O que este conteúdo fez por você?
- O investimento no mercado de ações pode ser feito de diferentes maneiras e já há algum tempo investidores brasileiros contam com o auxílio das carteiras automatizadas
- Entre as vantagens, esses produtos permitem o acesso à gestão ativa dos portfólios, com investimento em uma estratégia selecionada por um time de analistas e liquidez para resgate
- Mas o mercado diverge sobre os custos das carteiras. Há quem diga que o produto faz sentido, enquanto outros veem risco de conflito de interesses nas taxas de corretagem
O investimento no mercado de ações pode ser feito de diferentes maneiras. Há quem prefira fazer os aportes por conta própria, seguindo recomendações de analistas e casas de investimento, enquanto outros preferem delegar a escolha dos ativos e oportunidades a gestores profissionais via fundos de investimentos. Mas já há algum tempo os investidores brasileiros contam ainda com outra possibilidade: as carteiras automatizadas.
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Como o próprio nome diz, o produto funciona de maneira automatizada. O investidor escolhe a carteira, que é oferecida por grandes bancos ou corretoras de investimento, faz o aporte naquele portfólio, que será reajustado pelos especialistas da instituição escolhida a depender do objetivo e do benchmark ativo. Não há, entretanto, consenso no mercado se o produto é vantajoso ou não.
De um lado, tem quem diga que as carteiras automatizadas podem ser um facilitador para o investidor, sobretudo a pessoa física, acessar o mercado de ações com o auxílio de uma gestão ativa. De outro, os custos cobrados na operação abrem espaço para que alguns especialistas vejam um risco de conflito de interesses – um produto bom para as corretoras, mas ruim para o cliente final.
O que são as carteiras automatizadas
As carteiras automatizadas são serviços de investimento que podem usar algoritmos para criar e gerenciar uma carteira, de acordo com o perfil e objetivos do investidor ou, como é mais comum no País, seguir as carteiras recomendadas da própria corretora automaticamente. A seleção dos ativos é montada por especialistas e vão sendo readequadas para o cenário econômico do momento, condizente com o perfil de risco que pode ser moderado ou agressivo de acordo com a estratégia determinada pela casa de investimento. A cesta de ativos pode ser focada em ações de dividendos ou de crescimento, fundos imobiliários e até criptomoedas.
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“A maioria dos bancos possui esse tipo de carteira, que normalmente são recomendadas para clientes que não tem um assessor focado em ações ou que não tenha muito conhecimento sobre ações e quer começar aplicando em Bolsa, só que com a sugestão de especialistas”, diz Hemelin Mendonça, especialista em mercado de capitais e sócia da AVG Capital.
No geral, esses produtos têm um valor mínimo de investimento, que varia a depender da instituição que gerencia a carteira. Os custos são de corretagem e a média do mercado, segundo Mendonça, é de 0,5% sobre o volume total de ordens na adesão e de compra e venda nos rebalanceamentos. Também há alguns ativos que têm uma taxa fixa anual.
Para uns, melhor que fundos de ações
Dentre as vantagens, investir em ações via carteiras automatizadas permite que o investidor conte com a análise e seleção de ativos de especialistas, sem se preocupar com a hora certa de comprar ou desmontar uma posição. Mas a liquidez, a tributação e o recebimento de dividendos também fazem com que o produto seja comparado aos fundos de ações; e, para alguns especialistas, podem fazer até mais sentido.
Para Mendonça, da AVG, a real vantagem da carteira recomendada frente aos fundos é o prazo de resgate. “Normalmente os fundos têm média de prazo de resgate entre D12 e D61, já a carteira recomendada o prazo médio de resgate é de D3, então o cliente pode ganhar uma agilidade nesse sentido, caso não goste da gestão da carteira.”
Marcelo Boragini, sócio e especialista em renda variável da Davos Investimentos, também gosta da modalidade, especialmente para aqueles investidores que buscam o retorno de dividendos. Nos fundos de ações, os proventos pagos pelas companhias do portfólio são realocados; o cotista ganha apenas com a valorização das cotas. Nas carteiras automatizadas, os valores pingam na conta – e isentos de imposto de renda, como acontece no investimento direto em ações.
