- Embora o rendimento da poupança tenha correlação com a Selic, este e futuros aumentos da taxa não deverão alterar a regra de cálculo, que mudou em dezembro
- Embora a poupança ganhe um pouco mais de atratividade com a volta da performance da TR a partir de janeiro, as fontes ouvidas pela reportagem avaliam que existem alternativas mais interessantes no mercado
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anunciou, nesta quarta-feira (2), mais um ajuste na Selic, de 1,5 ponto percentual. Com isso, a taxa passa de 9,25% para 10,75% ao ano. Com mais uma alta da taxa, o retorno da poupança terá alteração?
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A elevação já era esperada pelo mercado. Conforme o comunicado da reunião anterior, em dezembro, quando subiu a Selic de 7,75% para 9,25%, o colegiado sinalizou que faria um aumento da mesma magnitude neste mês.
Embora o rendimento da poupança tenha correlação com a Selic, este e futuras elevações da taxa não deverão alterar a regra de cálculo, que mudou em dezembro. Isso aconteceu porque o retorno da caderneta de poupança pode ser calculado de duas maneiras:
- Selic igual ou abaixo de 8,5% a.a. – rendimento é igual a 70% da Selic + Taxa Referencial (TR);
- Selic acima de 8,5% a.a. – rendimento é 0,5% a.m. + TR.
Ou seja, até o patamar de 7,75%, o retorno da caderneta de poupança obedecia à primeira regra de cálculo. Após ultrapassar a linha dos 8,5%, a rentabilidade da aplicação segue a segunda regra, independentemente de que nível atinja.
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“Se a Selic estiver acima de 8,5% a.a., ela não afeta mais o retorno da poupança. Esta só será afetada por mudanças na TR. Logo, se a TR não mudar, a poupança continua com o mesmo rendimento”, explica Pedro Albuquerque, analista de investimento do Inter.
Em janeiro de 2022, a TR deixou de ser zero após quatro anos e, assim, o rendimento da caderneta de poupança teve um pequeno ajuste. “A TR sobe de forma proporcional à variação da Taxa Básica Financeira (TBF), que é calculada a partir da média ponderada dos títulos públicos prefixados. Após 4 anos, a TR saiu do zero. No entanto, ainda deve seguir baixa”, diz Vinicius Romano, especialista de renda fixa na Suno Research.
Pelo fato de a TR não ter um valor tão expressivo, a expectativa é que a rentabilidade da poupança não seja tão impactada, acredita Alexandre Marques, especialista de investimentos da Ágora. Quando a TR estava zerada, a aplicação rendia cerca de 6,17% a.a. (ou 0,5% a.m.). Considerando a TR de 0,04% a.m. (ou 0,52% a.a.), nesta terça-feira (1º), o especialista calcula que o rendimento da poupança chegaria a 6,69% a.a..
“Vai melhorar um pouco a rentabilidade da poupança, mas ela ainda vai continuar não sendo atrativa em relação aos outros produtos conservadores”, considera Marques. É importante ressaltar que os números acima são nominais, ou seja, não consideram a corrosão gerada pela inflação. Considerando a estimativa de 5,38% de inflação (IPCA) em 2022, conforme o boletim Focus mais recente, os ganhos da poupança cairiam de 6,69% para próximo de 1,3% ao ano.
Há opções melhores que a poupança?
Embora a poupança tenha um pouco mais de atratividade com a volta da performance da TR a partir de janeiro, os especialista avaliam que existem alternativas mais interessantes no mercado.
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Para Romano, opções mais rentáveis são Tesouro Selic, CDBs e fundos referenciados ao DI. “Mesmo colocando impostos na conta, na maioria das vezes o Tesouro Selic sai vencedor. Além disso, este título conta com remuneração diária, diferente da poupança que tem data de ‘mêsversário’, diz o especialista da Suno.
Isso acontece porque, embora a poupança tenha liquidez diária, ou seja, o resgate do recurso pode ser feito a qualquer momento, a rentabilidade só é garantida se o dinheiro ficar aplicado por pelo menos um mês. O Tesouro Selic, por sua vez, tem rendimento diário, assim como a liquidez.
Marques, da Ágora, observa que, com a Selic a 10,75%, o CDI passa a 10,65%, uma vez que este costuma ser 0,10 ponto percentual menor que a taxa de juros. “Uma aplicação de ano que pague esse valor de CDI, com desconto de 17,5% de imposto de renda, teria um torno de 8,78% líquido. Ou seja, a TR deveria ser mais de 2% ao ano para a poupança se equiparar a um CDB de 100% do CDI. Sendo que o mercado tem CDBs mais atrativos”, compara Marques.
Albuquerque, do Inter, acrescenta que se o investidor puder abrir mão da liquidez poderá encontrar produtos como a LCI (Letra de Crédito Imobiliário), que conta com a mesma garantia da poupança e pode render 95% do CDI (8,33% a.a. nas taxas atuais) e ainda é isenta de imposto de renda.
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