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- Com a Selic em 13,75%, os investimentos de renda fixa saltam aos olhos. E, para o economista-chefe do Original, devem seguir como os ‘reis do portfólio’
- Caruso também afirma que, olhando o Ibovespa como um todo, os atuais patamares de preço das ações estão bastante descontados frente ao lucro que as empresas estão entregando
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) confirmou na quarta-feira (3) as expectativas do mercado ao elevar a taxa básica de juros do País, a Selic, em 0,50 ponto percentual. Agora, ela está em 13,75% ao ano.
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O ajuste monetário liderado pelo BC começou ainda em 2021 como uma forma de combater a inflação, que vem dando sinais de arrefecimento. Em julho, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) teve alta de 0,13%, uma queda de 0,56 pontos percentuais frente à taxa de 0,69% registrada em junho. O IPCA-15 era de 0,59% em maio e 1,73% em abril.
O início da melhora dos indicadores de inflação fez o mercado revisar suas projeções para 2022. O boletim Focus mais recente, publicado na segunda-feira (1), reduziu pela quinta vez consecutiva a expectativa de IPCA para o fim do ano, de 7,30% para 7,15%
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Para Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original, a melhora pontual na inflação ainda não é reflexo dos movimentos do Banco Central para controlar a alta dos preços, mas dos atos políticos que, por exemplo, reduziram os impostos dos combustíveis. No entanto, a desinflação deve começar a ocorrer em breve.
“Fizemos um ciclo de alta nos juros muito forte e muito rápido; e existe uma certa defasagem entre uma coisa virar outra. Ainda não está ainda nos dados, mas deve ganhar força ao longo do tempo”, diz Caruso.
Com uma Selic terminal perto de 13,75%, os investimentos de renda fixa saltam aos olhos. E, para o economista-chefe do Original, devem seguir como os ‘reis do portfólio’. “O tamanho dos prêmios na renda fixa ainda é razoavelmente grande, dado que a cautela impera pelos próximos seis meses ou um ano”, diz ele.
Veja como ficam os investimentos na renda fixa com a Selic em 13,75% ao ano.
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Ao E-Investidor, Caruso falou sobre o cenário de investimentos com os juros em alta pelo mundo e uma eleição no radar. Confira:
E-Investidor – O IPCA-15 avançou 0,13% em julho, menos do que em meses anteriores. O que isso diz sobre o aperto monetário no País?
Marco Caruso – Muito pouco. Os sinais de que o ciclo monetário (as sucessivas elevações da Selic) está surtindo efeito na economia não são claros. Talvez nas expectativas de inflação, que certamente estariam mais altas se não fosse o ciclo de juros. Os números de deflação recentes têm mais a ver com os cortes de impostos que vimos recentemente.
Mas espero uma deflação. Fizemos um ciclo de alta muito forte e muito rápido. A deflação não está ainda nos dados, mas está por vir. É uma história que vai começar a acontecer a partir daqui e que vai ganhar força ao longo do tempo.
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Após a divulgação do IPCA-15, a avaliação do Original dizia que o pior momento da inflação havia ficado para trás, mas que levá-la de volta para a meta será uma batalha longa. O que mais precisa ser feito?
Caruso – A desaceleração da atividade econômica precisa ser maior. O que está faltando é o tranco da política monetária virar um tranco na atividade econômica e, consequentemente, nos preços. Me parece inevitável que a gente passe a ver dados de atividade mais fracos para os próximos 12 ou 18 meses. É lógico que ninguém quer um PIB fraco, mas faz parte da arrumação de casa aos olhos da inflação.
Um outro ponto, que depende menos da política monetária, mas que sempre tem que ser citado, é que o BC está trabalhando sozinho nessa. O lado fiscal da história está jogando contra, com risco e incertezas ainda latentes.
Parte do mercado colocou este último encontro do Copom como o mais importante do ano. A expectativa era de um BC mais taxativo sobre o fim do ciclo de alta da Selic?
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Caruso – Estrategicamente, não acho que o Copom precise fechar a porta para uma eventual elevação em setembro. Não tem porque ser taxativo. No fundo, os condicionantes para ele parar o ciclo pioraram de uma reunião para cá, especialmente a inflação projetada para 2023.
Quais são as estimativas de Selic do Banco Original para este e o próximo ano?
Caruso – Esperamos uma Selic de 13,75% ao ano até o final de 2022. Dado que esse desafio desinflacionário vai persistir em 2023, a minha percepção é que a taxa fique em 13,75% ao ano vai permanecer. Pelo menos até algum momento entre o segundo e o terceiro trimestre do ano que vem, antes que seja possível discutir os cortes de forma saudável e consistente.
Nas últimas semanas, vimos o BCE e o Federal Reserve darem continuidade ao aperto monetário nas economias mais desenvolvidas do mundo. Esses movimentos podem afetar a duração do ciclo de alta nos juros no Brasil?
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Caruso – Até a reunião do Fed, na última semana de julho, a minha resposta seria taxativa: sim. O mundo subir juros tem duas implicações para o Brasil. No curto prazo, acaba desenhando uma taxa mais alta por aqui, principalmente pelo canal do câmbio. Mas, no médio prazo, é melhor que tenham mais BCs subindo juros porque, no fundo, uma parte importante da inflação alta é global.
