- A empresária Nathália Rodrigues se tornou sócia de uma marca de perucas personalizadas e participa do Conselhão do presidente da República
- Nath Finanças, como é mais conhecida, acredita que desemprego e queda na renda são principais problemas para o endividamento no Brasil
Aos 24 anos, Nathália Rodrigues, mais conhecida como Nath Finanças, acumula feitos expressivos no currículo: produtora de conteúdos sobre educação financeira de sucesso, agora a jovem carioca também é membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (o Conselhão) do presidente Lula.
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Em 29 de junho, a empresária participou de uma live com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, a Janja, para discutir o programa de renegociação de dívidas do governo brasileiro, o Desenrola Brasil.
Nath acredita que um mérito do programa seja associar conteúdos educativos ao plano de renegociação. “Falei para eles que fico disponível para trazer essa informação”, diz.
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Os atuais níveis de inadimplência que o programa buscar atacar, na visão da empresária, são mais relevantes do que a mera falta de educação financeira: falta de emprego e a redução de renda vêm primeiro, em sua visão. “A falta de educação financeira é um dos motivos que fizeram as pessoas ficarem endividadas no nosso País, mas vem por último”.
No Conselhão, ela participa do grupo de trabalho de crédito para microempreendedores, sob um olhar de educação financeira. A escolha se deu devido ao seu trabalho com o tema, mas também por uma avaliação de que, durante a pandemia, as grandes empresas foram priorizadas em detrimento dos pequenos negócios.
De acordo com a influenciadora, ministros e o próprio presidente, a depender da agenda presidencial, participam da reuniões. Além disso, segundo ela, várias outras pessoas de diversos setores da economia trazem ideias para o presidente e demais membros do conselho.
E-Investidor — Como tem sido a atuação no Conselhão do presidente Lula? Dos conselheiros em geral e a sua especificamente.
Nath Finanças — O Conselhão é voluntário e não recebemos para isso. Temos mais de 240 conselheiros e cada um trouxe propostas de grupos de trabalho. E aí cada conselheiro vai escolher a qual proposta ele vai se adequar e esses grupos de trabalho vão ser divididos em poucos para cada um trabalhar, trazer soluções, ideias e propostas para o presidente da República.
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Eu, por exemplo, trabalho com educação financeira, posso ir também para a parte de acesso ao crédito para empreendedores, porque isso também afeta diretamente as pessoas de terem educação financeira. Falar sobre endividamento. O presidente está muito focado nessa área social-econômica, de dar acesso às pessoas, falar sobre microempreendedores e dar acesso ao crédito.
Eu estou muito focada no grupo de trabalho na parte de crédito para empreendedores a partir de educação financeira porque durante a pandemia percebemos que as grandes empresas foram prioridade em relação às pequenas empresas.
Além de mim, várias outras pessoas de diversos ramos trazem ideias para o presidente, ministros e pessoas que estão ao redor da Presidência. É muito bom poder se sentir ouvida, independentemente da sua idade. Eu tenho 24 anos, mas tem gente que tem 50, 60, 70 anos, que pode trazer soluções e ideias.
Em uma live recente com a primeira-dama e o ministro da Fazenda vocês conversaram sobre o programa Desenrola Brasil. Na sua visão, como a falta de educação financeira impacta a inadimplência no País?
A falta de educação financeira é um dos motivos que fizeram as pessoas ficarem endividadas no nosso País, mas vem por último. O primeiro de tudo é a perda de emprego. Se a pessoa não tem emprego, ela não tem renda; se ela não tem renda, não tem como pagar conta; se não tem como pagar conta, vai ficar inadimplente.
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Se eu falar que ela é o único motivo para as pessoas estarem endividadas, não é bem assim. Inflação nas alturas, pandemia, guerra no exterior. As coisas estão caras por vários fatores internos e externos.
A taxa de juros abusiva e absurda que temos no mercado é de mais de 400% ao ano de cartão de crédito, quando você deixa de pagar a fatura. Vão dizer que é por conta do nível de endividamento, mas taxas de 10%, 15% ao mês já existem há muitos anos, antes de bater quase 80% da população brasileira endividada.
O Desenrola Brasil vem para facilitar. O que eu falei com Janja e Haddad foi que não adianta nada o governo ou o feirão do Serasa Limpa Nome ajudarem essas pessoas se elas também não entenderem a importância da educação financeira após fim do endividamento, após conseguir quitar as dívidas.
