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Classe de ativos com dividendos acima da Selic atrai novos investidores

Enquanto a Selic permanece a 10,5%, há produtos que ganharam adesão do mercado após a tributação dos fundos exclusivos

Classe de ativos com dividendos acima da Selic atrai novos investidores
Os fundos de infraestrutura ajudam a financiar os projetos de infraestrutura no país (Foto: Envato Elements)
O que este conteúdo fez por você?
  • Os fundos de infraestrutura investem em debêntures incentivadas que são títulos de dívida emitidos por empresas para financiar projetos de infraestrutura
  • Esses fundos entraram no radar dos investidores após a tributação dos fundos exclusivos e restrição das emissões das LCIs, LCAs, LIGs, CRIs e CRAs em fevereiro deste ano
  • Apesar dos ganhos de dois dígitos, os FI-Infra não possuem cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), o que exige cautela dos investidores

A isenção do imposto de renda (IR) e o pagamento recorrente de dividendos ajudaram os fundos de infraestrutura (FI-Infra) a conquistar espaço na carteira do investidor que busca construir uma renda passiva. Com uma dinâmica de investimento semelhante ao dos fundos imobiliários, esses produtos ganharam ainda mais adesão do mercado após a tributação dos fundos exclusivos de investimentos e mudança nas regras para as emissões de debêntures incentivadas. Ao todo, são 22 fundos de infraestrutura listados na B3 com perfis de riscos diferentes, mas com um potencial de retorno superior ao da Selic.

Os FI-Infra investem em títulos de dívidas emitidos por empresas que buscam recursos para financiar projetos de infraestrutura. Esses ativos são conhecidos como debêntures incentivadas e costumam ter a sua remuneração atrelada ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ou possuem taxas prefixadas. Nos últimos meses, a estratégia de investimento desses fundos tem dado retornos bastante consistentes, o que atraiu os holofotes do mercado para a modalidade de investimento, ainda mais com as discussões sobre uma possível alta dos juros no País.

Segundo dados da Elos Ayta, a pedido do E-Investidor, a maioria dos FI-Infra possui um dividend yield acima da Selic que, atualmente, permanece no patamar de 10,50% ao ano. Ao olhar para o valor da distribuição de dividendos aos acionistas, quase todas as remunerações ficaram acima dos R$ 9 por cota no acumulado dos meses de janeiro a setembro. Os números chamam a atenção, mas os especialistas reforçam que existem riscos elevados a serem considerados antes de incluir os produtos no portfólio.

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Veja os dividendos dos principais FI-Infras listados na B3

FI-Infra Dividendo por cota em 2024 DY dos últimos 12 meses Coatação
OGIN11 R$ 1,15 16,54% R$ 10,10
CDII11 R$ 11,73 14,38% R$ 108,42
JURO11 R$ 10,50 13,92% R$ 105,60
BIDB11 R$ 9,44 13,53% R$ 90,36
CPTI11 R$ 10,50 13,49% R$ 94,20
SNID11 R$ 0,85 12,90% R$ 10,28
RBIF11 R$ 9,25 12,89% R$ 93,98
IFRA11 R$ 9,90 12,55% R$ 108,01
BDIF11 R$ 7,50 12,48% R$ 83,17
KDIF11 R$ 10,35 9,85% R$ 136,64
BODB11 R$ 0,76 9,36% R$ 8,92
XPID11 R$ 6,75 7,58% R$ 69
Fonte: Elos Ayta/Dados referente até o pregão do dia 10 de setembro de 2024

Segundo Marianne Moraes, gestora de renda fixa e crédito privado da Inter Asset, ao contrário dos ativos de renda fixa tradicionais, como os CDBs, os FI-Infra não possuem cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) e estão suscetíveis ao risco de crédito das empresas responsáveis pela emissão dos títulos. Ou seja, se a companhia responsável pelo papel não honrar com o pagamento da dívida, o investidor pode ter na carteira um fundo com inadimplência na carteira. “É preciso explorar a composição do portfólio, políticas e processo de investimento para uma boa avaliação do risco/retorno desses projetos”, diz Moraes.

O trabalho de investigação também se estende para as garantias das operações em caso de inadimplência do papel e os processos de execução dessas garantias. E quando se trata de papéis com vencimentos mais longos, a atenção deve ser redobrada por estar mais sensível aos ciclos econômicos e até mudanças nas legislações que possam impactar na execução dos projetos. “Por isso, a importância de acompanhar de perto a saúde financeira do ativo e também do setor”, afirma Norberto Sangalli, broker da mesa de renda variável da Nippur Finance.

