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Como a crise bancária reforçou a tese do bitcoin

Diante de cenário instável no mundo financeiro tradicional, mais pessoas apostaram na segurança da blockchain

Como a crise bancária reforçou a tese do bitcoin
Fonte: Mapichai/Shutterstock/reprodução)
O que este conteúdo fez por você?
  • De janeiro até o fim de março, o bitcoin acumula valorização de cerca de 69%
  • Enquanto as instituições financeiras tradicionais enfrentavam crises na Europa e EUA, o bitcoin continuou funcionando perfeitamente, sem ser negativamente afetado
  • Com o halving no ano que vem, a expectativa é que a moeda viva mais uma resistência na alta

Quando o bitcoin surgiu, o manifesto publicado pelo seu suposto criador identificado como Satoshi Nakamoto bradava que aquela tecnologia seria o caminho possível para a independência das instituições bancárias. O ano era 2008, portanto os corpos deixados pela crise da bolha imobiliária daquele ano ainda estavam quentes.

A versão de dinheiro eletrônico cujas transações são feitas de maneira descentralizada na rede blockchain é vista pelos seus entusiastas como sinônimo de liberdade, mas em 13 anos de existência tomou enormes dimensões – chegou a ter capitalização de US$ 1,3 trilhão na máxima – e passou a estar sob os olhos e mãos justamente do sistema financeiro tradicional.

Nesta trajetória, o bitcoin se tornou mais especulativo do que um meio de pagamento, e os preços passaram a ser cada vez correlacionados aos movimentos da economia. Após dois anos em uma montanha russa, com o recorde histórico em novembro de 2021, a US$ 68.990, e queda de mais de 70% desse valor em 12 meses, o gatilho para uma recuperação em 2023 tem sido a volta da desconfiança acerca de bancos mundo afora.

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De janeiro até agora, o bitcoin acumula valorização de cerca de 69,7%. Às 17h30 desta terça-feira (4), o ativo operava a US$ 28,2 mil. Atualmente o market Cap totaliza US$ 545 bilhões, bem distante do pico histórico.

A moeda digital retornou ao patamar dos US$ 28 mil, que não tocava desde julho do ano passado, depois da quebra do Silicon Valley Bank (SVB) nos Estados Unidos. “Enquanto bancos e moedas fiduciárias sofrem intervenções constantes, a rede do bitcoin permanece íntegra e incensurável e sua política monetária intacta, características que devem ser cada vez mais reconhecidas, conforme o sistema tradicional dá sinais de mau funcionamento”, explica Ayron Ferreira, analista-chefe da Titanium Asset.

Correlação direta com aperto monetário

A fraqueza do bitcoin desde o ano passado está ligada diretamente ao ciclo de alta de taxas de juros mundo afora. Da mesma maneira, a gestora Hashdex aponta em relatório que o fôlego em 2023 vem das expectativas de que a inflação alivie este ano e que o Fed, o BC americano, consiga evitar manter as taxas altas por mais tempo.

Em março, a queda do SVB e outros bancos nos EUA, junto com a crise no Credit Suisse, reforçaram esta estimativa. Samir Kerbage, diretor de investimentos da Hashdex, aponta que o preço do BTC subiu devido à expectativa de condições monetárias mais suaves, que permitem a exposição ao risco.

“Acredito que isso é um movimento de fly-to-quality [movimento coletivo de busca por ativos mais seguros, que é observado em momentos de crise e incerteza econômica] que está principalmente correlacionado com os atributos mais fortes do Bitcoin, incluindo suas características de reserva de valor, imutabilidade e oferta limitada”, escreve Kerbage.

Expectativa de preços

O cofundador e CEO da iVi Technologies, Lendel Vaz Lucas, trabalha com duas expectativas para projetar o preço do bitcoin até o final do ano. Levando em conta possíveis correções e a volatilidade intrínseca do ativo, o especialista vê o preço de US$ 32 mil no cenário de fim da alta de juros pelo Fed e sem perspectativa de início do ciclo de baixa. “Agora se tiver uma sequência da quebra de bancos, ou o Fed baixar os juros de fato, espero que chega a um valor entre US$ 40 mil e US$ 45 mil”, diz Lucas.

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O algoritmo que sustenta a rede blockchain do bitcoin determina que a emissão de novas unidades seja cortada pela metade a cada quatro anos, em um processo chamado halving. Com isso, a moeda terá uma circulação limitada a 21 milhões de bitcoins no ano de 2144. Esta regra é, portanto, deflacionária, pois a ‘impressão de mais dinheiro’ é impossível.

Lucas explica que o próximo ciclo de redução de emissão será no ano que vem, e que historicamente isto significa o início de um ciclo ascendente. “O bitcoin segue com precisão as análises gráficas e nunca ficou mais de dois anos em um mercado baixista [bear market]. Ele quebrou a resistência de mínima recentemente e tende, agora, a bater a resistência na alta.”

Desafio com regulação

O holofote que o mundo cripto atraiu para si com a alta dos preços deixou à mostra outro caráter marcante do bitcoin e dos demais ativos: a volatilidade. Inebriados pelo frenesi, muitos investidores entraram no mercado pensando em ganhos rápidos e fechando os olhos para os riscos – assim como para o idealismo disruptivo de Nakamoto. Queriam mesmo é surfar na especulação. Diante deste cenário, não poderia deixar de ser crescente a preocupação dos órgãos regulatórios sobre o assunto.

Mesmo com a subida recente, 2023 é visto como um ano de cautela porque a SEC (a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA) e outras autoridades estão se movendo para regular este mercado que nasceu para ser uma alternativa ao mundo regulado. “É muito animador ver o bitcoin subindo dessa forma, mas é necessário lembrar que o mercado cripto ainda está em meio a um processo de ajuste ao redor do mundo no que se refere à estrutura regulatória”, aponta Ferreira.

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