- O IronKey dá aos usuários dez tentativas antes de travar e criptografar seu conteúdo para sempre
- A Wallet Recovery Services, uma empresa que ajuda a encontrar chaves digitais perdidas, disse ter recebido 70 solicitações por dia de pessoas que queriam ajuda para recuperar suas riquezas, três vezes o número de um mês atrás
(Nathaniel Popper/The New York Times) – Stefan Thomas, programador alemão que mora em São Francisco, ainda tem duas chances para descobrir uma senha que vale, até esta semana, cerca de US$ 220 milhões.
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A senha permitirá que ele desbloqueie um pequeno disco rígido, conhecido como IronKey, que contém as chaves privadas de uma carteira digital que contém 7.002 bitcoins. Embora o preço do Bitcoin tenha caído drasticamente na segunda-feira, 11, ainda está mais de 50% maior em relação ao mês anterior, quando ultrapassou seu recorde anterior de cerca de US$ 20.000.
O problema é que Thomas, anos atrás, perdeu o papel em que anotava a senha de seu IronKey, que dá aos usuários dez tentativas antes de travar e criptografar seu conteúdo para sempre. Desde então, ele tentou oito de suas formulações de senha mais comumente usadas – sem sucesso.
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“Eu simplesmente ficava deitado na cama e pensava a respeito”, disse Thomas. “Então, ia para o computador com alguma estratégia nova, não funcionava e eu ficava desesperado novamente.”
O Bitcoin, que tem estado em uma operação extraordinária e volátil nos últimos oito meses, tornou muitos de seus detentores muito ricos em um curto período de tempo, mesmo enquanto a pandemia do novo coronavírus devastava a economia mundial.
Mas a natureza incomum da criptomoeda também significa que muitas pessoas estão impedidas de ter acesso às suas fortunas de Bitcoin devido a senhas perdidas ou esquecidas. Elas foram forçadas a ver, sem poder fazer nada, o valor da moeda subir e cair drasticamente, incapazes de lucrar com sua riqueza digital.
Dos 18,5 milhões de bitcoins existentes, cerca de 20% – atualmente valendo cerca de US$ 140 bilhões – parecem estar em carteiras perdidas ou abandonadas, de acordo com a empresa de dados de criptomoeda Chainalysis. A Wallet Recovery Services, uma empresa que ajuda a encontrar chaves digitais perdidas, disse ter recebido 70 solicitações por dia de pessoas que queriam ajuda para recuperar suas riquezas, três vezes o número de um mês atrás.
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Os proprietários de bitcoins que não têm acesso à carteira falam de dias e noites intermináveis de frustração enquanto tentam obter acesso às suas fortunas. Muitos possuem as moedas desde os primeiros dias do Bitcoin, uma década atrás, quando ninguém tinha confiança de que os tokens valeriam alguma coisa.
“Ao longo dos anos, eu diria que passei centenas de horas tentando recuperar essas carteiras”, disse Brad Yasar, um empresário em Los Angeles que possui alguns computadores desktop que contêm milhares de bitcoins que ele criou, ou extraiu, durante os primeiros dias da tecnologia. Embora esses bitcoins agora valham centenas de milhões de dólares, ele perdeu suas senhas há muitos anos e colocou os discos rígidos que os continham em bolsas seladas a vácuo, fora de seu campo de visão.
“Não quero ser lembrado todos os dias de que o que tenho agora é uma fração do que poderia ter tido e perdi”, disse ele.
O dilema é um doloroso lembrete dos fundamentos tecnológicos incomuns do Bitcoin, que o diferenciam do dinheiro normal e lhe conferem algumas de suas qualidades mais alardeadas – e mais arriscadas. Com contas bancárias tradicionais e carteiras online, bancos como o Wells Fargo e outras empresas financeiras como o PayPal podem fornecer às pessoas as senhas de suas contas ou redefinir as senhas perdidas.
