

Desde que o Banco Central rejeitou a compra do Banco Master pelo Banco de Brasília (BRB), no início de setembro, os prêmios pagos pelos Certificados de Depósito Bancário (CDBs) do Master dispararam nas plataformas de investimento.
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Desde que o Banco Central rejeitou a compra do Banco Master pelo Banco de Brasília (BRB), no início de setembro, os prêmios pagos pelos Certificados de Depósito Bancário (CDBs) do Master dispararam nas plataformas de investimento.
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Nos dias seguintes, as taxas prefixadas — já consideradas excessivas — dispararam de IPCA+19% para até IPCA+31,75%, com alguns papéis chegando perto de 35% ao ano. Todas as operações envolvem ofertas secundárias de títulos já emitidos, disponíveis em plataformas de investimento como XP e BTG. Isso é verificável pelo preço unitário (PU) fracionado das negociações, o que indica que investidores estão apenas repassando os papéis.
Procurado, o Master diz que não está realizando emissão de CDBs no mercado primário. “As operações citadas envolvem venda no mercado secundário, sobre as quais o banco não atua na formação de preços.”
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Na prática, esses percentuais de retorno refletem o medo diante da possível intervenção do BC. Para quem arrisca na compra, a avaliação é de que se pode conseguir um bom retorno confiando que, se tudo der errado, haverá a cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que garante o ressarcimento investimentos em renda fixa de até R$ 250 mil por CPF.
Essa corrida pode estar vinculada àqueles investidores que têm valores acima da cobertura do FGC e agora tentam repassar os títulos para se enquadrar nas regras do fundo garantidor antes do iminente colapso do banco. Como há mais gente tentando vender do que comprar, as taxas sobem para atrair compradores dispostos a correr o risco.
O problema é que quem comprar agora pode não receber a remuneração prometida. “Mesmo para quem confia na cobertura do FGC, não faz sentido entrar”, alerta Alexandre Brito, sócio da Finacap. Ele explica que, se a intervenção do Banco Central “demorar” e ocorrer em um mês, por exemplo, o investidor receberá apenas 1/12 da taxa prometida, com o saldo sendo congelado a partir daí. “Depois da intervenção, o valor não continua corrigindo e você fica só esperando para receber. O risco não compensa”, afirma.
Esse pagamento pode levar meses. O FGC não é obrigado a quitar à vista, ainda que em casos recentes tenha sido ágil. Apesar disso, há exemplos históricos de que o recebimento pode demorar. O episódio do Bamerindus, em 1998, maior operação já enfrentada pelo fundo e que consumiu 40% de sua liquidez à época, levou cerca de três meses para ser resolvido com os investidores.
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Brito acredita que o FGC honrará integralmente os depósitos dentro do limite de R$ 250 mil por CPF, como determina a regra. Para ele, aplicar um desconto (“haircut”) sobre esses pagamentos colocaria em xeque a confiança no sistema financeiro. “Não acho que seria correto penalizar investidores que estão cobertos e compraram o título confiando na regra estabelecida”, comenta. Eventuais equacionamentos, segundo ele, só fariam sentido no lado dos acionistas e controladores do banco.
Para Marília Fontes, sócia-fundadora da Nord, a precificação do mercado também pode levar em conta as chances de não pagamento. Uma taxa de IPCA+ 30%, por exemplo, não representaria um rendimento real, mas sim o tamanho do desconto embutido (deságio) nos preços unitários.
Ela dá um exemplo sobre um investidor hipotético que aplicou R$ 100 mil em um CDB do Master. Se o mercado acreditar que existe 60% de chance de não receber nada e 40% de chance de receber o valor integral, o “valor esperado” desse investimento passa a ser R$ 40 mil. Para refletir esse risco, o preço unitário (PU) do título cai drasticamente, e a taxa sobe para algo próximo a IPCA + 30%.
É uma conta probabilística. “O investidor que compra agora acredita que a chance de o banco pagar é maior do que o mercado está precificando”, explica Marília. Na prática, porém, ela vê mais especulação do que análise racional. “Não acho que todos estejam bem informados. Muitos estão só jogando, apostando que o FGC vai salvar tudo.”
O mercado se divide sobre a extensão da atuação do FGC na garantia dos depósitos feitos no Master. Nem todos acreditam na possibilidade de salvamento geral. Isso porque o estatuto do FGC permite que ele não pague integralmente, caso isso ameace a estabilidade do sistema. Marília observa que, se o fundo usasse metade de sua liquidez para salvar os investidores de apenas um banco, qualquer nova crise poderia levar a um efeito dominó. “Não sabemos o que o FGC fará. É uma situação sem precedentes”, afirma.
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A situação é inédita porque as aplicações no Banco Master, somadas a aquisições de outras operações como o Banco Voiter e o Will Bank, pode representar cerca de 50% da liquidez total do FGC, segundo projeções da Nord. Embora 99,5% dos depósitos do sistema financeiro estejam abaixo do limite de R$ 250 mil, ninguém sabe exatamente qual é o percentual dentro do Master.
Procurado, o FGC informou que “não comenta assuntos específicos sobre associadas”.
Nos bastidores, a avaliação é que o BC monitora a situação diariamente para decidir sobre uma liquidação extrajudicial. O grande problema é a dificuldade do Master em rolar sua dívida, formada por CDBs que vencem diariamente, enquanto seus ativos são de baixíssima liquidez, como FIDCs e precatórios de longo prazo. “É uma estrutura insustentável. Em algum momento, isso colapsa, e o BC será obrigado a intervir”, diz Fontes.
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