Como imagina que seja possível associar o programa Desenrola Brasil com um projeto de educação financeira mais amplo?
Eu conversei com o ministro Haddad quando estávamos na live. Após a pessoa conseguir quitar as dívidas, eles vão apresentar formas de se organizar financeiramente: vídeos interativos, documentos, textos para ela saber como lidar com dinheiro.
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Eu até falei para eles que fico super disponível para trazer essa informação. A população que ganha até dois salários mínimos (um dos públicos do programa) é meu público também. Quanto mais as pessoas tiverem acesso, melhor. É o pós para ensinar essa pessoa como ela pode se organizar para não se endividar e não acontecer isso novamente. Ou pelo menos não passar por tanto perrengue.
Em suas redes sociais tem sido publicada uma série de conteúdos sobre direitos dos clientes de bancos, explicando como se livrar de tarifas, receber reembolso de tarifas que já foram pagas eventualmente. Quais são as grandes dificuldades que o consumidor encontra nessa relação com as instituições financeiras?
Eu decidi falar sobre a tarifa dos bancos e direito do consumidor porque acabamos abrindo uma conta corrente e não lendo os contratos detalhadamente. Seja porque fica duas horas numa agência para abrir uma conta, ou até mesmo porque no celular os termos de uso e contrato são todos digitais. Como eu expliquei, existe a resolução 3.919 do Banco Central, desde 2010, dizendo que os bancos devem oferecer uma conta corrente gratuita. Deve estar nos caixas eletrônicos, estar à mostra nas instituições.
Se você for perceber, depois que eu falei sobre isso, os bancos passaram a colocar nos caixas eletrônicos e também em propagandas que a pessoa pode ter conta corrente gratuita, coisa que não estava sendo feita. Para nós é muito importante, porque nós somos o lado vulnerável.
Uma empresa possui acessos, possui advogados, sabe seus direitos e deveres, mas o consumidor às vezes não. Você vai assinar o primeiro contrato que aparecer porque você está animado com um emprego, principalmente os jovens, que vão começar esse primeiro emprego e acabam não lendo o que foi embutido nesses pacotes.
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E eu citei o reembolso de cobranças indevidas para quem não foi avisado sobre a conta gratuita. Até mesmo alguns seguidores que conseguiram o reembolso parcial entraram na justiça para receber o restante, porque isso é uma comprovação de fato que é uma cobrança indevida.
Na sua avaliação, qual tem sido a grande dificuldade?
A maior dificuldade é a comunicação e informação transparente. Se o cliente está indo procurar (pela conta gratuita) agora, e milhares de pessoas procuraram, é porque não tiveram a informação clara.
Com a informação, eles vão buscar os direitos deles. E aí aconteceu isso: o número de ligações triplicou no telemarketing, gerentes de bancos não gostaram porque provavelmente recebem por cada pessoa que entra pagando um pacote de serviços.
Então eu peço aqui, falando abertamente, olhem o extrato de vocês, o que está sendo descontado do banco? Está sendo descontado o IOF, uma tarifa, uma taxa de manutenção da conta?
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Hoje as pessoas vão ficar muito mais atentas, principalmente as pessoas que conseguiram ter a conta corrente gratuita e pediram o reembolso, para saber de fato o que está sendo descontado. Os bancos vão olhar com cuidado também. Foi algo positivo para ambas as partes, porque o banco vai entender agora que o cliente também sabe seus direitos.
Os bancos tiveram alguma reação institucional?
Não tiveram essa reação de entrar em contato comigo para falar algo. É uma coisa que está na lei, então não tem o que fazer. Não tem como falar “pare de postar sobre esse assunto”, porque é público, todo mundo deveria saber.
Não foi nem uma afronta aos bancos ou algo do tipo. A intenção foi mais informar.
Você entrou na sociedade de uma marca de perucas personalizadas, Queen Laces, partindo de uma carreira de negócios em educação financeira. Como essas experiências vão dialogar?
Eu sempre gostei muito de perucas e essa ideia de fechar sociedade foi depois que eu fiz Santo no Candomblé (ritual de iniciação na religião). Eu raspei a cabeça e como trabalho com a internet, querendo ou não também com o meu cabelo.
Foi um momento muito sensível para mim, um novo passo na minha vida como Nathália, além da Nath Finanças, e eu precisei usar a peruca para algumas situações. Eu trouxe a minha expertise em finanças, em administração de um negócio e organização financeira para o negócio.