Só que os detalhes da reunião nos EUA foram mais dovish. Olhando apenas para a decisão, na margem, é um Fed que diz para o nosso BC “você já fez bastante, até eu estou pensando em reduzir o passo’.
Você acredita que a economia dos Estados Unidos vai entrar em recessão? De que forma isso impactaria o cenário de investimentos?
Caruso – O desafio de desinflacionar a economia também é muito grande por lá. As commodities e as cadeias globais melhoraram, mas quando olho os dados do mercado de trabalho americano vejo uma desinflação ainda muito difícil para o ano que vem.
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Isso é importante para discutir recessão, porque mesmo que o Fed desenhe que não quer subir tanto os juros, vai precisar. Para levar a inflação para a meta de 2%, é quase inevitável uma recessão nos EUA. Não acho que ela é iminente, mas para meados do ano que vem isso passa a ser o cenário base.
No fundo, se a maior economia do mundo entra em recessão, o viés para a tomada de risco é negativo. Ao mesmo tempo, é nesses momentos que aparecem as melhores oportunidades de compra. Esperaria no mínimo uma volatilidade bem alta e, no caso de uma forte correção, o investidor que tiver mais apetite pode começar a olhar com mais carinho para os ativos de risco.
A bolsa brasileira tem ativos bastante descontados, sofrendo principalmente com a pressão macroeconômica vinda do exterior. Quais são as melhores oportunidades?
Caruso – Olhando o Ibovespa como um todo, os atuais patamares de preço estão bastante descontados frente ao lucro que as empresas estão entregando. A história da Bolsa neste primeiro semestre foi essencialmente de commodities, mas estamos chegando em um momento que, se estamos falando de uma recessão, a correção das commodities pode ser mais clara em uma janela de um a dois anos.
Vai começar a valer a pena migrar desses ativos para aqueles mais sensíveis a juros menores. Setores ligados ao consumo podem ser a próxima oportunidade da vez, imaginando um corte de juros no Brasil a partir do segundo semestre de 2023 e uma desinflação maior que vai liberar renda disponível para as famílias.
Mas falta um pouco para começar a montar posições pensando nisso. Isso é uma história para meados de 2023 – até lá, a cautela ainda impera.
Com a Selic em 13,75%, vale a pena assumir o risco da renda variável ou a renda fixa deve seguir como a estrela dos portfólios?
Caruso – O tamanho dos prêmios na renda fixa ainda é razoavelmente grande, dado que a cautela impera pelos próximos seis meses ou um ano, e que essa história de rotação de setores é coisa para 2023. O rei do portfólio ainda é a renda fixa.
Com a perspectiva de que o BC em breve encerre o ciclo de alta nos juros, está na hora de começar a olhar para os títulos prefixados? Quais as melhores opções?
Caruso – Sim e há algum tempo. Nas carteiras recomendadas, já temos alocado mais no prefixado, que tem uma história boa para curto prazo, de um a dois anos. Muito além disso, entra em uma seara mais difícil de controlar, em que a história fiscal vale mais do que a monetária. Não iria em prazos além de dois anos com esses títulos.
Prefixado e as NTN-Bs (Tesouro IPCA+) pensando na curva de juros longa, tudo é interessante. A curtíssima nem tanto por causa das deflações que estão por vir, mas para o longo prazo, no caso de um ativo que te pague IPCA + 6%, não precisa nem pensar.
Em agosto, começa oficialmente o período de campanha eleitoral. O que o investidor pode esperar?
Caruso – Certamente volatilidade, porque estamos vendo uma certa tendência de redução de distância entre os principais candidatos. Algum tipo de dividendo político vai render o fato de a inflação e o desemprego estarem caindo. Então a tendência é a bola ficar mais dividida daqui até as eleições.
Para o mercado, independentemente do candidato A ou B, o que mais importa são as incertezas; e bola dividida é sempre sinônimo de incerteza.
A discussão política ainda vai dar pano para manga, mas, no fundo, são dois candidatos já experimentados, não tem novidade.
Como os clientes do Banco Original estão acompanhando a disputa presidencial? Algum tema tem preocupado mais?
Caruso – Eu não posso responder pelos clientes, mas uma dúvida justa – que eu como economista tenho e certamente os brasileiros que estão acompanhando também têm –, é a questão fiscal. A foto não é ruim, com superávit primário, mas o que a gente percebe é que não temos nenhuma regra fiscal no Brasil crível o suficiente para desenhar algum tipo de arrumação de casa no endividamento, que é alto. Uma das linhas de defesa era a constituição, com o Teto de Gastos, que foi mudada assim que fez sentido politicamente.
Essa é uma ponta solta que vamos ter que discutir, mas ninguém quer fazer isso em eleição, porque não rende dividendos políticos. Essa é a primeira pergunta que o mercado vai se fazer no dia 1 de janeiro de 2023.
Como todos esses fatores em jogo e a promessa de ainda mais volatilidade no mercado até o fim do ano, como montar uma carteira defensiva?
Caruso – A melhor estratégia histórica é a diversificação, não só entre classes de ativos, mas também regional. Você pode alocar em todo tipo de ativos em reais, mas no fundo todos eles têm o risco Brasil. Algum tipo de defesa usando dólar, por exemplo, é válida. Outra opção que continua viva é a bolsa americana ou ativos denominados em moeda forte.