Levantamento exclusivo revela que apenas 10 ações continuam baratas em 2025 na Bolsa, com potencial de pagar dividendos robustos nos próximos 12 meses. (Imagem: peshkova em Adobe Stock)
Mesmo depois de o Ibovespasubir mais de 30% em 2025 e flertar com os 160 mil pontos, a dúvida continua: ainda existe ações baratas que entregam margem de segurança, bons dividendose não se revele uma armadilha para o investidor? Na Black Friday da Bolsa de Valores, ninguém quer torrar estoque. O que vale é encontrar empresas líderes, com geração de caixa forte, fundamentos sólidos e um bom desconto. A combinação existe e não é ficção.
Um estudo exclusivo de Fábio Sobreira, sócio e analista da Rocha Opções de Investimentos, mostra que pelo menos dez ações continuam baratas e com potencial de pagar dividendos robustos nos próximos 12 meses. O levantamento, feito com dados do Status Invest e Investidor10, usou quatro filtros clássicos do investidor de renda passiva.
O primeiro foi uma média de dividend yield (retorno em dividendos) dos últimos cinco anos acima de 8%. Essa régua ajuda a evitar distorções de resultados não recorrentes (como venda de um ativo ou ciclos de commodities) e aponta empresas com política de capital madura, capazes de preservar o retorno real ao acionista, acima da inflação.
Também entraram em cena os múltiplos preço sobre lucro (P/L) e preço sobre valor patrimonial (P/VP). Preferência por P/L inferior a dez vezes e P/VP perto ou abaixo de uma vez, sinal de que o mercado paga menos do que o valor contábil e ignora fatores intangíveis importantes, como marca ou participação de mercado.
O estudo definiu ainda um preço-teto de compra para proporcionar dividend yield de 8% nos próximos 12 meses, sempre alinhado ao crescimento das receitas dos últimos cinco anos. Por fim, calculou o investimento necessário para gerar renda de R$ 1 mil por mês (R$ 12 mil anuais) a partir desses ativos, usando a média histórica de dividend yield de cinco anos.
A seguir, as ações que combinam preço atrativo, fundamentos resilientes e boa margem de segurança para quem busca renda consistente ao longo dos próximos 12 meses.
Sobreira explica que calcula o preço teto usando o dividendo histórico e o crescimento das receitas (CAGR). A lógica assume que a empresa manterá eficiência. Se a receita cresce 10% ao ano, ele considera razoável esperar evolução semelhante nos proventos. “A taxa de desconto de 8% traz esse fluxo futuro ao valor presente exigido”, diz.
Ele compara a dinâmica com comprar um imóvel para viver de aluguel. Se o investidor usa apenas a locação atual para precificar, ignora a valorização ou a decadência do bairro. Com crescimento, um aluguel de R$ 1 mil poderia virar R$ 1.100, o que aumenta o preço justo do ativo. Para ele, a estratégia permite pagar um pouco mais por empresas que crescem e têm dividendos que acompanham inflação e lucro.
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A metodologia, segundo Sobreira, evita armadilhas de empresas estagnadas que parecem baratas, mas geram retorno irrelevante.
Como ter renda de R$ 1000 todo mês com estas ações?
Sobreira utilizou como base para o cálculo a média de dividend yield das companhias nos últimos cinco anos, chegando ao patrimônio necessário para ter renda de R$ 1 mil por mês. Foi calculado também quanto tempo o investidor leva para alcançar esse objetivo se investir R$ 300 ou R$ 500 todo mês e reinvestir todos os proventos recebidos. Veja abaixo:
As pechinchas favoritas dos analistas
TOP 1: PETR4
A Petrobras (PETR3; PETR4) registrou lucro líquido de US$ 6 bilhões no 3º trimestre de 2025. (Imagem: Adobe Stock)
O E-Investidor consultou outros analistas para entender quais ações baratas da lista mais agradam quem busca dividendos nos próximos 12 meses. A favorita absoluta foi a Petrobras (PETR3; PETR4).
Para Sobreira, o P/L de 5,41 e o P/VP de 0,99 mostram que o mercado enxerga apenas os ativos tangíveis e ignora a força do pré-sal, a geração de caixa e as reservas da estatal. Ele lembra que o dividend yield médio de cinco anos chega a 25,73%, o maior da lista.
“Mesmo que recue, a margem de segurança para compra da ação da Petrobras continua enorme, apoiada na forte desalavancagem dos últimos anos, o que sustenta a capacidade de pagamento”, observa.
