

Dois novos fatos surgiram neste fim de semana em relação à compra do Banco Master e os seus Certificados de Depósito Bancários (CDBs). A primeira é a tentativa do principal acionista do BTG Pactual (BPAC11), André Esteves, em conseguir apoio dos grandes bancos privados para usar o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) na compra do Master. A segunda é discussão entre os bancões e as fintechs sobre a contribuição para o FGC, visto que a entidade das fintechs alega que uma mudança no FGC enfraqueceria a proteção ao pequeno investidor. Esses dois cenários foram mostrados nesta reportagem do Estadão.
Analistas ouvidos pelo E-Investidor comentam que mesmo com a indefinição sobre o futuro do Master, o pequeno investidor que possui até R$ 250 mil aportados no CDB da companhia não precisa se preocupar, pois deve receber o dinheiro que aportou. Já em relação às mudanças no FGC, os especialistas dizem que a medida que está sendo discutida pode reduzir e competitividade e a oferta de CDBs de alto nível de rendimento, mas que essa regulamentação é necessária para trazer mais credibilidade ao FGC.
Segundo informações do Broadcast, André Esteves fez reunião neste sábado com o Banco Central e os CEOs dos maiores bancos privados do Brasil — Itaú Unibanco (ITUB4), Bradesco (BBDC4), Santander Brasil (SANB11) — para buscar apoio dos grandes bancos devido à dívida da companhia relacionada aos Certificados de Depósito Bancários (CDBs). Somente em 2025, a dívida do Banco Master nesse quesito soma R$ 16 bilhões vencendo neste ano, dos quais R$ 7,6 bilhões devem ser pagos neste primeiro semestre.
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Depois da proposta de compra do Banco Master pelo Banco de Brasília (BRB), anunciada no dia 28 de março, informações do Broadcast mostram que o Banco Central discute com os bancos soluções para evitar que o Master termine em uma eventual liquidação. A operação precisa do aval do BC e da aprovação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para ser efetivada.
São três cenários neste momento sobre a mesa:
- A compra é limitada apenas à parte que interessa ao BRB, nos termos já anunciados;
- A compra compartilhada entre BRB e BTG;
- E uma terceira alternativa, em que só haveria a compra pelo BTG.
Para ingressar no negócio, Esteves vem defendendo a necessidade de socorro por meio da linha do FGC. Em nota sobre a reunião deste sábado, o BC informou que realiza “periodicamente reuniões com integrantes do Sistema Financeiro Nacional para tratar de assuntos referentes à estabilidade financeira” e que o encontro ocorreu em São Paulo para “abordar temas atuais e especialmente para conciliar as agendas dos participantes”.
Um cenário extremo de liquidação poderia ocasionar perdas tanto para o FGC, que seria levado a indenizar investidores que compraram CDBs do Master, quanto para o sistema bancário, uma vez que poderia provocar uma aversão de investidores a papeis de bancos menores, asfixiando o financiamento dos bancos médios.
Ricardo Salim, analista da Lumi Research, diz que essa reunião ainda é muito preliminar e a decisão se o BTG ficará com uma fatia do Master continua longe de ser decidida. No entanto, ele diz que, com ou sem BTG, o investidor que possui até R$ 250 mil deve receber os valores, o que não deve ser a grande preocupação do momento.
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“O investidor não deve ficar preocupado, mas precisa ficar de olho. Na pior das hipóteses, ele já deve fazer o cadastro no FGC. Caso a compra seja feita pelo BTG com o uso do FGC, ele deve demorar um pouco mais para receber. Caso o banco que comprar o Master assuma essas dívidas, ele deve demorar menos para ter o dinheiro”, diz Salim.
Guilherme Áthia, estrategista internacional em governança e confiança, diz que o FGC é uma proteção concreta, mas não elimina a necessidade de atenção do investidor. Segundo ele, o simples fato de o fundo ser acionado já indica que a instituição emitiu sinais de fragilidade antes. Ele vê uma questão de confiança sistêmica — aquela que sustenta a percepção de estabilidade do setor financeiro em sua totalidade.
“Quando o próprio mercado precisa se unir para evitar a liquidação de uma instituição, o sinal enviado aos investidores e clientes é ambíguo: há capacidade de reação, sim, mas também a confirmação de que falhas sérias de governança e supervisão podem colocar em risco o elo mais frágil da cadeia — a confiança do público”, explica Áthia.
Mudanças no FGC podem enfraquecer a proteção ao pequeno investidor?
Após o caso do Master, algumas mudanças no FGC estão sendo discutidas no mercado. Uma das discussões é aumentar a contribuição proporcional de bancos pequenos e médios. A justificativa é de que eles oferecem maior risco ao sistema financeiro. Assim, o modelo atual incentiva o uso do FGC como uma chancela para que elas ofereçam ativos mais arriscados, e o investidor compre sabendo que estará protegido, como no Master, que oferecia CDB com altas taxas e prazos mais longos.
A proposta em discussão diz que se a captação ultrapassar 50% do seu patrimônio líquido da fintech, ela teria de fazer uma contribuição adicional — hoje, essa linha de corte é de 75%. Além disso, também seria apertada a norma que obriga as instituições a manterem em seus balanços títulos do governo. As propostas ainda não têm resposta do BC.
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No entanto, a Associação Brasileira de Internet (Abranet), que representa fintechs e alguns bancos, incluindo nomes como Mercado Pago, PicPay e PagBank, defende que qualquer mudança no Fundo Garantidor de Crédito (FGC), como pedem os grandes bancos, envolva “ampla discussão e debate” com a sociedade.
Para a entidade, essa discussão é necessária para não ameaçar os progressos recentes ao aumentar o acesso das pessoas ao sistema financeiro. “Eventuais alterações de regras precisam ser amplamente debatidas, sob pena de enfraquecer a proteção ao pequeno investidor”, afirma em nota a Abranet.
Para Reinaldo Boesso, CEO da TMB (fintech especializada em inteligência de crédito), essa questão precisa ser debatida. Na visão dele, se os grandes bancos impuserem essa norma, isso reduziria o rendimento pago pelas médias e pequenas instituições financeiras aos investidores, o que seria positivo para os grandes bancos conseguirem captar a um preço baixo.
“Isso pode diminuir a concorrência, mas a discussão é importante. Isso porque as pequenas e médias empresas do setor não podem oferecer retornos muito audaciosos sem trazer a garantia para o investidor. O próprio caso dos CDBs do Banco Master é um exemplo. A empresa trouxe taxas elevadas, arrecadou muito dinheiro e não alimentou o FGC para compensar o dano que deve causar no fundo”, diz Boesso.
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Guilherme Áthia diz que é natural que as entidades defendam seus associados e que a discussão é legítima. Para ele, o sistema precisa de equilíbrio. “Se todas as instituições se beneficiam da credibilidade do FGC, é razoável que também compartilhem a responsabilidade por sua sustentabilidade. A governança do setor deve evoluir para refletir a nova composição do mercado financeiro”, diz Áthiam.
Em linhas gerais, com ou sem as mudanças, a mensagem dos especialistas que fica para os investidores é de que devem comprar CDBs pensando no risco de crédito que a instituição financeira oferece e não só na garantia do FGC. Medidas como essa podem evitar a entrada de investidores em CDBs de alto risco, como os do Banco Master.
(Com informações do Broadcast)