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- Ainda falta mais de um mês para o ano de 2024, mas o cenário que investidores vão enfrentar já começa a ser desenhado
- É o que o UBS está chamando de "novo mundo" no relatório Year Ahead 2024 ("O ano a frente", em tradução livre), a qual o E-Investidor teve acesso em primeira mão
- O banco traça cenários possíveis para o próximo ano e como o investidor pode se posicionar em ações e na renda fixa; confira
A continuidade ou o fim do ciclo de aperto monetário nas economias desenvolvidas, guerras em regiões produtoras de petróleo, China com perspectivas de crescimento menor e uma eleição presidencial nos Estados Unidos. Ainda falta mais de um mês para o ano de 2024, mas o cenário que os investidores irão enfrentar já começa a ser desenhado.
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É o que o UBS está chamando de “novo mundo” no relatório Year Ahead 2024 (“O ano a frente”, em tradução livre), a qual o E-Investidor teve acesso em primeira mão.
O documento anual traz projeções econômicas e perspectivas para os investimentos, elencando quais devem ser os temas chaves do mercado e quais ativos o time de research do banco vê como oportunidade. O ponto central no relatório é que investidores devem se preparar para este novo mundo, caracterizado por incertezas econômicas, instabilidades geopolíticas e profundas mudanças de tecnologia.
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Quem deve ditar o tom dos mercados globais no próximo ano, como já aconteceu em 2023, ainda são os juros americanos. A expectativa do UBS é que o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, já tenha encerrado o ciclo de altas na taxa por lá e possa realizar a primeira redução em 2024. A projeção é de um primeiro corte de juros de 50 pontos-base na reunião da instituição marcada para julho.
Se isso se concretizar, o S&P 500 pode chegar aos 4.700 pontos no final de 2024, projeta o UBS. Atualmente, o principal índice de ações da bolsa de valores americana opera perto dos 4.500 pontos.
Este seria o cenário-base nas projeções do banco – e seria positivo tanto para o investimento em renda fixa, quanto em ações. “Esperamos que tanto as ações como os títulos entreguem retornos positivos em 2024. A desaceleração do crescimento econômico dos EUA, a queda da inflação e as expectativas de taxas de juros mais baixas devem significar rendimentos maiores, apoiando o valuation de ações e títulos de renda fixa, enquanto a ausência de uma recessão grave nos EUA deverá permitir às empresas continuar a aumentar os ganhos”, diz o relatório.
Mas há ainda outras projeções. O UBS vê 20% de chances no cenário de uma economia ainda persistente nos EUA, que mantenha as taxas das Treasuries no patamar atual. Nesse caso, o banco espera que o retorno de ações seja mais positivo, com a economia forte impulsionando o crescimento dos lucros corporativos e o S&P 500 podendo alcançar os 5.100 pontos. Em detrimento, haveria uma estabilidade de ganhos na renda fixa.
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O UBS vê ainda 15% de chances em um cenário pior para ações: se a tão temida recessão, discutida durante todo 2023, se concretizar. No caso de uma desaceleração brusca na economia dos EUA, as ações apresentariam um desempenho negativo, podendo levar o S&P 500 para a casa dos 3.500 pontos. Nesse cenário, títulos de renda fixa voltariam aos holofotes à medida que investidores buscassem por maior proteção.
Nem tanto ao céu, nem tanto à terra, o cenário-base do UBS ainda é de corte de juros americanos em 2024, com uma desaceleração da economia controlada. Bom para ações e bom para títulos de renda fixa, desde que o investidor escolha ativos de maior qualidade.
Ainda assim, há um quê de cautela em todo o relatório. As incertezas geopolíticas – as eleições presidenciais dos EUA marcadas para novembro, as guerras em curso entre Israel-Hamas e Rússia-Ucrânia, e a rivalidade entre os EUA e a China – são apontadas como algo que pode afetar os mercados globalmente. Por isso, opções de investimento de proteção, como hedge, também são consideradas.
Onde investir em 2024
O relatório do UBS destaca algumas ideias principais para fazer bons investimentos em 2024: manter a liquidez, comprar ativos de qualidade, e diversificar o portfólio para proteger a carteira.
- Renda fixa e ações
A expectativa geral é por um ano positivo para ações e renda fixa, mas é preciso tomar alguns cuidados para eleger bons ativos. “Acreditamos que os investidores devem se concentrar na qualidade”, destaca o relatório. Na renda fixa, títulos de qualidade oferecem tanto rendimentos atrativos, quanto devem entregar uma valorização do capital se as taxas de juros diminuírem, como esperamos.”
O entendimento é que as melhores oportunidades estão naqueles ativos de 5 anos de vencimento, ou seja, a metade da curva de juros. Já os títulos de prazos mais longos são mais sensíveis a outros fatores, inclusive a própria oferta elevada das Treasuries, o que mantém a cautela do banco.
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Em ações, ainda que o entendimento seja de que há espaço para um bom ano na Bolsa, a preferência também é por qualidade. Na prática, isso leva àquelas empresas com balanços sólidos e alta rentabilidade – especialmente as techs, que “parecem estar em melhor posição para gerar lucros num ambiente de crescimento mais fraco”, diz o UBS.
“Ações de qualidade têm historicamente registrado um desempenho superior nas fases finais do ciclo econômico, incluindo em períodos de contração, o que deve oferecer uma proteção de portfólio se a economia desacelerar mais do que esperamos”, destaca o documento. “Isso também se alinha com nossa preferência por empresas de tecnologia dos EUA, que devem estar entre as principais beneficiárias da procura relacionada com a IA tanto para hardware quanto para software.”