Lucas Lima, analista-chefe da VG Research, acredita que mesmo com petróleo em preços mais baixos, a Petrobras segue gerando caixa relevante no pré-sal e deve apresentar resultados sólidos em 2026. Ele destaca que o plano estratégico 2026-2030, que foi divulgado na noite de quinta-feira (27) deve mostrar se haverá redução no capex (investimentos). Um corte neste item poderia sustentar dividend yield ao redor de 10%.
Lima recomenda compra de PETR4 até R$ 42, com potencial de chegar a R$ 50 em um ano.
Para Sergio Biz, sócio e analista do GuiaInvest, a Petrobras é a única ação realmente barata da lista e com boa margem de segurança para compra. Ele cita o potencial de expansão de produção, especialmente na Margem Equatorial.
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Apesar do risco político, Biz afirma que a ação está particularmente descontada pela queda do dólar e do petróleo recentes, movimento influenciado pela expectativa de fim da guerra entre Rússia e Ucrânia. O analista ressalta que a estatal é cíclica e alterna anos de dividendos generosos com períodos de pagamentos mais modestos.
Para Biz, vale comprar PETR4 até R$ 36, mirando valorização até R$ 42.
Outras queridinhas
Ações da Vale (VALE3) já acumulam ganhos de mais de 25% em 2025. Foto: Fabio Motta/Estadão
Entre as favoritas dos analistas, outra gigante de commodities aparece com força. A Vale (VALE3) é vista por Lima, da VG, como uma ação barata e oportuna para dividendos. Ele afirma que o desconto não combina com os resultados recentes, já que a mineradora registrou produção recorde e preços de minério de ferro realizados mais altos no terceiro trimestre de 2025 (3T25), além de eficiência operacional consistente.
Lima lembra que o minério surpreendeu ao se manter acima de US$ 100 por tonelada, quando o mercado esperava algo perto de US$ 90.
“Nesse nível de preço de minério, a Vale gera caixa relevante e pode entregar retorno em dividendos próximo de 9% nos próximos 12 meses”, avalia.
Segundo ele, as ações negociam perto de quatro vezes EV/Ebitda projetado para 2026, um desconto expressivo frente a concorrentes internacionais que operam acima de seis vezes.
Outra oportunidade citada pelos analistas é a Metal Leve (LEVE3), fabricante de autopeças e motores. Para Bruno Oliveira, do Vida de Acionista, a companhia combina dividendos robustos, Retorno sobre Patrimônio Líquido (ROE) elevado e um modelo de negócios resiliente a ciclos econômicos diversos.
Ele explica que quando a economia está aquecida, a venda de carros novos impulsiona a receita da companhia. Em períodos mais fracos, as peças de reposição entram em cena para atender o envelhecimento das frotas, o que suaviza os ciclos.
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Oliveira ressalta que o desconto de Metal Leve não está ligado a problemas de governança ou perda de fundamentos. Ele recomenda compra de LEVE3 até R$ 38,50 para buscar dividend yield de pelo menos 8% nos próximos 12 meses.
As baratas que podem sair caro no curto prazo
Algumas empresas da lista podem até se mostrar vantajosas para o longo prazo, mas enfrentam um cenário fraco de dividendos no curto prazo e não entram no radar dos analistas como oportunidade imediata.
A Taesa (TAEE11) é um exemplo. Oliveira afirma que a companhia não perdeu fundamentos, porém opera com uma alavancagem elevada, acima de quatro vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), ainda pressionada pelos investimentos. A expectativa aponta para queda a 3,7 vezes em 2026, mas preocupa a falta de novos leilões e o fim de várias concessões a partir de 2030.
No caso da Cemig (CMIG4), Lima lembra que não há problema estrutural, mas a empresa atravessa resultados mais fracos e custos de energia mais altos. Como está totalmente contratada, não consegue capturar preços melhores do mercado no curto prazo nem repassar aumentos.
O Banco do Brasil (BBAS3) também vive uma fase desafiadora, com queda temporária nos dividendos devido à inadimplência do agronegócio e à redução da rentabilidade. Luiz Barsi Neto, economista e fundador da Barsi Investimentos, acredita que o banco vai resolver a dívida agro nos próximos anos e pode até liderar a recuperação desses créditos, sendo uma boa tese para quem pensa em longo prazo.
Barsi também vê oportunidades em Unipar (UNIP6), que deve se beneficiar do ciclo de menor investimento no setor petroquímico e na própria Metal Leve, que tende a ganhar com a queda dos juros estimulando a produção de autopeças.