- Somente em junho, a moeda mais forte do mundo valorizou 10,03% frente ao real, encerrando o mês na casa de R$ 5,23. Nesta semana, a moeda voltou a disparar, encerrando a terça-feira (12) em R$ 5,43
- O movimento de alta está relacionado a dois fatores principais. Lá fora, a alta de juros nos Estados Unidos; no mercado interno, o risco fiscal
- Com diferentes fatores jogando volatilidade nas bolsas e no câmbio, é difícil dizer até onde a cotação da moeda poderá chegar. Por isso, talvez seja o momento de aguardar um pouco, dizem especialistas
Quem viu o dólar a R$ 4,66 em abril deste ano pode ter se assustado ao ver a cotação da moeda americana voltar a disparar apenas dois meses depois daquele período de forte queda. Somente em junho, a moeda mais forte do mundo valorizou 10,03% frente ao real, encerrando o mês na casa de R$ 5,23.
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Em um momento de maior estresse nos mercados, a cotação chegou a bater os R$ 5,46 na última quarta-feira (6), mas sofreu uma correção até encerrar a primeira semana de julho em R$ 5,26. Nesta semana, porém, o dólar voltou a disparar, encerrando a terça-feira (12) cotado a R$ 5,43.
O movimento de alta está relacionado a dois fatores. Lá fora, a alta de juros nos Estados Unidos levantou a possibilidade de um cenário recessivo, que vem penalizando as bolsas de valores americanas e também o câmbio dos mercados emergentes.
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“Em resposta à inflação galopante nos EUA, vimos em junho um FED mais hawkish, realizando o maior aumento de juros desde 1994. Assim, os temores sobre uma possível recessão nos Estados Unidos cresceram e fizeram com que investidores corressem para ativos seguros, como o dólar”, explica Tulio Portella, diretor comercial do Grupo B&T.
A inflação americana chegou ao maior patamar dos últimos 40 anos e o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) diz estar comprometido em elevar os juros por lá até que a pressão inflacionária diminua.
Com esse cenário, a perspectiva é de que a moeda americana siga em alta frente ao real, ao menos no curto prazo. “É importante ficar atento aos indicadores econômicos de inflação e atividade, para observar os efeitos das políticas monetárias globais e tentar entender até onde irá a escalada de juros mundo afora”, diz Portella.
Mas a alta de juros nos EUA não é o único fator que está afastando os gringos – e os dólares – do Brasil. Por aqui, os receios com a situação fiscal do País têm aumentado à medida que as eleições presidenciais se aproximam. E essa pressão vem de diferentes fatores e ruídos políticos, enumera João Beck, sócio da BRA. “A proposta de teto de ICMS nos combustíveis, a ideia de um estado de emergência para burlar restrições, vale gás, aumento do salário dos servidores, aumentos do Auxílio Brasil e ataques constantes à Lei das Estatais”. Segundo ele, o mercado passa a perceber que neste ano eleitoral os gastos públicos não serão poupados.
Em um cenário que os títulos públicos norte-americanos começam a remunerar mais, nem mesmo a Selic em 13,25% ao ano e uma bolsa descontada conseguem atrair o fluxo de investimento estrangeiro para o País frente ao ruído político. “A principal preocupação nos últimos meses é o fiscal. E cada vez que ele for bombardeado, o mercado vai reagir com dólar para cima e bolsa para baixo”, afirma Beck.
Como ficam os investimentos
Se quando o dólar estava em queda a recomendação dos especialistas do mercado era aproveitar a oportunidade para internacionalizar parte da carteira, agora o cenário exige uma cautela maior.
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Tasso Lago, gestor de fundos privados e fundador da Financial Move, defende a importância de dolarizar parte da carteira de investimentos como forma de proteger o patrimônio, mas acredita que a janela para começar a fazer isso já passou. “É super importante dolarizar a carteira, mas é mais interessante fazer isso em momentos em que o dólar recua. O brasileiro tem que ter uma exposição ao dólar dentro do seu portfólio, mas não pode olhar para isso após o ativo ter andado, como andou agora”, diz.
Essa dolarização pode ser feita de diferentes maneiras. Para quem quiser arriscar ou começar a estudar opções para montar essas posições em um momento futuro, os especialistas destacam duas opções principais: os fundos de investimento e os ETFs (Exchange Traded Funds).
Uma das opções são os fundos multimercado, que mesclam posições em diferentes mercados, de renda fixa a ações ou câmbio, por exemplo. Por operarem tanto juros quanto moedas, podem ser uma alternativa para o momento, diz Rodrigo Jolig, CIO da Alphatree. “São ferramentas que conseguem utilizar a volatilidade como aliada e, independentemente das variações do mercado, estando em alta ou queda, há mais chances de conseguir capturar um retorno”, afirma.
Quando o assunto é investimento em dólar, quem também tem destaque são os fundos cambiais, que investem em ativos atrelados a moedas estrangeiras e são muito utilizados como ferramenta para proteger os portfólios das variações da moeda local.
Mas, para Joaquim Sampaio, sócio e gestor de portifólio da RPS Capital, o melhor momento para fazer esse investimento são os de calmaria, contrários ao cenário atual. “Investindo agora, o investidor vai pegar uma cotação alta e o custo de carregar essa posição, que é o diferencial de juros da Selic com o juro americano, é também muito alto”, explica.
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O gestor destaca também a possibilidade de investimento em ETFs como o IVVB11, um fundo de índice que reflete a performance do S&P 500. Nesse tipo de investimento, o investidor consegue capturar não só a variação do câmbio, mas de uma das principais bolsas de valores dos EUA – que também não se encontra em um momento favorável e portanto este pode não ser o melhor timing para entrar.
“Para essa possibilidade, você tem que ter uma visão positiva com bolsa ou com a empresa que está querendo comprar. Coisa que no momento também não há, por causa do Banco Central Americano mais hawkish e pela economia global desacelerando”, diz Sampaio.