O que este conteúdo fez por você?
- Crises econômicas e interferências governamentais podem impactar diretamente as políticas de dividendos, como no caso da Petrobras
- Empresas de commodities enfrentam mais oscilações nos dividendos devido à natureza cíclica de seus mercados
- Varejistas têm mais dificuldade em manter pagamentos consistentes de dividendos por causa das variações no consumo e crises econômicas
Os investidores que querem construir renda previdenciária ou complementar por meio de dividendos precisam garantir que as empresas em que apostam tenham políticas claras e estáveis de distribuição de lucros, orientam os especialistas consultados pelo E-Investidor. Um dos mecanismos que oferecem essa segurança é o estatuto social das companhias, onde estão formalmente estabelecidas as regras para pagamento de dividendos. Nem todas as grandes empresas, porém, possuem essas diretrizes de forma explícita, o que pode gerar riscos para quem visa uma estratégia de longo prazo.
Segundo Rafael Ratto, analista da plataforma AGF, o Banco do Brasil (BBAS3), Taesa (TAEE11) e BB Seguridade (BBSE3) são exemplos, até então, de empresas comprometidas com seus acionistas, tanto pela previsibilidade nos pagamentos quanto pela potência em suas práticas de distribuição de lucros. Essas companhias, diz o estrategista, são recomendadas por manterem um padrão de payout — que representa a porcentagem de lucro que é distribuída aos acionistas na forma de proventos — e recorrência de pagamentos, ambos importantes para a segurança do investidor de longo prazo.
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O Banco do Brasil, por exemplo, informou ao mercado todas as datas de anúncios e pagamentos de proventos referentes ao exercício deste ano, informando a elevação do payout de 40% para 45%, além das oito datas de pagamentos. O estatuto social é um dos principais pilares que regulamentam os direitos e deveres de uma empresa, e Ratto afirma que a inclusão de um dividendo mínimo obrigatório no estatuto deve ser um dos fatores de atração do investidor. “O estatuto social regulamenta todos os direitos e deveres de uma companhia. Portanto, empresas que possuem assegurado um dividendo mínimo obrigatório em seu estatuto, apresentam uma segurança ao investidor”, diz o analista.
Ao escolher ações de empresas pagadoras de dividendos, é importante analisar a política oficial e a prática da companhia. Há casos em que uma empresa distribui dividendos acima do previsto no estatuto, o que pode ser um indicativo positivo de compromisso com os acionistas. Nesse sentido, acompanhar o histórico de pagamentos, a transparência e a comunicação com o mercado deve ser o primeiro passo. “Isso ajuda a selecionar boas empresas, a bons preços e que paguem bons dividendos, sendo essa seleção fundamental na carteira do investidor que busca viver de renda”, completa Ratto.
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O engenheiro Bruno Carvalho, de 37 anos, começou a investir em ações há seis anos, focando em construir uma carteira voltada exclusivamente para dividendos. “Quando comecei a estudar o mercado financeiro, percebi que os dividendos poderiam ser uma fonte de renda passiva e crescente. A ideia de não depender somente do meu salário, mas, sim, de uma carteira de ações que me pagasse mensalmente, era muito atraente”, conta.
Para ele, entender a política de dividendos de cada empresa antes de investir é o grande trunfo de quem faz esse tipo de investimento. “Eu nunca coloco meu dinheiro em uma empresa sem antes verificar seu histórico de dividendos e se ela tem uma política clara e transparente. É fundamental saber se a companhia vai manter o pagamento dos proventos mesmo em tempos difíceis”, explica.
Sustentabilidade financeira da empresa deve ser maior que payout
O gestor de investimentos da GVO Investimentos, Lucas Machado, acredita que investir em empresas pagadoras de dividendos é uma das maneiras mais seguras e eficientes de construir patrimônio ao longo do tempo. Para ele, o segredo está em focar em companhias que apresentem um histórico consistente de distribuição de proventos, bem como o compromisso com a geração de valor para seus acionistas. “O que muitos investidores não percebem é que, mais importante do que o percentual de payout, é a capacidade da empresa de manter a sustentabilidade financeira e, ao mesmo tempo, continuar gerando caixa para reinvestir no próprio negócio”, ressalta.
