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- O dólar caiu ao menor valor desde novembro de 2024, na esteira de um alívio global com medidas menos duras de Donald Trump nos EUA
- Mas especialistas ainda mantêm a cautela com a cotação abaixo de R$ 6
- Há incerteza se as medidas de Trump não vão atingir o Brasil e o risco fiscal do País ainda deve pressionar o câmbio em 2025
O dólar encerrou a quarta-feira (22) cotado a R$ 5,94, o menor valor desde novembro de 2024. O alívio acontece depois de semanas consecutivas de alta da moeda americana, que, na reta final do ano passado, engatou uma sequência de valorizações que levou o dólar ao maior valor da história. Agora, aqueles R$ 6,20 estão mais distantes, mas especialistas ainda mantêm a cautela com a cotação abaixo de R$ 6.
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A queda do dólar registrada na semana tem a ver, principalmente, com a volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. O republicano anunciou tarifas de 25% para a importação de produtos do Canadá e do México, e a possibilidade de medidas semelhantes contra a China também está no radar. Ainda assim, por ora, os anúncios vieram mais brandos do que o prometido em campanha, o que dá alívio ao câmbio globalmente.
“Após os primeiros dias do novo mandato Trump nos Estados Unidos, o mercado passou a se sentir mais confortável em assumir que a retórica do presidente será mais firme do que suas atitudes”, explica Paula Zogbi, gerente de Research da Nomad. “Esse ‘benefício da dúvida’ enfraquece o dólar nesta quarta-feira, mas a volatilidade tende a continuar conforme o presidente continua falando sobre medidas potencialmente inflacionárias, como tarifas de importação.”
O dólar vai se manter abaixo de R$ 6?
A projeção do Boletim Focus para 2025 é que o dólar encerre o ano na casa de R$ 6, mas, como mostramos aqui, as projeções de mercado variam entre R$ 5,60 e R$ 7.
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Para Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas, o cenário atual ainda não pode ser considerado uma nova normalidade. Tanto no Brasil quanto nos EUA, muitos fatores podem impactar o mercado e o câmbio.
“A ausência de notícias relevantes sobre o cenário fiscal no Brasil tem sido favorável ao mercado. Além disso, o adiamento da divulgação de tarifas sobre produtos importados nos EUA trouxe alívio, permitindo uma desmontagem de posições no mercado de câmbio, gerando fluxo positivo”, diz. “Mas a postergação de medidas protecionistas nos EUA pode apenas ter adiado a desvalorização do real.”
No curto prazo, com o Congresso ainda em recesso parlamentar, as atenções ficam mais voltadas ao mercado internacional. Mas o impasse em relação ao fiscal no País ainda deve continuar a pressionar o câmbio ao longo de 2025.
Joseph Belardo, sócio da Duo Digital, destaca que, para além das primeiras horas de governo Trump, a queda recente do dólar em relação ao real se deve ao fluxo de entrada de investidores estrangeiros no Brasil, que está positivo nas primeiras semanas de janeiro. “Importante movimento em destaque foi a venda da Cosan (CSAN3) na Vale (VALE3), montante de R$ 9,1 bilhões de reais”, diz.
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Sem sinalizações mais firmes do governo em relação ao fiscal, a tendência do dólar continua sendo de alta, segundo ele. “A queda do dólar não teve relação direta a confiança do investidor e melhora fiscal no Brasil. Não existe motivo atrativo para qualquer investidor estrangeiro buscar o real”, ressalta Belardo.
Essa também é a opinião de Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos. O especialista vê o real se beneficiar de ajustes técnicos, mas com dificuldade para se sustentar abaixo de R$ 6. “A trajetória futura do dólar dependerá da continuidade das reformas fiscais no Brasil e das condições econômicas globais. Apesar do alívio recente, a volatilidade no câmbio pode persistir, refletindo a complexidade e a incerteza dos fatores econômicos e políticos envolvidos.”