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- Os títulos prefixados se beneficiam quando a expectativa é de que os juros caiam. Por outro lado, se desvalorizam quando os juros sobem
- Para Marília Fontes, da Nord Research, ainda é cedo para investir em prefixados, uma vez que os indicadores de inflação ainda não mostram sinais consistentes de melhora
- Fabio Louzada, economista, analista CNPI e fundador e CEO da escola Eu Me Banco, que capacita e forma profissionais para atuação na área de investimentos, vê os prefixados como uma opção interessante no momento, principalmente os títulos mais longos
No dia 15 de junho de 2021, o Tesouro Prefixado (LTN) com vencimento para 2026 oferecia uma rentabilidade de 8,48% ao ano e cada unidade poderia ser adquirida por R$ 690,62. Na época, a taxa básica de juros da economia, a Selic, estava em 4,25% ao ano.
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Quem comprou esse papel pode ter achado que fez um bom negócio, já que o rendimento era o dobro da Selic. No atual momento, as LTNs pagam pelo menos 13% ao ano, na esteira do aumento dos juros no País.
O E-Investidor conversou com analistas para entender se chegou o momento de investir em títulos prefixados. No caso mencionado de quem comprou LTNs em junho do ano passado, o investidor tem duas opções: levar até o vencimento, em 2026, com um retorno inferior (8,48%) ao que o título oferece atualmente ou vendê-lo com prejuízo. É que o unitário do Prefixado 2026 estava valendo R$ 652,78 até o fechamento da última quarta-feira (15) – uma desvalorização de 5,47% em relação ao preço da compra, há 12 meses.
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Essa mudança no preço se chama “marcação a mercado”. Em termos gerais, quando a expectativa é a de que os juros subam, os prefixados e títulos híbridos (Tesouro IPCA+) tendem a se desvalorizar. Por isso, casas de research como a Nord não recomendavam o investimento em prefixados ou IPCA+ desde que a autoridade monetária começou a subir a Selic, em meados de 2020.
Com os juros atuais em 13,25%, maior patamar desde 2016, será que chegou finalmente a hora de investir em prefixados, visando um encerramento do aperto monetário?
Divergências
Para Marília Fontes, sócia-fundadora da Nord Research, ainda não chegou o momento. Apesar da vontade do BC de parar o aperto monetário, na visão dela ainda faltam sinais consistentes de arrefecimento da inflação. Com isso, a autoridade poderá ser obrigada a subir juros além do que o mercado espera. “E quando os juros sobem mais do que o mercado espera, os prefixados e indexados à inflação são reprecificados para baixo, eles têm prejuízo.”
A visão mais cautelosa com a inflação é compartilhada pelo BC. Em nota divulgada na última quarta, o Comitê de Política Monetária (Copom) sinalizou que o ciclo de alta de juros pode continuar.
“O Copom considera que, diante de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista”, afirma a autoridade monetária.
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Nesse cenário, os títulos pós-fixados (Tesouro Selic) seriam ainda os mais indicados, já que rendem a variação da Selic. Logo, quanto mais os juros sobem, mais retorno o investidor tem. De acordo com Fontes, os prefixados e indexados à inflação vão começar a performar bem quando o País estiver em uma trajetória de queda dos juros, o que pode acontecer quando a inflação começar a ceder ou quando o governo começar a gastar menos.
A especialista aponta que os prefixados se valorizaram de 2016 a 2019, entre o governo de Michel Temer e o início do mandato de Jair Bolsonaro, quando os riscos fiscais e a inflação diminuíram. Com isso, a Selic caiu de 14,25% para 4,5%. No período, o Tesouro Prefixado 2021, por exemplo, se valorizou 104,83%.
“Tiveram reformas estruturantes que melhoraram o fiscal e, portanto, tivemos um longo ciclo de queda na Selic”, diz Fontes. A visão dela, porém, não é unânime.
Fabio Louzada, economista, analista CNPI e fundador e CEO da escola Eu Me Banco, que capacita e forma profissionais para atuação na área de investimentos, vê os prefixados como uma opção interessante no momento, principalmente os títulos mais longos. “Acredito que essa taxa vai voltar a cair nos próximos meses para 8%, 7% ou 6%, então garantir um prefixado pagando cerca de 13% ao ano é um bom negócio”, afirma Louzada. “No curto prazo, o risco de a inflação passar a taxa do prefixado é maior. Então, acredito que o prefixado vale mais no longo prazo.”
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Contudo, o investidor deve ter em mente os riscos. “Você pode sofrer marcação a mercado se não deixar o dinheiro rendendo até fim do prazo, então precisa tomar cuidado e ter consciência”, diz Louzada.
Os títulos que pagam a inflação mais uma taxa prefixada também estariam atraentes, já que garantiriam um juro real ao investidor. Os riscos relacionadas à marcação a mercado também devem ser levados em conta nesta categoria, assim como ocorre com os prefixados. O ideal é levar até o vencimento para não sofrer prejuízos na hora do resgate.
“Se a gente entende que juros vão subir é porque estamos em um cenário em que a inflação subiu muito também e se descontrolou, então o investidor ganha com investimentos atrelados ao IPCA”, afirma o fundador da Eu Me Banco.
Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil, escritório credenciado da XP Investimentos, acredita também que chegou a hora de o investidor começar a se posicionar em prefixados e IPCA+. De acordo com o especialista, a inclinação da curva de juros (projeções para Selic nos próximos anos) mostra que o mercado já está precificando uma potencial queda da Selic no curto prazo.
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Alves vê a inflação convergindo para a meta no médio prazo. “Títulos atrelados à inflação também são interessantes em curto prazo, pois à medida que a inflação caminha para o centro da meta, a tendência é que as boas taxas de hoje comecem a reduzir.”
Em junho, a carteira de títulos públicos da Ágora Investimentos veio com a configuração de 65% em Tesouro IPCA+ 2026 e 35% em Tesouro Selic.
“Nossa carteira recomendada do Tesouro Direto para os próximos 30 dias considera que o quadro inflacionário deverá continuar pressionado no curto prazo não somente no Brasil como no mundo, e as expectativas para 2022 e 2023 serão preponderantes para as decisões do Copom nas próximas reuniões. A Selic deverá encerrar 2022 acima de 13% segundo estimativas dos nossos economistas”, afirma o time de renda fixa da corretora.
Unanimidade
Enquanto os prefixados ainda geram divergências, os benefícios dos pós-fixados são unanimidade. Com o aumento da Selic, o Tesouro Selic é o título mais beneficiado e também o mais conservador. Ou seja, o investidor não corre o risco de vender e ter prejuízo, uma vez que o papel não é sensível à marcação a mercado.
“Nesse momento de inflação alta e juros subindo, investimentos pós-fixados como LCIs (Letras de Crédito Imobiliário), CDBs (Certificados de Depósito Bancário) e Tesouro Selic são os mais indicados”, afirma Louzada. “Esses investimentos caem bem como reserva de emergência. Recomendo ativos de até dois anos com liquidez diária e retorno próximo a 100% do CDI.”
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Liao Yu Chieh, educador financeiro do C6 Bank, ressalta as vantagens dos investimentos conservadores em um momento de taxas de juros de dois dígitos. “É mais do que esperado que o investidor prefira neste momento a tranquilidade da renda fixa, principalmente aquele que não pode ou não quer se sujeitar à volatilidade da renda variável”, diz.
Chieh fez uma simulação de quanto renderia R$ 5 mil aplicados na Poupança, no Tesouro Selic ou em CDBs durante 12 meses. No cálculo já estão descontados o Imposto de Renda, cuja alíquota é de 17,5% (um ano).