O dólar opera no menor patamar desde outubro de 2024. No acumulado deste ano, a moeda americana recua 11,06% em relação ao real, o que tem levado bancos e corretoras a revisar suas projeções para o câmbio. Se no começo de 2025 a expectativa era que a moeda terminasse dezembro acima de R$ 6, agora a maior parte das casas estima que a divisa se mantenha abaixo desse patamar.
Ao final de maio, o BTG Pactual foi um dos bancos que revisou a sua estimativa para o dólar. Antes em R$ 6, agora a projeção é de R$ 5,6. A alteração leva em conta a desvalorização global da moeda americana. Para 2026, no entanto, a casa acredita que a evolução do câmbio dependerá principalmente de fatores domésticos, especialmente do processo político e da expectativa de como o próximo governo enfrentará o problema fiscal estrutural.
Quem também revisou a projeção foi o Inter, que agora espera um dólar em R$ 5,7, contra R$ 5,8 anteriormente. O Itaú, por sua vez, trocou sua estimativa de R$ 5,75 para R$ 5,65. Por um lado, banco acredita que o real segue se beneficiando do ambiente internacional, com o dólar mais fraco frente às moedas emergentes. Por outro, a instituição considera que a elevada incerteza sobre o cenário internacional e os riscos domésticos relacionados às contas fiscais, além do quadro de contas externas pressionadas, exige uma postura cautelosa, que explica o ajuste mais modesto nas previsões.
Na visão de especialistas ouvidos pelo E-Investidor, a justificativa para a recente queda do dólar está muito mais associada ao cenário externo do que ao interno. Globalmente, a moeda americana recua mais de 8% em 2025, conforme mostra o índice DXY, que mede o dólar em relação a seis divisas fortes.
“Acredito que essa queda reflete muito mais um movimento externo do que uma melhora interna. Não é o real que está se fortalecendo – é o dólar que está enfraquecendo”, afirma Carlos Honorato, professor da FIA Business School.
O especialista também entende que o movimento representa um ajuste natural do ‘excesso de medo’ observado no final de 2024, quando o dólar superou os R$ 6, em meio ao aumento de preocupações em relação ao cenário fiscal brasileiro. Na época, o pacote de corte de gastos anunciado pelo governo federal foi considerado insuficiente pelo mercado, como mostramos aqui.
Uma explicação econômica também tem beneficiado o real: a diferença entre as taxas de juros no Brasil e nos Estados Unidos. Por aqui, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a Selic para 14,75% ao ano. Já nos EUA, as taxas continuam na faixa entre 4,25% e 4,50% ao ano. Essa disparidade incentiva operações de carry trade – estratégia de investimento que consiste em tomar dinheiro emprestado em um país com juros mais baixos e investir em outro que ofereça taxas mais altas.
“O diferencial de juros ainda alto no Brasil mantém o país atrativo para investidores estrangeiros em busca de rendimento, especialmente por ser menos afetado pelas tarifas de Donald Trump. Se o cenário externo continuar favorável e não houver piora relevante no risco fiscal local, é possível que o dólar siga comportado frente ao real no curto prazo”, afirma Marcos Weigt, diretor de tesouraria do Travelex Bank.
Vale aproveitar o momento para comprar dólar?
Manter uma exposição ao dólar é importante para proteger o investidor. O estudo “Impacto Cambial no Consumo dos Brasileiros e a Necessidade de Diversificação Internacional”, conduzido por especialistas em economia e finanças do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGVcef), mostrou que o impacto do câmbio sobre a cesta de consumo dos brasileiros varia de 16% a 18% a depender da faixa de renda.
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Dessa forma, só para proteger seu poder de compra das variações cambiais, os brasileiros deveriam ter um mínimo de 16% de sua carteira alocada em ativos no exterior. Este percentual pode ser maior dependendo das particularidades de consumo da pessoa ou família. Para núcleos de alta renda, por exemplo, o mínimo deve ficar entre 17% e 18%.
Levando em consideração esses dados, Daniel Haddad, diretor de investimentos da Avenue, avalia que o investidor brasileiro ainda está distante do nível de exposição ao dólar considerado adequado. “Apenas para neutralizar o impacto do dólar sobre o consumo, seria necessário ter pelo menos 18% do patrimônio em ativos dolarizados. Se incluirmos os benefícios da diversificação geográfica e da proteção patrimonial no longo prazo, esse percentual facilmente pode ultrapassar 30%, enquanto costumamos ver o brasileiro com apenas 2% do portfólio dolarizado”, destaca.
Segundo Haddad, o recente movimento de bancos estrangeiros reavaliando suas projeções para o dólar reflete uma estratégia tática. “Quando ouvimos grandes instituições ou o consenso de mercado falando em redução de exposição à moeda americana, na prática isso costuma significar algo como diminuir a alocação global em ativos americanos de 70% para 68%”, explica.
Já no caso do investidor brasileiro, a realidade é diferente. Segundo o especialista, a exposição ao dólar ainda é bastante limitada – e, na avaliação dele, há amplo espaço para aumento dessa participação nas carteiras.