Os tipos de fundos de infraestrutura

Os fundos de infraestrutura nem sempre possuem estratégias de investimentos similares. Há gestores que preferem estruturar um fundo com portfólio mais pulverizado como uma forma de reduzir as chances de default dos papéis. É o caso do Sparta Infra CDI (CDII11), gerido pela Sparta. O fundo busca um retorno equivalente a CDI + 2% ao ano e possui um patrimônio líquido dividido em mais de 90 debêntures incentivadas, sendo a maioria voltada para os setores de energia e saneamento.

“Esse risco de crédito referente a cada companhia acaba sendo mais diluído visto que o fundo possui uma carteira com vários nomes do mercado”, afirma Christopher Galvão, analista de fundos da Nord. Por outro lado, há outros FI-Infra que preferem concentrar os seus recursos em empresas que podem oferecer retornos mais atrativos e alinhados com o seu objetivo de rentabilidade. A escolha vai depender do apetite a risco de cada investidor. “Não é porque os fundos investem em projetos de infraestrutura no País que eles podem ser considerados de baixo risco”, alerta Galvão, que sugere priorizar os fundos com ativos de menor risco, classificados por um rating (classificação de risco) AAA.

Outro ponto a ser observado é o indexador atrelado ao portfólio do FI-Infra. Há fundos que possuem rentabilidades atreladas ao IPCA, enquanto outros ao CDI. Se o foco é ter retornos acima da média do mercado, a escolha de fundos mais expostos aos movimentos da taxa de juros pode ser mais interessante visto que o mercado projeta uma retomada do ciclo de aperto monetário no País.

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Por outro lado, Rafael Ohmachi, gestor de portfólio na área de fundos líquidos da RB Capital, reforça que, independentemente da escolha, as rentabilidades desses ativos costumam ficar acima dos títulos públicos brasileiros devido à isenção do IR e também pelo risco ser mais elevado. “O mais importante é saber que seus investimentos terão uma proteção contra a inflação (IPCA)”, destaca Ohmachi.

Por que o mercado de debêntures incentivadas está aquecido?

A adesão dos investidores aos fundos de infraestrutura ganhou um impulso nos últimos meses com um ambiente mais favorável para as debêntures incentivadas. Segundo dados da Economatica enviados a pedido do E-Investidor, no fim de 2023 cerca de 158 mil investidores destinaram parte do seu patrimônio em fundos de infraestrutura. Esse número cresceu 87,6% em nove meses com a entrada de mais de 130 mil cotistas. O crescimento, na avaliação de especialistas, está associado com a busca de investidores por investimentos isentos de imposto de renda. Isso acontece porque, em novembro do ano passado, o governo federal conseguiu aprovar no Congresso a implementação do regime come-cotas, que prevê a cobrança do IR sobre a rentabilidade duas vezes ao ano, para os fundos exclusivos de investimentos.

Antes, a dedução do IR só acontecia no momento do resgate dos recursos e de forma regressiva – quanto maior for o tempo de aplicação, menor será a tributação em cima do montante. Com a vigência da nova legislação, os fundos de infraestrutura entraram no radar dos investidores devido ao seu benefício tributário. Em janeiro deste ano, o movimento ganhou ainda mais força quando o governo flexibilizou as regras da emissão de debêntures incentivadas por meio da lei 14.801/24.

A medida criou um ambiente mais favorável para a emissão dessas dívidas pelas empresas dos setores de energia, transporte/logística, telecomunicações e de saneamento. Além disso, no último mês de fevereiro, o Conselho Monetário Nacional (CMN) publicou duas novas resoluções que restringiram as emissões de Letras de Crédito Imobiliário (LCIs), Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) e Letra Imobiliária Garantida (LIGs), Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIS) e do Agronegócio (CRAs). Na prática, as decisões em conjunto ajudaram a ampliar o mercado com novas emissões de debêntures incentivadas e a atrair a atenção do investidor para os fundos de infraestrutura.

Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima), de janeiro a julho deste ano, as emissões desses títulos de dívidas conseguiram captar R$ 83,5 bilhões. O volume já é superior ao total de recursos levantados em todo o ano de 2023. A demanda estimulou as gestoras a lançarem fundos de infraestrutura a fim de aproveitar o crescimento da modalidade de investimento.

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Foi o caso da JiveMauá que, no dia 5 de setembro, lançou o seu fundo de infraestrutura BossaNova Infra para o público geral na B3 e conseguiu levantar mais de R$ 437 milhões na sua primeira emissão de cotas. O novo produto busca atingir uma rentabilidade de CDI mais 2% ao ano a 3% ao ano e planeja se posicionar em ativos emitidos por empresas menores.

Veja a captação das emissões de debêntures incentivadas em 2023 e em 2024

Período Valor das emissões
1º semestre de 2023 R$ 12,7 bilhões
2º semestre de 2023 R$ 55 bilhões
1º semestre de 2024 R$ 64,4 bilhões
2º semestre de 2024* R$ 19,1 bilhões*
Fonte: Anbima/*Dados apenas de julho de 2024