- CIO da Legacy Capital desaconselha investir em títulos com juros longos antes da eleições presidenciais
- Especialista diz que não há informações suficientes para prever as condições econômicas do país no longo prazo
- Para Guerra, Bolsonaro reeleito deve continuar as reformas estruturais, enquanto a política econômica de Lula é incerta
Na visão de Felipe Guerra, sócio-fundador e CIO da Legacy Capital, investir em títulos com juros longos no Brasil antes da definição das eleições presidenciais “é uma maluquice”.
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Isto porque, sem saber qual será o próximo governo, não há informações suficientes para prever as condições econômicas do país em um prazo mais amplo – principalmente se o ganhador das eleições for o petista Luiz Inácio Lula da Silva.
O discurso foi feito durante o Brazil Capital Markets Forum, evento promovido pela Bloomberg. No painel “Perspectivas e riscos econômicos do Brasil pós-eleitoral”, o executivo da Legacy faz questão de se posicionar politicamente: para ele, Bolsonaro e Lula conduzirão o país por caminhos muito diferentes.
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Bolsonaro deve continuar as reformas estruturais e ser mais consciente com a questão fiscal, enquanto a política econômica a ser aplicada pelo líder do PT é incerta. Até o momento, o ex-presidente não apresentou a versão final do plano de governo e nem indicou quem será o ministro da economia.
“Eu discordo desse pensamento (ventilada no mercado) de que tanto faz, que é tudo a mesma coisa. Tem uma diferença enorme (entre Lula e Bolsonaro)”, afirma Guerra. “No modelo econômico que o PT implementou, a produtividade é muito baixa, a inflação é mais alta, a bolsa não vai a lugar nenhum. Tenho muita insegurança do que vem desse lado (Lula), do outro (Bolsonaro) sabemos que terá uma continuidade.”
Entre os cenários desenhados para o mercado de capitais, está o alcance dos 150 mil pontos caso haja uma continuidade das reformas estruturantes em uma eventual reeleição de Bolsonaro, o que possibilitaria que o Banco Central pudesse cortar juros de forma mais rápida e intensa.
Já em um possível governo Lula, a dinâmica seria diferente, com um ciclo mais longo de queda, inflação e juros mais altos.
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Contudo, mesmo se “fizerem muita besteira” em um governo Lula, nas palavras de Guerra, o Brasil ainda assim estaria bem posicionado em relação aos pares globais. No exterior, os EUA e Europa ainda tentam combater o choque inflacionário, enquanto por aqui discute-se o início do corte de juros.
“É a primeira vez em muito muitos anos que a gente discute aumento do PIB potencial do Brasil, é importante continuar nessa política econômica”, afirma o CIO da Legacy. “Eu não ficaria short em Brasil”, diz. Apesar de não estar vendido no país, Guerra segue cauteloso com as posições no mercado interno até a definição das eleições presidenciais. Já entre a última segunda-feira (3) e terça (4), o executivo diminuiu as posições no País.
André Laport, sócio-fundador da Vinland Capital, e Paula Moreira, diretora do Goldman Sachs, também participaram do painel junto à Guerra e compartilham da visão mais cautelosa.
Na visão de Laport, o Brasil é a “bola da vez” em relação a direcionamento de investimentos estrangeiros. Entretanto, as eleições ainda trazem incertezas para os investidores. “A parte que mais traga incerteza é o que vai acontecer em um governo Lula. Temos que esperar isso”, diz Laport. “Em cenários binários (como eleições), não faz muito sentido a gente ter risco.”
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Moreira afirma que para o investidor estrangeiro retornar, de fato, para o Brasil, algumas questões precisam ser resolvidas. Não só as eleições devem ser definidas, mas as incertezas globais, que costumam provocar a fuga para o dólar, diminuir.