No consignado P2P, tomador pode pagar até 60% de juros no ano. Investidor recebe 28%. Foto: AdobeStock
Investir como credor pode render muito mais do que deixar o dinheiro na renda fixa tradicional. O Banco Central vem abrindo possibilidades para que as pessoas físicas tenham a chance de aplicar em empréstimos na modalidade conhecida como peer-to-peer (P2P) e, dentro desse universo, a Peak Invest se especializou em aproximar os investidores aos tomadores de consignados do serviço público, aposentados e pensionistas.
O grande chamariz é a rentabilidade média entre 27% e 28% ao ano, cerca de 190% do CDI. É um retorno elevado para um produto de renda fixa, mas que vem acompanhado de riscos proporcionais, embora o consignado transmita a sensação de segurança para quem investe.
Criada em 2018 como fintech, a Peak Invest se tornou instituição financeira autorizada pelo Banco Central em 2022. “A partir da licença, passamos a operar o consignado público por conta própria, dentro da regulação para sociedade de empréstimos entre pessoas”, diz Felipe Pagano, head de negócios da companhia. O produto é formalizado para o investidor como um ‘instrumento de vinculação’, também regulado pelo BC.
Hoje, a Peak está presente em 10 estados e mais de 30 cidades, além de convênios federais com o Sistema Integrado de Administração de Recursos Humanos (Siape), INSS e outros órgãos. Pagano afirma que a empresa já originou R$ 150 milhões em contratos, em cerca de 25 mil operações, com prazo médio de 40 meses e tíquete girando na casa de R$ 4 mil. Os contratos são pulverizados entre diferentes estados, municípios e órgãos, o que, segundo o executivo, dilui o risco individual.
Como funciona na prática
O investidor abre uma conta na plataforma, escolhe a modalidade (consignado federal, estadual ou municipal), define o valor que irá aplicar, que pode ir de R$ 1 mil a R$ 100 mil por operação, e transfere o investimento via Pix. Em até três dias, a Peak atrela o aporte a uma carteira de empréstimos concedidos a servidores.
O pagamento das parcelas é descontado em folha e repassado mensalmente ao investidor, com desconto de taxa de serviço de cerca de 5%, que é a remuneração da plataforma. “Funciona como uma tabela Price. O investidor recebe o cupom mensal, que inclui parte dos juros e parte do principal”, explica Pagano.
O tomador paga, em média, de 3% a 5% de juros ao mês, o que equivale a algo próximo de 60% ao ano. Até chegar no investidor, desse valor saem impostos, custos operacionais e a taxa de serviço da Peak. O consignado é o carro-chefe da instituição, mas a plataforma também atua com home equity, uma modalidade de crédito em que o tomador dá um imóvel como garantia para refinanciamento.
Pagano admite que a inadimplência pode chegar a 4%, o que reduz a rentabilidade do investidor. A originação é feita com correspondentes bancários, e há risco de fraude, embora a empresa utilize reconhecimento facial, prova de vida e análise documental para mitigá-lo. “Não trabalhamos com crédito pré-aprovado”, afirma.
Um high yield de renda fixa
No mercado, o P2P é visto como um investimento de renda fixacom perfil high yield, um retorno alto atrelado a risco elevado, não comparável a CDBs ou Tesouro Direto. O crédito consignado é apenas uma das linhas possíveis. Há também operações para varejo, PMEs e imobiliário, cada qual com perfil de risco próprio.
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Especialistas recomendam que o P2P componha apenas uma fatia pequena da carteira e seja tratado como crédito privado mais arriscado. Outro ponto importante é a liquidez. O capital tende a ficar travado até o vencimento do empréstimo, sem garantia de mercado secundário.
Para o planejador financeiro Jeff Patzlaff, investir em consignado, dentro do universo do P2P, tem a vantagem de o pagamento ser automático, antes do salário cair na conta do tomador. “Mas o investidor não empresta diretamente ao servidor, e sim para uma carteira de contratos gerida pela plataforma. Se ela não for bem administrada, pode haver atrasos ou fraude na originação.”
Ele também aponta riscos jurídicos e políticos, como mudanças na lei do consignado que afetem juros ou antecipem cancelamentos. “Se a plataforma quebrar, travar saques ou falhar na cobrança, o dinheiro pode ficar parado em processos judiciais.”
Sem cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), o investidor depende das garantias do próprio produto e da saúde financeira da plataforma. E, embora o discurso seja de baixa inadimplência, Patzlaff lembra que já houve relatos de atrasos e valores bloqueados em disputas judiciais.
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Segundo o especialista, é possível incluir o consignado via P2P na carteira, desde que o investidor compreenda que se trata de uma fatia de risco elevado, “invisível para muitos leigos, mas real”. A recomendação é buscar plataformas com garantias adicionais, histórico sólido de pagamentos e não concentrar recursos nesse tipo de aplicação.