- A forma mais tranquila, e menos rentável, de investir em CDB é apostar nos títulos emitidos por grandes bancos
- A rápida expansão de CDBs de bancos pequenos e médios, com alta rentabilidade e garantia do FGC, passou a incomodar os grandes bancos e a preocupar o Banco Central
- Com maior acesso a produtos mais arrojados, o investidor pessoa física acredita que estará sempre protegido, sem ponderar o risco dos emissores
Investir em CDBs é uma forma de emprestar dinheiro a bancos e, para o investidor comum, a segurança depende de quais instituições emitem esses títulos. A forma mais tranquila é apostar nos títulos emitidos por grandes bancos como Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil cujo risco é quase soberano, próximo ao do próprio governo, devido ao tamanho e solidez dessas instituições.
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Por outro lado, os CDBs de bancos menores, distribuídos via plataformas, oferecem retornos mais gordos ao investidor e, por isso, apresentam um risco maior, exigindo atenção redobrada do investidor.
Embora seja raro grandes bancos quebrarem – como o HSBC, que fechou operação de varejo no Brasil -, o setor bancário é perigoso. “É normal que bancos menores quebrem, é um negócio arriscado e extremamente alavancado”, diz Filipe Ferreira, diretor de Negócio de Comdinheiro / Nelógica.
Alta rentabilidade, altos riscos
Este ano, o Banco Central anunciou a falência da PortoCred e BRK. Até 2023, quando a autoridade monetária decretou a liquidação extrajudicial das duas financeiras, seus títulos eram amplamente ofertados em plataformas de corretoras, atraindo investidores pessoas físicas. “A grande atratividade era que esses papéis pagavam taxas maiores que os bancos tradicionais”, observou a sócia-fundadora da Nord Research, Marília Fontes, em seu blog à época da notícia.
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A rápida expansão de CDBs de bancos pequenos e médios, com alta rentabilidade e garantia do FGC, passou a incomodar os grandes bancos e a preocupar o Banco Central, conforme essa reportagem do Estadão. Para especialistas, o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) tem sido usado como marketing para vender produtos arriscados. Em resposta, o Banco Central criou, em julho, a terceira regra desde 2021 para limitar a emissão de CDBs com retorno de até 140% do CDI, muito acima das taxas de grandes bancos, que ficam em torno de 100% do CDI.
Evandro Bertho, sócio-fundador da Nau Capital, reforça que investir em CDBs envolve o risco de crédito da instituição emissora. “No final do dia, é uma operação de crédito em que o investidor se torna credor do banco, que precisa estar saudável para honrar seus compromissos”, diz. O FGC mitiga riscos, cobrindo até R$ 250 mil em caso de liquidação e até R$ 1 milhão, por CPF, por quatro anos. “Mas, em um cenário sistêmico extremo, pode não ter recursos para cobrir todas as perdas.”
FGC cobre apenas 5% do sistema
Na prática, o FGC cobre menos de 5% dos investimentos. Segundo seu último balanço de junho, o fundo tem um pouco mais de R$ 107 bilhões líquidos em caixa para cobrir R$ 2,3 trilhões em depósitos dentro do limite de R$ 250 mil. Dos depósitos cobertos pelo FGC, 76% estão concentrados nos maiores bancos do país (segmento S1), enquanto apenas 24% estão nos bancos menores e médios. Essa proporção vem aumentando. Em 2019, os pequenos representavam 16,7% do total segurado.
“Acho que não existiu um caso no Brasil em que o FGC não teve capital para pagar”, atesta Matheus Nascimento, analista da Levante Inside Corp.
O sistema bancário é considerado seguro justamente porque a maior parte das aplicações está nos grandes bancos, que têm menos risco de quebrar e mais chances de receber ajuda diretamente do Banco Central em caso de problemas. Na prática, isso quer dizer que são os bancões, por serem os maiores participantes do bolo, que bancam o FGC . “O FGC não precisa ter dinheiro para cobrir todo o mercado, apenas para os pequenos de forma a evitar quebra sistêmica”, explica Filipe Vieira.
Por outro lado, a segurança trazida pelo FGC incentivou um efeito colateral. Com maior acesso a produtos mais arrojados, o investidor pessoa física acredita que estará sempre protegido com o CDB, sem ponderar que os emissores de seus títulos terão de fazer operações cada vez mais arriscadas para pagar os compromissos assumidos. “É aí que mora o perigo. O Banco Central está correto em olhar isso com mais atenção, porque essa escalada é o que leva a quebras bancárias”, observa Vieira.
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