As teses de inteligência artificial fizeram as 7 maiores companhias de tecnologia do mundo – Nvidia, Meta, Tesla, Amazon, Apple, Alphabet e Microsoft – viverem um rally em 2023. O bom desempenho desse grupo de ações, inclusive, mascara o real desempenho do S&P 500, por exemplo, que sem esses nomes estaria tendo um ano de queda. Para muita gente no mercado, agora essas companhias ficaram caras.
O UBS concorda que os valuations estão elevados, mas ressalta que a qualidade valerá seu preço para 2024.
- Estratégias de proteção
Uma carteira balanceada e diversificada, com uma boa combinação de títulos de renda fixa e ações de qualidade deve ser suficiente para proteger os investidores e garantir a eles bons retornos em 2024. Isso se o cenário-base do UBS se concretizar. Mas o banco reconhece que há muitos outros fatores em jogo e que isso pode exigir a presença de investimentos destinados à proteção.
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“Investir num cenário de guerra e incerteza geopolítica pode ser um desafio e os investidores precisam de se preparar para a volatilidade futura. É possível ajudar a isolar carteiras contra riscos específicos através de estruturas defensivas, investimentos alternativos ou posições em petróleo e ouro.”
Alguns ativos aparecem nessa lista. Ações ligadas a petróleo e energia, que devem se beneficiar no caso de uma escalada nos conflitos no Oriente Médio ou Rússia; e até mesmo o investimento direto em contratos futuros de petróleo. O ouro também entra como uma opção para proteger investidores do risco geopolítico, mas a recomendação é fazer isso por meio de opções.
O hedge – essa estratégia de investimentos com o objetivo de proteger o valor de um ativo – também pode ser feito por meio de fundos de investimento, diz o UBS.
“Os fundos macro também poderiam ser uma forma eficaz de hedge e diversificação em 2024. Eles levam vantagem da volatilidade macroeconômica, utilizando a sua abordagem para navegar nas mudanças no cenário, políticas de bancos centrais e condições de mercado. Enquanto isso, os fundos multiestratégia, que combinam diversas abordagens de fundos de hedge, também são uma forma potencialmente atrativa de diversificação.”
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Mas o banco destaca: investidores devem estar cientes dos riscos inerentes aos investimentos alternativos. Sejam eles de liquidez, de alavancagem ou de informações limitadas sobre os ativos.
Estratégias valem para o Brasil?
O relatório do UBS não aborda diretamente as estratégias do banco para mercados emergentes como o Brasil, nem traça cenários possíveis para os investimentos locais em 2024. Mas o cenário-base presente no documento, se concretizado, pode, sim, influenciar o desenrolar do ano por aqui.
Em 2023, alguns emergentes se viram a frente das economias desenvolvidas no ciclo de política monetária, com a inflação demonstrando certo controle e permitindo que bancos centrais iniciassem os primeiros cortes de taxa de juros. Foi o que aconteceu com o Brasil e com o Chile, por exemplo.
Esse afrouxamento monetário, no entanto, não se traduziu em ralis muito expressivos nos mercados acionários. Com todos os olhares voltados às decisões do Fed nos EUA, as ações emergentes tiveram pouco espaço nas carteiras globais, enquanto os juros altos na maior economia do mundo ofereciam a investidores boa rentabilidade em títulos de baixíssimo risco. Para 2024, se o cenário-base do UBS se confirmar e o BC americano começar a reduzir os juros por lá, os emergentes ganham uma nova chance de valorização na onda do maior apetite global ao risco.
E isso também está sendo monitorado, explicou Luciano Telo, CIO para o Brasil no UBS Global Wealth Management, em entrevista ao E-Investidor.
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“A estabilização do retorno de longo prazo das Treasuries e eventualmente uma queda de juros lá na frente abre espaço para outros investimentos. E aí os mercados emergentes estão descontados na parte de ações de uma maneira bastante forte”, explica. “Tem um potencial para esses ativos. Brasil, inclusive.”
Mas essa não é a prioridade de alocação do UBS, ao menos por enquanto. Quando o assunto são os ativos brasileiros, a preferência para o início de 2024 ainda é a renda fixa – prefixada e indexada à inflação.
Para que as ações brasileiras entrem de vez no radar, será preciso uma confirmação de que o ciclo de alta de juros nos EUA está realmente no fim. Algo que só deve acontecer no segundo trimestre do ano que vem, ressalta Telo.
“A medida que passe o primeiro trimestre de 2024, teremos essa confirmação de que a atividade está desacelerando nos Estados Unidos e que, eventualmente, a inflação lá fora começa a convergir. Aí podemos pensar em ações”, explica.
E se a preferência em ações para 2024 é por qualidade, a máxima também vale para o Brasil. Por aqui, na falta de big techs como indica o relatório em relação às ações globais, os ativos que podem entrar no radar do UBS são as large caps, aquelas ações de empresas maiores e com mais liquidez na Bolsa.
“De uma maneira geral, as ações que representam mais o índice brasileiro, como commodities e bancos, acabam sendo as maiores beneficiárias do fluxo quando o ambiente global fica mais calmo”, afirma Telo. “Inclusive, a composição de se ter as ações de tecnologia onde elas estão, nos EUA, e participar do Brasil com o que o Brasil tem para oferecer é uma boa combinação. É ficar exposto a setores diferentes, cada um na sua especialidade.”