- Junho foi marcado pelo bom humor no mercado, em reflexo da atividade econômica com sinais de resiliência e um controle maior da inflação
- O encaminhamento do arcabouço fiscal para o Senado e a possibilidade de corte da Selic em agosto foram destaque
- Nesse cenário, a renda fixa continua uma excelente relação de retorno versus risco, mas vai perder a sua atratividade ao longo do tempo, explica Philipe Biolchini, diretor de investimentos da gestora Bradesco Asset Manegement (Bram)
Junho foi marcado pelo bom humor no mercado, em reflexo da atividade econômica com sinais de resiliência e um controle maior da inflação. O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, encerrou o semestre com uma valorização de 9%, aos 118 mil pontos, cravando a melhor performance mensal desde dezembro de 2020, segundo dados do TradeMap.
Leia também
Alguns números reforçam a boa fase do cenário econômico. Puxado pelo agronegócio, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 1,9% no 1º trimestre, bem acima das expectativas do mercado financeiro. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), considerado uma prévia da inflação oficial, também surpreendeu positivamente, com uma leve alta de 0,04%. Já o Índice Geral de Preços ao Mercado (IGP-M), conhecido como “inflação do aluguel”, caiu 1,93%. O câmbio foi outro destaque do mês, com uma queda recorde de 5,6% frente ao real, aos R$ 4,78.
Em paralelo, o encaminhamento do arcabouço fiscal e da reforma tributária para o Senado agradou os analistas. “Essa aprovação pode melhorar a percepção do custo Brasil, e deixar um ambiente econômico ainda melhor para o segundo semestre”, diz Philipe Biolchini, diretor de investimentos da gestora Bradesco Asset Management (Bram).
Publicidade
Na perspectiva dos juros, a mais recente reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) determinou a manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano. No entanto, a ata da instituição citou possibilidades de cortes em agosto. A sinalização reduz as incertezas e permite novas projeções até o fim do ano. “A Selic deve chegar abaixo de 12% ao ano e o Ibovespa pode superar os 140 mil pontos”, destaca Biolchini. Neste cenário, ele projeta que a Selic caia para 10% ao longo do ano de 2024.
O diretor da Bram também falou sobre quais investimentos devem diminuir a relevância na carteira a partir de agora. “A renda fixa continua uma excelente relação de retorno versus risco, mas vai perder a sua atratividade ao longo do tempo. E o papel do investidor, para poder ter um resultado um pouco melhor, é antecipar esse movimento”, afirma.
Como os investidores podem rever o portfólio considerando uma possível queda de juros em agosto?
Devem começar a olhar para alternativas de mais risco, mas também com mais retorno. É bem possível que, até o final do ano, as taxas tenham caído a níveis bem mais baixos, com expectativa de chegarem a um dígito. Provavelmente, os ativos que estarão interessantes nesse momento já vão ter se movimentado. É o momento de o investidor que estava muito conservador, corretamente, começar a avançar e a tomar um pouco mais de risco.
Publicidade
A recomendação é trocar a renda fixa por ativos de risco?
Sim, cada vez mais. A renda fixa continua com uma excelente relação de retorno versus risco, mas vai perder a sua atratividade ao longo do tempo. O papel do investidor, para poder ter um resultado um pouco melhor, é antecipar esse movimento. Hoje ainda temos juros muito elevados mensalmente, taxas superiores a 1% ao mês, que certamente vão cair ao longo do segundo semestre.
Como os fundos quantitativos da Bram conseguem precificar esse novo cenário de juros?
Os fundos quantitativos são muito bons em analisar padrões históricos e observar se eles vão se repetir lá na frente. O que percebemos é que eles tão indicando que, se de fato essa queda se consolidar, existem ativos que podem se valorizar muito, como as empresas de menor capitalização, as small caps. Ali existem fundos que estão se antecipando e fazendo a alocação em setores que se beneficiaram no passado de um ciclo tão profundo de queda de juros.
Publicidade
Entre os 110 fundos imobiliários listados no Ifix, 92 performaram acima da inflação no primeiro semestre. É hora de olhar para os FIIs?
Sem dúvida nenhuma. Claro, sempre com bastante atenção e análise. Cada fundo tem uma característica e há setores que podem sair mais na frente do que outros, que ainda têm um pouco mais de dificuldade. Gostamos dos chamados fundo de fundos, que fazem uma seleção dos melhores. Para o investidor que vai direto, a oportunidade está se materializando cada vez mais.
Existe um movimento crescente de volta para os escritórios no pós-pandemia. Mais um ponto positivo para os fundos imobiliários?
Eu acho que sim. Os índices de ocupação estão dando sinais de recuperação e vimos que a oferta mobiliária deu uma reduzida com a crise. Então você tem naturalmente a economia crescendo. A demanda existe, ela tem um padrão de crescimento já estabelecido. Agora temos a demanda se recuperando com uma oferta que demora a reagir. Dessa forma, o padrão de oferta e demanda tende a ser positivo e, obviamente, o índice de ocupação maior também tende a ser positivo. A queda da taxa de juros é ainda um outro competidor muito importante.
Publicidade
Como o Sr. avalia a reforma tributária?
Hoje o nosso ambiente tributário é um grande detrator de produtividade. A reforma mais relevante pra impulsionar o crescimento seria essa. O esforço em simplificar tende, ao longo do tempo, reduzir o tempo gasto gasto pelas empresas para pagar impostos, além de reduzir o contencioso. Isso é um choque de produtividade na veia. Essa aprovação pode melhorar a percepção do custo Brasil, e deixar um ambiente econômico ainda melhor para o segundo semestre.
Publicidade