Machado aponta que empresas dos setores de energia, bancos e infraestrutura tendem a ser opções atrativas. O que está em jogo nesses setores, aponta, é a previsibilidade de receitas e a estabilidade que essas áreas costumam oferecer mesmo em cenários de incerteza econômica. “Não precisa ser vidente para saber que esses setores oferecem um colchão de segurança ao investidor. Isso porque seus negócios continuam a operar normalmente, independentemente de crises econômicas, e isso reflete na previsibilidade dos dividendos”, afirma o gestor.
Um exemplo que ele considera como referência é a Engie Brasil (EGIE3), do setor de energia, que tem uma política de dividendos clara e prática consistente de distribuição. Em agosto deste ano, a companhia anunciou o pagamento dos proventos intercalares de R$ 932.806.525,46. O valor é correspondente a R$ 1,14324649075 por ação. “A Engie é uma companhia que sempre distribui dividendos de forma generosa e com um cronograma previsível. Mesmo em momentos de maior incerteza, como em 2020, quando muitas empresas reduziram ou suspenderam os dividendos, ela manteve sua política”, destaca.
Para investidores que decidem construir uma carteira com foco em dividendos, Machado recomenda diversificar entre diferentes setores e buscar companhias que, além de oferecerem um bom retorno, tenham um compromisso claro com o acionista minoritário. Um exemplo que costuma ser citado pelos especialistas financeiros sobre o assunto é o da Taesa, que em maio deste ano informou ao mercado que para o exercício fiscal de 2024 a proposta é distribuir proventos de no mínimo 75% do lucro líquido regulatório.
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A empresa afirmou, ainda, que para 2025 a intenção é propor a distribuição de proventos entre 90% e 100% do lucro líquido regulatório, reforçando que a proposta não altera a distribuição dos dividendos mínimos obrigatórios prevista no estatuto social, que consiste a um dividendo anual não cumulativo de pelo menos 50% do lucro líquido ajustado do exercício. “Empresas que comunicam bem suas políticas e práticas de dividendos tendem a trazer mais confiança para o investidor. Um exemplo que gosto de dar é a CPFL Energia, que, além de oferecer um yield (rendimento) interessante, mantém uma relação muito transparente com o mercado”, afirma.
Como o pagamento de dividendos depende dos lucros que a empresa faz a cada ano, os valores a serem distribuídos podem mudar ao longo do tempo. No entanto, há empresas já bem estabelecidas, com lucros mais estáveis, que não precisam reinvestir tanto dinheiro. Isso significa que elas podem distribuir mais aos acionistas. Um dos principais indicadores usados para identificar empresas que pagam bons dividendos é o dividend yeld (DY), que mostra a relação entre o valor que a empresa distribui e o preço de suas ações.
É por isso que Machado alerta que a escolha de uma empresa não deve se basear apenas no histórico de dividendos. “Algumas companhias podem ter distribuído bons proventos no passado, mas se hoje estão em dificuldades financeiras, o pagamento de dividendos pode ser cortado drasticamente. Empresas que não têm uma geração de caixa robusta ou que enfrentam altos níveis de endividamento são risco em potencial”, diz.
O especialista ainda afirma que crises econômicas podem impactar diretamente as políticas de dividendos de uma empresa, como aconteceu com a Petrobras no passado. “Quando o governo interferiu na política de preços da Petrobras, isso afetou diretamente a lucratividade da companhia e, consequentemente, a capacidade de distribuir dividendos. O investidor deve ficar atento a como essas variáveis externas podem influenciar o pagamento de proventos”, alerta.
Um exemplo de pagamento de provento não sustentável no longo prazo, segundo Rafael Ratto e Lucas Machado, é o da OI (OIBR3) que pagou mais dividendos do que os resultados permitiam, contraindo dívidas e deteriorando seus resultados ainda mais o que, segundo eles, culminou num rombo de mais de 40 bilhões e, consequentemente, com o pedido de recuperação judicial por parte da companhia.