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Por se tratar de um investimento em ações, as carteiras pagam IR apenas se os ganhos líquidos obtidos na venda dos papéis excederem o total de R$ 20 mil no mês. O ganho de capital em fundos de investimentos, por sua vez, é cobrado em 15% no momento do resgate.
“Pode fazer sentido para investidores, dependendo do apetite ao risco e perfil. Para aqueles com perfil mais agressivo, as carteiras automatizadas podem ser uma boa opção”, diz Boragini.
Não é, no entanto, uma questão de certo ou errado. Um produto pode fazer mais sentido para um tipo de investidor e não para outro. Tem lugar para todo mundo ao sol, explica Sharoon Halpern, sócia e private banker da Blackbird Investimentos. Mas a especialista entende que as carteiras automatizadas podem, sim, capturar uma parte do atual mercado de fundos de ações.
“Eu gosto muito das carteiras justamente porque permitem o investimento direto nas ações. O investidor consegue ver exatamente quais são os ativos da carteira, enquanto nos fundos o gestor pode omitir por três meses a composição”, explica Halpern. “Com certeza, esses produtos vão capturar uma parte do dinheiro dos fundos, especialmente os long only, mas para a pessoa física. Um investidor institucional por exemplo não vai investir em uma carteira automatizada.”
Para outros, preocupação com custo e conflito de interesses
Apesar das vantagens em questão, há uma parte do mercado que entende que esses benefícios são oferecidos a um preço elevado. Todo produto de investimento tem um custo, claro, mas o ponto de atenção dos especialistas é a forma variável como as carteiras automatizadas remuneram as casas de investimento. A preocupação é que as taxas sejam altas demais – em alguns casos, propositalmente – e isso acabe levando embora o retorno do investidor.
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“Existem taxas e emolumentos nas transações de ações, que podem variar dependendo do giro mensal de cada carteira. Como envolve ganhos nas transações periódicas de ações, é necessário monitorar esses custos em comparação com o retorno gerado acima do mercado”, orienta Denis Omati, diretor de gestão de multi ativos da Constância Investimentos.
A maioria das carteiras automatizadas oferecidas no mercado hoje seguem os valores da Tabela Bovespa para a corretagem. O modelo é antigo e servia de base para limitar a cobrança máxima dos clientes pelas corretoras; isso caiu por terra nos anos 2000, mas ainda é utilizado em alguns produtos.
Nele, o valor da corretagem é um percentual do valor transacionado, mais um custo fixo. Isso significa que em todos os dias em que houver uma operação de compra e venda de ativos, ou seja, em cada atualização, haverá uma cobrança de taxas de acordo com o valor movimentado. Isso faz com que os custos aumentem.
Como as carteiras automatizadas costumam delimitar um valor mínimo de investimento, na casa dos milhares de reais, a corretagem fica nas alíquotas mais elevadas da tabela. Veja:
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E é aí que está o principal ponto de divergência do mercado em relação às carteiras automatizadas. "Olhando rápido, o custo pode parecer barato, mas imagine que a corretora tem o incentivo de ganhar dinheiro com a corretagem. Isso fará com que a equipe de análises que geram as carteiras recomendadas façam movimentações mais frequentes, que não estão alinhadas com os interesses do investidor de longo prazo, aumentando não só o custo de corretagem, mas também o custo com tributos, pelo rebalanceamento mais frequente", explica Felipe Pontes, sócio do L4 Capital.
Se isso acontecer, o produto acaba sendo muito vantajoso para as corretoras, mas pouco rentável para o cliente final. Por isso a preocupação com o conflito de interesses. "Já vi casos de dois ou três rebalanceamentos no mesmo mês, e todos os meses, o que não faz sentido", diz Pontes. "É um produto teoricamente legal, mas que, como quase toda novidade que chega ao Brasil, chega cheia de conflitos de interesses escondidos."
Por isso, antes de investir em uma carteira automatizada, o investidor precisa acompanhar bem alguns pontos. O time de analistas e o objetivo da estratégia daquele produto, os prazos de resgate, as taxas praticadas. Mas também ficar de olho na frequência dos ajustes dos portfólios – e de como o custo da corretagem vai incidir sobre o rendimento do produto.
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