Quando começar a investir para a aposentadoria? Especialistas mostram como construir renda para viver bem após os 60
Reserva financeira deve ser prioridade desde o primeiro salário como trabalhador, mas diversas opções financeiras podem garantir renda passiva aos 70, 80 e 90 anos
Especialistas reforçam a importância de investir cedo para garantir autonomia e qualidade de vida na velhice. (Foto: Adobe Stock)
Em um Brasil cada vez mais envelhecido, entender como a população pode se preparar financeiramente para as demandas que surgem com o avanço da idade e entender quando começar a investir para aposentadoria tornaram-se fundamentais. Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de idosos mais que dobrou entre 2000 e 2023, passando de 15,2 milhões para 33 milhões de pessoas com mais de 60 anos.
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A especialista em investimentos Adriana Ricci, head de Operações da SHS Investimentos, diz que o brasileiro tende a se preocupar com a velhice apenas quando ela se aproxima.
“A verdadeira aposentadoria dá poder para escolher como envelhecer, ou seja, ser independente. Iniciar uma reserva para aposentadoria deveria ser prioridade número um, mas às vezes viver a vida hoje soa muito mais interessante e esse assunto vai ficando para depois”, diz.
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil é o sexto país com mais idosos no mundo. Ricci destacou a importância de começar a investirdinheiro o mais cedo possível, a fim de criar recursos para a velhice. “Sempre repito que o momento certo é agora, quanto antes melhor. Os juros compostos podem trabalhar muito a favor daqueles que começam mais cedo. Essa preocupação deve começar a partir do seu primeiro salário da vida, quanto antes começar, menos precisa aportar”, diz.
O sócio da Valor Investimentos, Virgilio Lage, destaca também outro lado da moeda: “Quem demora a investir, paga um preço altíssimo. A velhice não é um evento, ela é um projeto de 30 anos a 40 anos”, afirma. Projeção do IBGE mostra que o Brasil deve ter mais idosos do que crianças até 2040. Lage explicou que o dado também significa que serão menos trabalhadores alimentando a Previdência Social.
“A velhice não é surpresa, ela chega. Só fica cara para quem não se prepara”, diz Lage.
Para Ricci, os investimentos devem começar conservadores, com baixa volatilidade e risco. Ele sugere títulos de renda fixa, a exemplo de Certificados de Depósito Bancário (CDB) e papéis do Tesouro Direto como bons caminhos para iniciantes.
“À medida que cresce seu patrimônio e o investidor passa a conhecer melhor o mercado, pode começar arriscar parte em produtos mais arrojados, mas sempre com cautela e preferencialmente com um profissional da área para instruir”, afirma.
“Hoje já vemos muitas ações de escolas, desde a primeira infância, tratando desse assunto. Para mim, deve começar na base. Tudo é uma questão de conscientização, de mudança de mentalidade, de um despertar para a importância de cuidar bem não só do seu presente, mas também do seu futuro”, alerta Ricci.
Os especialistas, por unanimidade, rejeitam a ideia de guardar dinheiro em uma poupança, já que o rendimento costuma perder para a inflação. A educadora financeira da Rico, Thaisa Durso, explica que a preparação financeira para a velhice exige uma carteira diversificada e bem estruturada de investimentos.
Segundo Durso, os títulos públicos atrelados à inflação preservam o poder de compra ao longo dos anos. Também, o Tesouro Renda+ prevê pagamentos mensais por até 20 anos depois do vencimento e permite estruturar uma renda corrigida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Previdência privada (PGBL/ VGBL)
Ela explica que planos de previdência ajudam a reduzir a carga fiscal. Segundo ela, no Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL) é possível deduzir até 12% da renda bruta anual e, na tabela regressiva, o imposto pode cair para apenas 10% após dez anos. No Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL), os recursos não entram em inventário, o que agiliza a sucessão.
A educadora defende que parte da carteira precisa buscar retornos acima da média para cobrir lazer e imprevistos. Durso afirma a importância de diversificar os investimentos com ações, fundos imobiliários (FIIs) e multimercados alinhados ao perfil de risco de cada pessoa. Ela ainda indica disciplina nos aportes e o reinvestimento dos rendimentos, a fim de construir patrimônio.
Para Virgilio Lage, os focos precisam estar nos incentivos fiscais. “O que você investe hoje precisa ser o suficiente para pagar a inflação da saúde do futuro. A inflação médica no Brasil costuma bater o dobro da inflação geral, então, todo mundo precisa de renda passiva na velhice. O objetivo final não é um saldo em conta, mas um fluxo”, recomenda.
Além disso, Lage ainda defende que exista uma reserva de segurança de gastos, que possa manter o padrão de vida por seis a doze meses em caso de perda do emprego. “Isso protege o plano de longo prazo, uma estratégia de acumulação para o futuro”, explica.
Políticas públicas
O IBGE projeta que até 2070 o País pode ter mais de 75 milhões de idosos, que representariam 37,8% de toda a população. A preocupação chegou à esfera pública, mas, de acordo com Ricci, as políticas voltadas para idosos ainda não são suficientes.
“Políticas públicas para a população idosa deveria ser uma grande prioridade do governo, mas infelizmente isso nunca foi uma realidade. Sendo assim, eu gosto sempre de reforçar a importância de cada um construir a sua parte, o seu castelinho do futuro”, diz.
Segundo dados da Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV Social), enquanto o Japão gasta 10% do Produto Interno Bruto (PIB) com previdência, o Brasil gasta 13%. Lage acredita que aposentadoria como se conhece hoje é um conceito ultrapassado e que os brasileiros caminham para um país velho e pobre.
“Os brasileiros acreditam que o governo ou a empresa vão cuidar da velhice. Na verdade, aindependência financeira é a única garantia real, especialmente porque envelhecer custa caro”, diz.
Exemplo disso são os valores gastos com remédios, cuidadores, internações e planos de saúde, que chegam a dobrar de valor na terceira idade. “A pergunta não é quanto preciso guardar para me aposentar. Na verdade, a pergunta correta seria: ‘Quanto preciso acumular para comprar com dignidade, saúde e autonomia quando eu tiver 70, 80, 90 anos?’”, defende Lage.