitar endividamentos futuros, focando em hábitos de consumo mais saudáveis e na construção de uma reserva financeira.
- Retorno: usar um FIDC pode proporcionar uma solução rápida para quitar dívidas, permitindo que você evite juros altos e penalidades. No entanto, o valor que você receberá pode ser inferior ao total devido.
- Riscos: é importante lembrar que a venda de dívidas a um FIDC pode resultar em custos adicionais, e a recuperação do valor total das dívidas pode não ser garantida. Além disso, a venda pode impactar seu histórico de crédito, dependendo da forma como a operação é registrada.