- Este ano, o céu parece mais desanuviado do que em 2023, mas isso não significa que não existam assuntos a serem monitorados de perto
- O risco de recessão global, por exemplo, ainda divide o mercado. A eleição presidencial nos EUA também é uma fonte de incertezas no cenário externo
- Já no cenário doméstico, investidores observam a situação fiscal. O comportamento da inflação também será um fator importante para entender a continuidade dos cortes na Selic
O Ibovespa terminou 2023 com uma alta de 22,28%, aos 134,1 mil pontos – o maior patamar da história. Quem olha apenas a fotografia do fim de dezembro tem a falsa percepção de que o ano foi “fácil” para a renda variável, quando, na verdade, a máxima veio após muita volatilidade.
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No primeiro trimestre do ano passado, por exemplo, o Ibov acumulava uma queda de 7%, embalado a uma crise de crédito, incertezas fiscais no Brasil e temores de recessão nos EUA. O prolongamento da guerra entre Rússia e Ucrânia e o início do conflito entre Israel e Hamas balançaram o índice no ano passado.
Na reta final, a situação melhorou com os cortes na Selic, que saiu de 13,75% para 11,75% ao ano, e maior previsibilidade sobre a política monetária no exterior, especialmente nos Estados Unidos, com a possibilidade de o Fed abaixar os juros.
Para 2024, o céu parece mais desanuviado, mas isso não significa que não há assuntos a serem monitorados de perto. O risco de recessão nos EUA e Europa, por exemplo, ainda está no radar do mercado. Portanto, o comportamento de dados como inflação e atividade global serão analisados com lupa pelos investidores.
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“O primeiro semestre do ano deve ser marcado pelos riscos de desaceleração econômica. A intensidade e duração da desaceleração ainda é uma incógnita e é um risco para os investimentos em 2024. Uma recessão global provavelmente teria impacto negativo no mercado de ações (apesar de gerar uma queda mais rápida nos juros globalmente)”, afirma a Guide Investimentos, em relatório assinado por Fernando Siqueira, analista da casa.
A eleição presidencial nos EUA também é uma fonte de incertezas no cenário externo. “Quando temos ano de eleição na maior potência econômica do mundo, a expectativa é de grande volatilidade no mercado”, ressalta Marcelo Boragini, sócio da Davos investimentos.
Já no cenário doméstico, investidores observam a situação fiscal. O comportamento da inflação também será um fator importante para entender a continuidade dos cortes na Selic. A princípio, o cenário base é de que a taxa básica de juros brasileira chegue ao final do ano em 9%, conforme expresso no último Boletim Focus, do Banco Central.
“O mercado almeja uma estabilidade na inflação e com redução na taxa de juros norte americana para o próximo ano”, afirma Alex Carvalho, analista CNPI da CM Capital. “Os juros são grandes motores da economia, determinam prêmios e risco dos investimentos. Deste modo, quanto mais estável, teremos mais confiabilidade dos movimentos dos preços.”
Brasil bem posicionado
Um consenso entre os analistas é de que o mercado brasileiro entra em 2024 melhor posicionado que os pares emergentes para receber investimento estrangeiro. Adiantado no processo de afrouxamento monetário e descontado, o País não deve carecer de oportunidades na renda variável.
Entre elas, as empresas ligadas a commodities podem se destacar. O setor de siderurgia, minério e petróleo, por exemplo, tende a ganhar fôlego com a recuperação esperada da China – grande consumidora desses insumos. “A China é um gigante adormecido. Com os incentivos fiscais que devem ocorrer por lá em 2024, o cenário fica muito favorável para exportações no Brasil”, diz Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos.
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Boragini, da Davos investimentos, também aponta que uma política monetária menos apertada no Brasil favorece as exportações, já que reduz o impacto sobre o câmbio. Entretanto, ele prefere empresas ligadas à exportação de alimentos e fabricação de bebidas. “O setor de agro é gigante e pouco visto dentro da Bolsa”, ressalta o especialista. Ele também crê que os bancos devem surfar uma maré alta em 2024, assim como setores que costumam ser impulsionados pela queda de juros e que possuem empresas robustas, como o segmento de saúde.
“E obviamente temos as blue chips (empresas com grande volume de negociação na Bolsa), como as empresas do setor financeiro e setor elétrico, que tendem a andar bem”, diz Boragini.
Por outro lado, o investidor precisa ficar atento a companhias de setores com baixas vantagens competitivas. Para Boragini, varejo de e-commerce, educação, aéreas e construção civil são exemplos de segmentos que, mesmo beneficiados pela queda da Selic, apresentam um risco mais alto.
Essa também é a visão de Carvalho, analista CNPI da CM Capital. “Setores que performaram bem no passado recente devem mostrar bons sinais este ano também. Destaco o setor elétrico, petróleo e mineração como potenciais movimentos para o investidor que quer se posicionar na compra. Por outro lado, varejo deve ser analisado com cautela e precisamos acompanhar de perto os próximos resultados trimestrais”, diz.
Em relação à renda fixa, Cohen, da Escola de Investimentos, é enfático. “Renda fixa, apesar da queda, ainda é bom investimento. Prefixados não valem mais a pena, mas títulos atrelados à inflação são interessantes”, diz.
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