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Dólar abaixo dos R$ 5. Vale a pena comprar a moeda agora?

O dólar atingiu o menor valor desde 2020. Veja se vale a pena investir ou comprar a moeda para viajar

Dólar abaixo dos R$ 5. Vale a pena comprar a moeda agora?
Para quem não for viajar ao exterior, é preciso ponderar se vale mesmo a pena comprar dólares. (Foto: Envato)
  • Na quinta-feira (24), o dólar fechou a R$ 4,83, o menor valor desde março de 2020
  • Para analistas, as quedas sucessivas da moeda norte-americana se devem ao movimento de alta da taxa de juros e também à valorização das commodities, que tornam o mercado brasileiro atrativo ao investidor estrangeiro
  • Antes de aproveitar os preços convidativos, é preciso levar em conta os objetivos com a moeda e o perfil de risco do investidor

(Daniel Rocha e Luíza Lanza) – A moeda norte-americana tem surpreendido o mercado ao registrar sucessivas quedas nos primeiros três meses do ano. Na quinta-feira (24), o dólar fechou a R$ 4,83, o menor valor desde março de 2020 e o sétimo dia seguido de baixas.

Um levantamento feito pela Economatica, a pedido do E-Investidor, mostra que o “Dólar Ptax”, que representa o preço médio calculado pelo Banco Central, acumula uma depreciação de 13,87% este ano. A realidade é bem diferente do primeiro trimestre de 2021, quando a moeda estrangeira acumulava ganhos de 9,6%.

Cotação atual do dólar

Acumulado do 1º tri de 2021

Acumulado de 2021

Acumulado de 2022*

9,63%

7,40%

-13,87%

Fonte: Einar Rivero / Economatica/*Retorno no acumulado até 24/03/2022

Uma daz razões para a valorização do real é o movimento de alta da taxa de juros no Brasil, que atrai também os investidores estrangeiros. Atualmente, a Selic está em 11,75%, mas a projeção mais recente do Boletim Focus é de que a taxa básica de juros encerre 2022 em 13% ao ano.

Segundo Edmar de Oliveira, operador da mesa de renda variável da One Investimentos, a taxa de juros nominal no País é uma das maiores em comparação a outros mercados similares.

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“Quando você compara com outros países emergentes, como o México, Indonésia e África do Sul, o Brasil tem uma das taxas de juros nominal mais altas e caminha para ter a maior do mundo”, destaca. Neste cenário, o investidor internacional consegue rentabilizar mais no Brasil do que em outro país. “Ele pega o dinheiro emprestado no exterior a juros de 0,7% a 1% e aplica no Brasil, que tem juros nominais com uma taxa real muito mais alta. Ele ganha nesse diferencial”, explica Oliveira.

Outro motivo para a volatilidade no câmbio é a pressão que a guerra entre Rússia e Ucrânia tem no preço das commodities globais, em alta por causa de um desequilíbrio entre oferta e demanda. Isso também tem ajudado na depreciação do dólar frente ao real. De acordo com Adauto Lima, economista-chefe da Western Asset, o Brasil se beneficia nesse contexto por ser um dos principais produtores de commodities do mundo. “As moedas ligadas às commodities também apresentam um bom desempenho. Isso justifica, apesar da surpresa, o movimento atual do real”, afirma Lima.

Paulo Cunha, CEO da iHUB Investimentos, concorda que esse movimento nas commodities cria uma situação macroeconômica favorável para a economia brasileira. “Como o Brasil é um grande exportador dessas matérias-primas, como petróleo e minério de ferro, naturalmente a balança de pagamentos acaba sendo mais favorável. O Brasil acaba se valorizando e a moeda também”, diz.

Chegou a hora de comprar dólar?

O dólar em baixa pode soar como um atrativo para os brasileiros, que costumam aproveitar esses momentos para comprar valores em moeda americana. O banco Itaú, por exemplo, bateu recorde de venda de dólar e euro em espécie no mês de fevereiro. Dados da Travelex Confidence, especialista de câmbio no Brasil, sobre a compra de moedas estrangeiras mostram que, desde a invasão russa à Ucrânia no dia 24 de fevereiro, as operações em dólar saltaram 24%.

Mas essa é mesmo uma boa hora para comprar? Max Marchon, COO da Frente Corretora, afirma que algumas projeções no mercado apontam para novas quedas do dólar nas próximas semanas. A expectativa é que a cotação da moeda norte-americana possa chegar ao patamar de R$ 4,50. No entanto, Marchon ressalta que os investidores devem levar em consideração a possibilidade de altas logo após esse movimento de queda.

“No mercado de câmbio, movimentos muito rápidos de queda tendem a ser corrigidos com algumas altas posteriores”, diz. Por isso, a orientação do COO é acompanhar de perto todos os fatores internos e externos que podem trazer volatilidade ao mercado brasileiro para não ser pego de surpresa com o sobe e desce da moeda.

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Mas, enquanto o dólar seguir neste percurso de queda, Idean Alves, chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, acredita que o momento é excelente para quem deseja comprar dólar com o objetivo de viajar para o exterior. “A média dos últimos meses foi em torno de R$ 5,30, o que representa um desconto médio de 10%, considerando que hoje está sendo negociado a R$ 4,80”, avalia Alves.

Sem uma viagem nos planos, Marcelo Oliveira, CFA e fundador da Quantzed, a oportunidade não é tão boa assim. “Apesar de o preço começar a ficar mais convidativo, o carrego dessa posição comprada no dólar sai caro com a Selic alta, pois o investidor “paga” todo dia o CDI para carregar a posição comprada no futuro do dólar. Com mais altas previstas, vamos cotinuar vendo a entrada de dinheiro de fora, principalmente para renda fixa”, afirma.

Alexandre Netto, head de Câmbio da Acqua Vero Investimentos, afirma ainda que, a um nível próximo a R$ 4,80, grande parte do potencial de valorização do real já foi realizado. O especialista destaca que existem riscos importantes para a moeda brasileira no curto e médio prazos, principalmente tratando-se de um ano de eleição presidencial. O dólar costuma ser uma maneira de se proteger da volatilidade em anos eleitorais.

“Ter exposição a uma moeda forte como o dólar é uma maneira de proteger o poder de compra em momentos de desvalorização ou inflação da moeda local. É importante, entretanto, notar o perfil específico do investidor, especialmente apetite e capacidade de tomar risco, dada a alta volatilidade de retorno nesta classe de ativos”, diz.

Marcos Weigt, head da Tesouraria do Travelex, não acredita que a valorização do real frente ao dólar deva perdurar justamente por causa desses riscos. E reforça: pode ser um bom momento para fazer hedge – a estratégia de investimento que tem como objetivo proteger o valor de um ativo, evitando perdas com possíveis desvalorizações.

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“Daqui em diante, o dólar tem menos para cair do que para subir. A partir de abril, as eleições devem entrar de vez no radar dos investidores e obviamente impactar esse cenário. Hoje, analiso que seja um momento propício para empresas e investidores fazerem hedge ”, destaca Weigt.

Para o investidor que for aproveitar a queda do dólar para hedge, Rafael Marques, CEO da Philos, orienta que é hora de buscar um preço médio: “Vale a tática do preço médio, compra um pouco agora e, se continuar a cair, compra um pouco mais depois. Não compre tudo de uma vez só”, diz.

 

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