

Apesar das variações, o dólar segue em queda nas últimas semanas e meses. Dados da Elos Ayta Consultoria mostram que, no acumulado de 2025 até 30 de setembro, o dólar Ptax recuou 14,11%, encerrando setembro com baixa de 1,99%.
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Apesar das variações, o dólar segue em queda nas últimas semanas e meses. Dados da Elos Ayta Consultoria mostram que, no acumulado de 2025 até 30 de setembro, o dólar Ptax recuou 14,11%, encerrando setembro com baixa de 1,99%.
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Dolarizar a carteira como proteção sempre foi uma máxima de especialistas, já que o Brasil enfrenta forte volatilidade que corrói a rentabilidade de ativos. Mas quando o dólar está em baixa, vale apostar na dolarização do patrimônio?
Para Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad, dolarizar deve ser uma estratégia estrutural. Com as quedas recentes, surgiu uma janela interessante para intensificar esse movimento. Para quem busca dividendos dolarizados, o cenário é ainda mais favorável pelo perfil menos volátil destes ativos, em comparação a teses de crescimento.
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“Essa estratégia de renda dolarizada pode ser atingida por meio de companhias boas pagadoras, ETFs de renda variável e renda fixa, ou até bonds (títulos do governo americano) com pagamento de cupons periódicos”, diz Zogbi. Ela recomenda ainda o reinvestimento dos proventos para otimizar retornos.
Na visão de Tatiana Berenguer, fundadora da TB Advisory, o melhor momento para comprar dólar foi “ontem”, pois não há como prever a valorização ou desvalorização no curto prazo. “Desde que o real foi lançado já perdeu mais de 80% de seu valor em relação ao dólar. A janela atual é bastante favorável para dolarizar, pois o real se valorizou consideravelmente, mas o investidor brasileiro costuma deixar passar essas boas oportunidades”, comenta.
Outros especialistas destacam que a dolarização tende a ganhar relevância diante da mudança de hábitos de consumo. “Segundo pesquisas da FGV, a cesta média do consumidor brasileiro já é 20% atrelada a produtos dolarizados. Portanto, o investidor médio que não quer perder poder de compra seguindo a inflação já deveria ter pelo menos 20% do seu patrimônio em dólar ou atrelado à moeda americana”, defende Flávio Vegas, especialista da Global X.
Para dolarizar e ainda ganhar dividendos, existem diversas alternativas: investir diretamente no exterior ou via produtos listados no Brasil que acompanham essa variação. Nesta reportagem, reunimos algumas delas.
No Brasil, um dividend yield (retorno em dividendos) de 6% é considerado mínimo, enquanto alguns exigem 8% para compensar a inflação. Nos EUA, o patamar é menor.
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A média de DY do Ibovespa é de 6%, já no índice S&P 500 o yield médio fica entre 1,5% e 2%, segundo Fernando Forshaid, assessor de investimentos da AVIN.
Forshaid explica que, nos EUA, dividendos são menores porque empresas priorizam reinvestimento e recompra de ações, que aumentam o lucro por ação e valorizam o papel, além de serem fiscalmente mais eficientes que dividendos, que sofrem 30% de tributação na fonte.
Zogbi aconselha usar os Fed Funds (atualmente em 4,25% a 4,5%) como parâmetro, lembrando que dividendos dolarizados priorizam solidez e geração previsível de renda, não apenas dividend yield alto.
Gabriel Duarte, analista da Ticker Research, aponta que setores como utilities, REITs e energia rendem dividend yield entre 3% e 5%; ações aristocratas, 2% a 4%; ETFs de proventos elevados, 3% a 4,5%.
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“Um dividend yield adequado nos EUA gira entre 2% e 5%, dependendo do setor e perfil. Se for muito acima de 6% pode indicar risco ou payout (parcela do lucro destinada a proventos) insustentável, diferente do Brasil, onde yields altos são comuns”, defende Duarte.
Essa lógica não vale para ETFs que usam opções para elevar o dividend yield de forma sintética.
Uma das alternativas mais tradicionais para obter renda recorrente em dólar é investir em ETFs, que oferecem uma cesta de ativos e geralmente replicam um índice. Nos EUA, há ETFs com pagamentos mensais e trimestrais, com dividend yields entre 2% e 12%, sendo os mais elevados os que misturam estratégias com opções. Veja abaixo:
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Especialistas sugerem optar por ETFs de várias classes de ativos, como ações, REITs (fundos imobiliários americanos) e títulos corporativos, misturando estabilidade e rendimento. É importante verificar o histórico de 5 anos do ETF, consistência de pagamento, crescimento dos dividendos, taxas e liquidez.
Além das estratégias tradicionais, outra alternativa é buscar ETFs que usam opções para elevar o dividend yield sem aumentar o risco.
Para quem não quer abrir conta em corretora internacional, é possível investir nos mesmos ETFs americanos via BDRs de ETFs, que são recibos desses ativos. Além da tributação de 30%, geralmente há taxas de 3% a 5%, reduzindo o recebimento final do dividendo a 60% até 70%.
Desde 2023, a bolsa brasileira permite a listagem de ETFs que pagam dividendos. Alguns da gestora Buena Vista oferecem exposição a ativos internacionais e estratégias dolarizadas, usando opções que elevam o dividend yield entre 10,8% e 28% ao ano – bem acima da média brasileira de 6%. A maioria entrega mais de 1% ao mês, com teses como as 500 maiores empresas dos EUA, mercado imobiliário americano, ouro, tecnologia, small caps e bitcoin.
Um dos favoritos dos analistas é o QQQI11. Marco Saravalle, estrategista-chefe da MSX Invest, explica que replica um índice da Nasdaq, focado em empresas de tecnologia como Apple, Microsoft e Nvidia, com dividendos mensais de 1,2%. “Temos preferido a exposição via bolsa brasileira, o ETF é super líquido, bem negociado e com taxas baixas, o que o torna acessível diante desse forte retorno adicional”, diz Saravalle.
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Outro citado é o SPYI11, que também usa opções e investe nas 500 maiores empresas dos EUA, com dividend yield mensal de 1%. Como são ETFs listados no Brasil, a tributação sobre os dividendos é de apenas 15%. Veja abaixo:
Para quem prefere investir diretamente, sem gestora ou replicar índices, é possível comprar ações (stocks) americanas ou REITs (empresas de real estate, semelhantes a fundos imobiliários).
Ailton Marcolino, especialista da Barsi Investimentos, cita ações com dividendos crescentes ano a ano, como Johnson & Johnson (JNJ) com dividendos crescentes há mais de 60 anos; Verizon (VZ), 19 anos; Coca-Cola (KO), 63 anos; e a petroleira Exxon Mobil (XOM), 42 anos, líder do setor energético.
Também está a Microsoft (MSFT), que apesar de yield médio em 5 anos de 0,83%, se encaixa nos padrões americanos por ter dividendos crescentes há 14 anos e liderança em cloud computing e IA. “Muitas vezes, em desempenho anualizado, a Microsoft entrega retornos de 40% somada a valorização, fazendo diferença expressiva no aumento de patrimônio”, justifica Marcolino.
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Matheus de Lima, especialista em renda variável da AVIN, cita U.S. Bancorp (USB), “ideal para quem busca solidez financeira e dividendos consistentes mesmo em cenários instáveis”, e a PepsiCo (PEP), gigante global de consumo defensivo, com marcas fortes e histórico sólido. “perfeita para quem privilegia previsibilidade de renda e valorização contínua”.
Há ainda a opção de dolarizar a carteira em ações sem sair do Brasil, como explicaremos nesta outra reportagem.
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