O que este conteúdo fez por você?
- O presidente eleito Lula discursou na Cúpula do Clima (COP-27) da ONU, em Sharm el-Sheik, no Egito
- Ele prometeu acabar com o desmatamento da Amazônia, retomar alianças internacionais para o clima e cobrou cumprimento de acordos feitos em encontros anteriores
- Para especialistas, protagonismo na pauta ambiental pode atrair capital estrangeiro para o mercado brasileiro e impulsionar investimentos ligados à agenda ESG
O Brasil está de volta à luta contra as mudanças climáticas. Essa foi a mensagem principal da participação do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nesta quarta-feira (16), na Cúpula do Clima (COP-27) da Organização das Nações Unidas (ONU), em Sharm el-Sheik, no Egito. Se por um lado, como mostramos nesta reportagem, o discurso não fez preço na bolsa, por outro pode abrir oportunidades de investimento no longo prazo, dizem especialistas.
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No pronunciamento de quase 30 minutos, o presidente eleito do Brasil falou sobre o desafio de enfrentar o aquecimento global em meio a múltiplas crises e cobrou o cumprimento de acordos já firmados em conferências anteriores. Além de criticar a forma como a atual gestão de Jair Bolsonaro (PL) trabalhou a pauta ambiental, Lula falou que o combate à mudança climática terá “o mais alto perfil na estrutura do próximo governo”, prometendo zerar o desmatamento na Amazônia até 2030.
“Ao que tudo indica, o Brasil passa a ter mais visibilidade, mais voz. É uma característica do governo que vai entrar estar mais próximo da comunidade internacional, então provavelmente também participará mais ativamente dessas iniciativas globais”, explica Marcos Rodrigues, especialista em ESG e sócio da MRD Consulting. “Consequentemente existe a possibilidade de entrar mais recursos”, diz.
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E é daí que devem surgir as oportunidades. A retomada do protagonismo na agenda de sustentabilidade e preservação ambiental pode colocar o Brasil de volta no radar do mundo. O que passa também pela entrada de investimentos estrangeiros.
Um exemplo disso é o Fundo Amazônia, criado para financiar medidas de proteção na maior floresta tropical do mundo, que possui cerca de US$ 540 milhões totalmente congelados desde 2019 por causa de desentendimentos de Alemanha e Noruega com o presidente Bolsonaro. Na COP, Lula disse que ambos países já anunciaram a intenção de retomar os investimentos.
“A COP discutiu uma compensação climática para os países menos desenvolvidos, uma quantidade de dinheiro muito, muito elevada. E o Brasil com certeza vai se beneficiar disso, não só pelo tamanho do nosso território, mas também por causa da Amazônia”, destaca Rodrigues.
A entrada de capital estrangeiro no País é um grande motor para bons desempenhos na bolsa de valores e vem sendo observada na B3 desde o segundo turno das eleições. Somente no dia 31 de outubro, pregão seguinte à vitória petista, investidores estrangeiros ingressaram com R$ 1,9 bilhão no mercado brasileiro.
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“A proteção ambiental, sem dúvida, pode atrair mais capital estrangeiro para o Brasil, pois ela se tornou um selo de validação no mundo”, diz Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos. “Isso credencia o País a receber mais investimentos, pois hoje os países não querem apenas fazer bons negócios, mas também ajudar a construir um mundo um pouco melhor para as próximas gerações”.
Quem pode se beneficiar
A entrada de capital gringo impulsionada pelo fortalecimento da preservação ambiental pode abrir algumas oportunidades para investidores, principalmente entre aquelas empresas e setores que dialogam mais com a pauta ESG – sigla do inglês para sustentabilidade ambiental, social e de governança corporativa.
Para Marcella Ungaretti, head de ESG do research da XP, ainda vai ser preciso acompanhar de perto, dentre as promessas, o que será de fato implementado pelo novo governo em 2023. Mas a perspectiva é positiva. “De qualquer forma, com o tema fazendo parte da prioridade do governo, empresas que estão bem posicionadas e tem a agenda ESG como prioridade podem potencialmente se beneficiar”, afirma.
A head da XP destaca que a corretora tem uma carteira recomendada voltada ao tema ESG, que combina ativos com bom posicionamento nas pautas em questão e fundamentos sólidos. Estão no portfólio atualmente Ambev (ABEV3), Arezzo (ARZZ3), CBA (CBAV3), Localiza (RENT3), Orizon (ORVR3), Natura (NTCO3), Totvs (TOTS3), Telefônica Brasil (VIVT3), Yduqs (YQUD3) e Weg (WEGE3). “Entendemos que, para o investidor que tem interesse na pauta ESG, a exposição à bolsa via essa carteira pode ser interessante”, diz Ungaretti.
Idean Alves dá destaque também para o setor de frigoríficos, um dos que primeiro entra no radar quando o assunto é preservação ambiental. Essas empresas dependem de terras para pastagem bovina e, segundo o chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, estão tentando se adaptar à nova realidade.
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“O setor está tentando produzir mais nas áreas já exploradas, visando com isso desestimular o desmatamento, que no Brasil vem principalmente da destruição das matas para a formação de novas áreas de pastagens. Isso por si só já ajudaria a coibir a maior causa de destruição das florestas no Brasil”, explica.
Alves diz ainda que é possível tentar capturar o avanço da pauta ambiental por meio de índices ligados ao ESG. No Brasil, são oito opções, entre as quais quatro têm ETFs (Exchange Traded Funds) atrelados. “O modelo ainda está sendo consolidado no Brasil, mas tem tudo para ser a referência em investimento nos próximos anos, de que os principais fundos só vão investir se as principais práticas de ESG forem respeitadas”, pontua.
Como exemplo, o especialista destaca o Índice Carbono Eficiente (ICO2 B3), que reúne companhias que integram práticas de descarbonização em seus modelos de negócios e é refletido pelo ECOO11, gerido pela BlackRock.