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- As dúvidas sobre o início do corte de juros nos EUA e o risco fiscal no Brasil sustentam a alta do câmbio
- Segundo dados da Elos Ayta, em 2024, a moeda norte-americana avançou mais de 10% em meio as incertezas no cenário macroeconômico
As incertezas sobre o cenário macroeconômico viabilizaram os recentes avanços do dólar. Tanto na última sexta-feira (7) quanto nas negociações de segunda-feira (10), a moeda norte-americana conseguiu permanecer acima dos R$ 5,30 – a maior cotação desde janeiro de 2023. O movimento de valorização reflete o comportamento dos investidores em busca de proteção em meio às dúvidas sobre o início do corte de juros nos Estados Unidos e o risco fiscal no ambiente doméstico.
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No entanto, a tendência é que a variação do câmbio perca força nos próximos meses ao passo do dólar ficar próximo dos R$ 5. Isso deve acontecer porque, mesmo com os recentes indicadores econômicos dos EUA ainda apontarem uma atividade econômica aquecida, o mercado acredita que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) dará início ao ciclo de queda dos juros em novembro deste ano, segundo os dados da ferramenta de monitoramento do CME Group.
Caso essa projeção se concretize, a tendência é que haja um enfraquecimento da moeda até o fim de 2024. “A política monetária nos Estados Unidos tem sido até aqui o grande responsável pela forte desvalorização da moeda local frente ao dólar em função do enxugamento significativo da liquidez mundial que tem gerado”, diz Matheus Pizzani, economista da CM Capital. Com essa possibilidade no radar, a corretora estima que o dólar tenha chances de encerrar o ano a R$ 4,98. Ou seja, sofra uma desvalorização de 7% até dezembro.
A Guide Investimentos também enxerga um espaço para uma queda do câmbio, mas não acredita que esse enfraquecimento seja tão substancial como a CM Capital projeta. Para a corretora, o dólar deve encerrar 2024 a uma cotação de R$ 5,15 frente ao real. O recuo, na avaliação de Victor Beyruti, economista da Guide, será um reflexo de uma correção às recentes valorizações, classificadas por ele como um comportamento exagerado do mercado.
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“Tivemos um dado forte do mercado de trabalho dos EUA – com número de novas vagas acima do esperado – e também um aumento do receio crescente entre os investidores com relação à sustentabilidade do novo arcabouço fiscal. Ou seja, tivemos uma tempestade perfeita nos últimos dias”, explica Beyruti os recentes movimentos do câmbio. Se o governo federal se movimentar ao passo de mostrar uma maior responsabilidade fiscal, há chances dessa correção ser ainda mais consistente nos próximos meses.
Segundo a apuração do Estadão, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deve apresentar ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, nos próximos dias opções de medidas para reduzir os gastos do orçamento público. Uma das alternativas é a definição de um teto de 2,5% acima da inflação para as despesas vinculadas ao salário mínimo.
Para Bruce Barbosa, sócio-fundador e analistas de ações da Nord Research, se o Planalto demonstrar qualquer compromisso com as contas públicas, o dólar seguirá em ritmo de queda. “Se o governo seguir as regras do arcabouço fiscal, o dólar deve cair. Essa alta aconteceu porque houve um medo do governo de mudar o próprio arcabouço fiscal”, afirma Barbosa.
O impacto do câmbio nas ações da bolsa
A apreciação do dólar beneficia as ações de companhias exportadoras que conseguem ter ganhos maiores à medida que o câmbio se valoriza. Isso acontece porque os produtos das empresas ficam mais acessíveis ao comprador internacional.
“A empresa que eu mais gosto e que tem receita em dólar é a PetroRio (PRIO3) que exporta petróleo. É uma empresa que apresenta um crescimento muito forte e está negociando 6x o múltiplo preço sobre o lucro (P/L)”, avalia o analista da Nord. As ações da Vale (VALE3) e da Petrobras (PETR3; PETR4) também se beneficiam com a apreciação da moeda norte-americana por terem uma receita dolarizada.
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Já para outras empresas, a valorização do dólar se torna um grande pesadelo por representar aumento dos custos. Nilson Marcelo, analista quantitativo da CM Capital, cita a Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4) como exemplos de companhias que são prejudicadas com valorização do câmbio por terem custos dolarizados, como o combustível.
As ações das varejistas, como Lojas Renner (LREN3) e Magazine Luiza (MGLU3), também sentem no bolso quando o dólar se fortalece. “A alta do dólar aumenta os custos de importação, piorando as margens de lucro dessas empresas”, afirma Marcelo.