Empresas que distribuem grandes quantias de dividendos podem ignorar crescimento
André Motta, especialista em investimentos da Valor Investimentos, explica que além das empresas do setor de energia elétrica, as companhias de saneamento, rodovias e telecomunicações também são grandes pagadoras de dividendos. É que elas possuem fluxos de caixa estáveis e, por isso, conseguem distribuir parte de seus lucros aos acionistas de forma consistente. No Brasil, um exemplo citado por Motta é a Equatorial Energia (EQTL3), que apesar de não pagar altos dividendos, investe em projetos com altas taxas de retorno, o que beneficia seus investidores a longo prazo. Em abril, a empresa divulgou o pagamento de R$ 516,1 milhões em proventos.
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No entanto, ele alerta que, em alguns casos, empresas que distribuem grandes quantias de dividendos podem não estar aproveitando oportunidades de crescimento. Isso ocorre porque, ao reinvestir menos, a companhia pode perder a chance de aumentar suas operações ou expandir seus negócios. Empresas que conseguem equilibrar crescimento e dividendos, segundo ele, são as que oferecem os melhores retornos para os investidores, como no caso da Eletrobras (ELET3).
Quando se trata de setores problemáticos para dividendos, o especialista aponta que empresas de commodities enfrentam desafios. Esses setores são cíclicos e, quando os preços das commodities estão altos, as empresas conseguem gerar mais caixa e distribuir dividendos maiores. Contudo, essa distribuição não é garantida a longo prazo, pois oscila de acordo com as condições do mercado. A Petrobras é citada como um exemplo de empresa que, apesar de negociar com preços depreciados, enfrenta pressões para aumentar investimentos, o que pode resultar na redução de dividendos.
Setores como o varejo são considerados mais arriscados em relação a dividendos. “Empresas desse setor enfrentam mais dificuldades em gerar caixa suficiente para manter uma distribuição consistente, especialmente em momentos de baixa no consumo ou crises econômicas”, diz.
Esses fatores, afirma ele, tornam mais difícil confiar que a empresa manterá a mesma política de dividendos ao longo de 10 ou 20 anos, já que o pagamento depende diretamente das condições do mercado e das decisões estratégicas da companhia. “A confiança em uma empresa para pagar dividendos de forma consistente vem da análise de seus fundamentos, desempenho financeiro e capacidade de adaptação a mudanças no mercado”, afirma.
Maiores pagadoras de dividendos em 2023
Empresa | Dividend Yield (%) |
Petrobras PN | 19,46% |
Petrobras ON | 18,59% |
Gerdau Metalúrgica | 14,64% |
CSN | 12,95% |
Bradespar | 11,78% |
Cemig | 11,24% |
BB Seguridade | 10,33% |
Bradesco ON | 10,1% |
Bradesco PN | 9,93% |
CSN Mineração | 8,91% |
Transmissão Paulista | 8,32% |
Banco do Brasil | 8,25% |
Vale | 7,87% |
Taesa | 7,59% |
CPFL Energia | 7,49% |
Minerva | 7,37% |
Gerdau | 6,74% |
Raízen | 6,61% |
SLC Agrícola | 6,56% |
Engie Brasil | 6,4% |
Klabin | 6,09% |
Telefônica | 5,78% |
Itaúsa | 5,42% |
Ambev | 5,32% |
Santander | 5,16% |
Tim | 5,07% |
Cielo | 4,63% |
Petro Recôncavo | 4,56% |
São Martinho | 4,24% |
Lojas Renner | 4,1% |
JBS | 4,01% |
Itaú Unibanco | 3,7% |
Vibra Energia | 3,66% |
Usiminas | 3,54% |
Cyrela | 3,51% |
Multiplan | 3,51% |
Hypera | 3,44% |
Vamos | 3,34% |
Copel | 3,23% |
Eletrobras | 3,18% |
Arezzo | 2,99% |
Energisa | 2,79% |
Dexco | 2,67% |
B3 | 2,63% |
Fleury | 2,41% |
Localiza | 2,37% |
Cosan | 2,21% |
Suzano | 2,09% |
BTG Pactual | 2,07% |
Allos | 1,95% |
Totvs | 1,93% |
Sabesp | 1,69% |
Weg | 1,67% |
Iguatemi | 1,5% |
CCR | 1,36% |
Grupo Soma | 1,36% |
Ultrapar | 1,32% |
Rede D’Or | 1,28% |
Yduqs | 1,23% |
Carrefour | 1,19% |
Eztec | 1,1% |
Raia Drogasil | 1,04% |
Fonte: Economatica