Evento discutiu regulação do uso da IA no sistema financeiro. Foto: Adobe Stock
Enquanto as discussões sobre o uso da Inteligência Artificial (IA) dentro do sistema financeiro avançam, especialistas apontam que o Brasil tem potencial para se destacar na regulação da área. Em encontro promovido pelo Barcellos Tucunduva Advogados (BTLAW), nesta quarta-feira (25), representantes da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), do Banco Central (BC), da empresa de tecnologia EcommIT e especialistas do setor jurídico debateram os caminhos para tornar isso possível.
“Temos um dos sistemas financeiros mais sofisticados do mundo. Se atuarmos com inteligência, escuta ativa e sem arrogância, podemos liderar também na regulação da IA aplicada ao setor”, destacou Antonio Marcos Guimarães, consultor no Departamento de Regulação do Sistema Financeiro do BC.
A quarta edição do estudo “FinFacts – descobertas e oportunidades que valorizam os serviços financeiros”, lançado pelo Google Cloud no final de maio, em parceria com a agência R/GA, mapeou que os bancos brasileiros ainda não estão aproveitando todas as vantagens oferecida pela IA.
Em entrevista ao E-Investidornesta matéria, Ricardo Fernandes, head do Google Cloud no Brasil, explicou que a inteligência artificial ajuda não só no tratamento do cliente, como também nas operações internas das instituições. “Existem casos que afetam não só a linha de frente, na abordagem com o cliente, mas também internamente, no sentido de produtividade e eficiência operacional. Em última instância, é o que o banco quer: melhorar cada vez mais o Retorno sobre o Patrimônio (ROE), que é afetado pela eficiência acima de tudo”, afirma.
PL quer supervisionar uso de IA no Brasil
O evento abordou o Projeto de Lei (PL) nº 2.338/2023, atualmente em tramitação no Congresso, que propõe a criação do Sistema Nacional de Governança de Inteligência Artificial (SIA), formado por cinco órgãos, incluindo o Banco Central e a CVM. A proposta é que a coordenação da SIA fique a cargo da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD). O projeto busca estabelecer uma estrutura coordenada para supervisionar o uso da IA no Brasil, com foco na transparência, redução de riscos e proteção de direitos.
Guimarães, do BC, destacou que, entre os pilares defendidos pelo órgão, estão a supervisão humana – recomendada para situações críticas –, a explicabilidade dos sistemas e a transparência nos processos de decisão automatizados. “É inviável, porém, exigir revisão humana para cada interação com a IA. O foco deve estar nos casos em que o impacto ao cidadão ou ao sistema financeiro justifique essa supervisão”, explicou.
Especialistas também alertam para o risco de se importar modelos regulatórios excessivamente rígidos, que acabam afastando startups. “O Brasil precisa encontrar um equilíbrio entre segurança jurídica e fomento ao empreendedorismo digital”, afirmou Fábio Marques, diretor da EcommIT.
Para ele, a prioridade deve estar na governança dos dados, de forma a garantir qualidade, integridade e transparência nas informações que alimentam os sistemas de IA.
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Na avaliação de Giancarllo Melito, sócio do BTLAW, a regulação, quando bem desenhada, é um vetor de confiança e desenvolvimento. “Se olharmos para o mercado de pagamentos, por exemplo, é evidente como a regulação favoreceu a inovação, atraiu investimentos e ampliou a segurança das operações”, pontuou.
Segundo o advogado, o desafio está em evitar excessos na lei sem abandonar o compromisso com um ambiente sólido e previsível para o crescimento tecnológico.
Investidor deve se educar
Para o gestor de inclusão e educação da CVM, Paulo Portinho, o investidor precisa acompanhar as discussões sobre IA e estar no centro das políticas de educação e proteção. “Se o cidadão não se educa, os riscos continuarão existindo – com ou sem inteligência artificial”, disse.
Portinho ressaltou que, embora a discussão envolva as novas tecnologias, o fator principal sempre serão as pessoas. “É como sociedade que precisamos ter mais educação, mais conhecimento”, afirmou. “A única forma de frear a IA seria bloqueá-la. Mas isso não vai acontecer. Alguém, em algum lugar, vai usar – e você vai ser o único que não vai”, acrescentou.