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Mas o Bitcoin não tem empresa para fornecer ou armazenar senhas. O criador da moeda virtual, uma figura obscura conhecida como Satoshi Nakamoto, disse que a ideia central do Bitcoin era permitir que qualquer pessoa no mundo abrisse uma conta bancária digital e retivesse o dinheiro de uma forma que nenhum governo pudesse impedir ou regular.
Isso é possível pela estrutura do Bitcoin, que é governada por uma rede de computadores que concordou em seguir um software contendo todas as regras para a criptomoeda. O software inclui um algoritmo complexo que possibilita a criação de um endereço e a chave privada associada, que só é conhecida por quem criou a carteira.
O software também permite que a rede Bitcoin confirme a veracidade da senha para permitir transações, sem ver ou saber a senha. Resumindo, o sistema permite que qualquer pessoa crie uma carteira Bitcoin sem ter que se registrar em uma instituição financeira ou passar por qualquer tipo de verificação de identidade.
Isso tornou o Bitcoin popular entre os criminosos, que podem usar o dinheiro sem revelar sua identidade. Também atraiu pessoas em países como China e Venezuela, onde governos autoritários são conhecidos por invadir ou fechar contas bancárias tradicionais.
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Mas a estrutura desse sistema não levou em consideração o quão ruins as pessoas podem ser para lembrar e proteger suas senhas.
“Mesmo investidores sofisticados têm sido completamente incapazes de fazer qualquer tipo de gerenciamento de chaves privadas”, disse Diogo Monica, cofundador de uma startup chamada Anchorage, que ajuda empresas a lidar com a segurança de criptomoedas.
Ele abriu a empresa em 2017, depois de ajudar um fundo de investimento a recuperar o acesso a uma de suas carteiras de Bitcoin.
Thomas, o programador, disse que foi atraído pelo Bitcoin em parte porque a moeda estava fora do controle de um país ou de uma empresa. Em 2011, quando morava na Suíça, ele recebeu 7.002 bitcoins de um dos primeiros fanáticos por Bitcoin como recompensa por fazer um vídeo de animação chamado “O que é Bitcoin?”, que apresentou a tecnologia a muitas pessoas.
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Naquele ano, ele perdeu as chaves digitais da carteira com o pagamento em Bitcoin. Desde então, como o valor da criptomoeda disparou e caiu e ele não conseguiu colocar as mãos no dinheiro, Thomas deixou de achar que as pessoas deveriam ser seus próprios bancos e ter controle de seu dinheiro.
“Toda essa ideia de ser seu próprio banco – deixe-me colocar da seguinte forma: você faz seus próprios sapatos?”, indagou Thomas. “A razão de termos bancos é que não queremos lidar com todas as coisas que os bancos fazem.”
Gabriel Abed, 34 anos, empresário de Barbados, perdeu cerca de 800 bitcoins – o que agora valeria cerca de US$ 25 milhões – quando um colega reformatou um laptop que continha as chaves privadas de uma carteira Bitcoin em 2011.
Abed disse que isso não diminuiu seu entusiasmo. Antes do Bitcoin, disse, ele e seus colegas do país insular não tinham acesso a produtos financeiros digitais acessíveis, como cartões de crédito e contas bancárias que estão facilmente disponíveis para os americanos. Em Barbados, até mesmo conseguir uma conta no PayPal era quase impossível, disse ele. A natureza aberta do Bitcoin, disse, deu a ele acesso total ao mundo financeiro digital pela primeira vez.
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“O risco de ser meu próprio banco vem com a recompensa de poder acessar livremente meu dinheiro e ser um cidadão do mundo – vale a pena”, disse Abed.
Para Abed e Thomas, quaisquer perdas com o manuseio incorreto das chaves privadas foram parcialmente amenizadas pelos enormes ganhos que eles conseguiram com o Bitcoin que conseguiram manter. Os 800 bitcoins que Abed perdeu em 2011 foram uma pequena fração dos tokens que ele comprou e vendeu, permitindo-lhe comprar recentemente um terreno de 100 acres à beira-mar em Barbados por mais de US$ 25 milhões.
(Tradução de Romina Cácia)