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Cotações do dólar e euro desabam: vale a pena comprar agora ou esperar?

Falas de Trump têm movimentado o mercado de câmbio, enquanto o noticiário local segue calmo

Cotações do dólar e euro desabam: vale a pena comprar agora ou esperar?
Nota de dólar americano. Foto: Adobe Stock

O dólar hoje estendeu o movimento de queda observado na quarta-feira (22), quando terminou o dia no patamar mais baixo desde novembro de 2024. Nesta quinta-feira (23), a moeda americana recuou 0,35% a R$ 5,9255, depois de chegar a atingir mínima de R$ 5,8745. Já o euro cedeu 0,32% a R$ 6,1750, tendo alcançado preço mínimo de R$ 6,13 na sessão.

Investidores têm monitorado as declarações do novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Em participação virtual no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, o republicano não anunciou a imposição de novas tarifas de importação a parceiros comerciais e adotou um tom mais conciliatório em relação à China. Trump afirmou que o presidente chinês, Xi Jinping, ligou para ele e, entre os temas da conversa, esteve a possibilidade de uma resolução para o conflito entre Rússia e Ucrânia.

O comportamento mais ameno do presidente norte-americano em relação às tarifas comerciais têm contribuído para uma valorização do real em relação do dólar. Na terça-feira (21), o republicano disse a jornalistas que está discutindo a imposição de uma tarifa de 10% sobre os produtos importados da China a partir de 1º de fevereiro – uma alíquota bem menor do que a prometida em campanha, de 60%.

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“No curto prazo, a barreira de R$ 6 se apresenta como um suporte técnico importante. Movimentos acima desse valor podem gerar aceleração, enquanto quedas abaixo desse patamar podem trazer maior pressão de desvalorização. A depender da evolução das tarifas e seus impactos sobre a inflação americana, o dólar pode voltar a subir”, pondera Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas.

As falas e medidas de Trump também podem afetar o desempenho do euro. Como mostramos nesta matéria, tensões comerciais entre os Estados Unidos e seus parceiros geram maior aversão ao risco, fortalecendo o dólar como ativo seguro e, consequentemente, pressionando a moeda europeia.

No Fórum Econômico Mundial, em Davos, o presidente dos EUA voltou a afirmar nesta quinta-feira que o país tem sido tratado de maneira “injusta” pela União Europeia, diante da dificuldade para vender produtos americanos no bloco. “Amo a Europa, mas países nos tratam de maneira injusta”, disse em fala exibida virtualmente.

Vale comprar dólar e euro agora?

Os analistas são unânimes em aconselhar a compra de moedas fortes nesse momento em que elas passam por uma desvalorização. “Acredito que seja, sim, um bom momento para compra das duas moedas”, diz Rodrigo Azevedo, economista, planejador financeiro e sócio-fundador da GT Capital. “Apesar de o mercado de câmbio no País ainda estar em um momento bastante volátil, o recuo dos últimos dias abre uma boa oportunidade para quem estava aguardando há algumas semanas para comprar.”

O economista, no entanto, destaca que a melhor forma de se proteger da volatilidade do câmbio é realizar as compras da moeda ao longo do tempo, em etapas, buscando assim um equilíbrio do custo médio e evitando possíveis surpresas no momento de necessidade.

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Essa é a mesma opinião de Paula Zogbi, gerente de research e head de conteúdo da Nomad. Segundo ela, a melhor estratégia para comprar e investir em dólares é de forma recorrente, sem esperar por movimentos específicos de curto prazo. Existem, em sua visão, riscos de que a moeda americana volte a subir, como a pressão inflacionária nos Estados Unidos, que pode levar a uma postergação da retomada do ciclo de cortes dos juros americanos, diminuindo a atratividade de outros mercados e consequentemente fortalecendo o dólar.

Outro fator de preocupação é o maior protecionismo do novo governo Trump. “Por isso, e também pensando em proteção em moeda forte para o longo prazo, é interessante manter a estratégia de investir em dólar formando um preço médio e comprar, preferencialmente investindo os recursos, de maneira recorrente”, explica.

Quem também é favorável à compra de moedas fortes no momento é Matheus Massote, sócio da One Investimentos. Ele acredita que, com a conjuntura atual, existem fundamentos favoráveis ao real, não suficientes para gerar uma tendência firme de queda, mas, no mínimo, para trazer um pouco mais de calmaria. “Com certeza esse é um momento de oportunidade, pois vimos cotações muito altas recentemente. Se não tivermos nenhum solavanco no noticiário em relação a Trump ou ao fiscal brasileiro, podemos viver momentos de tranquilidade”, reforça.

A estratégia de comprar as moedas no momento atual também representa uma forma de proteção patrimonial – um modo de manter a carteira segura caso o real venha a sofrer novamente uma desvalorização. Não vale, no entanto, usar uma rentabilidade passada para projetar uma rentabilidade futura. Por exemplo, quem comprou dólares no início de 2024 teria um ganho de mais de 27% no final do ano passado só de valorização cambial, mas isso não garante que o mesmo cenário vá se repetir em 2025.

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“Um ponto importante é entender o horizonte desses aportes: como moedas são voláteis, é melhor pensar no longo prazo. Costumo dar a seguinte dica: comprar aos poucos, para ter preço médio, é uma boa estratégia para não arriscar tudo de uma vez”, recomenda Rodrigo Miotto, gerente de câmbio da Nippur Finance.

Já Daniel Haddad, diretor de investimentos da Avenue, acredita que todo momento pode ser adequado para comprar euro e dólar e se proteger do risco Brasil – termo que indica o nível de confiança dos investidores estrangeiros na economia brasileira.

Na sua opinião, porém, a recente recuperação do real não está relacionada com o cenário local, mas sim com o contexto externo, já que a situação fiscal doméstica continua levantando preocupações. “Quando a gente olha a valorização do real frente ao dólar, nos últimos dias, ela se deriva basicamente de uma reversão de expectativa em relação ao governo Trump, diante de tudo que foi falado. A visão é de que houve um abrandamento, digamos assim, das medidas apresentadas em relação a tarifas, então se precifica uma presidência do Trump mais moderada. Na nossa visão aqui, esse movimento não tem nada a ver com o cenário local brasileiro.”