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Embraer (EMBR3) ataca mercado de US$ 111 bi e conquista bancos com ‘carro voador’ para 2026. Vale investir?

Enquanto a fabricante de aeronaves brasileira tem uma das maiores altas da bolsa brasileira, a sua subsidiária cai 65%; descubra se vale a pena investir

Embraer (EMBR3) ataca mercado de US$ 111 bi e conquista bancos com ‘carro voador’ para 2026. Vale investir?
Protótipo do carro voador da Embraer (eVTOL) foi apresentado no domingo (21). Foto: Thiago Riboura/Embraer
  • No domingo (21), a Embraer apresentou o primeiro protótipo em escala real do see eVTOL, produzido pela subsidiária Eve
  • Mas enquanto as ações da Embraer acumulam uma valorização superior a 120% em 2024, a Eve amarga uma queda de 65% em Nova York
  • O transporte elétrico de decolagem e pouso vertical (eVTOL) é promessa para se concretizar em 2030, mas a Embraer pretende ter o seu carro voador em plena operação em 2026

Da ficção científica à realidade: o futuro em que o “carro voador” dominará os céus parece estar muito próximo de se concretizar. No último fim de semana, a Embraer (EMBR3) apresentou o primeiro protótipo em escala real da sua aeronave elétrica de decolagem e pouso vertical (eVTOL). O modelo foi desenvolvido por sua subsidiária, a Eve, que tem conseguido seduzir bancos que cobrem a fabricante de jatos e suas concorrentes. No entanto, o produto que ela pretende colocar em operação daqui a dois anos tenta alçar voo em um mercado ainda em construção, fazendo com que os investidores não consigam ter a mesma confiança que a sua controladora construiu ao longo da sua história.

Para se ter uma ideia, as ações da Embraer acumulam uma das maiores valorizações da Bolsa de Valores brasileira recente: alta de 126% nos últimos 12 meses. Enquanto isso, a Eve, listada na Nasdaq, Bolsa de Valores de Nova York, sob o código (ticker) EVEX, amarga uma queda de 65% nesse mesmo período. Ainda assim, muitos compradores de EMBR3 também têm indicado o investimento nas ações EVEX, caso do JPMorgan.

O banco americano tem recomendação de compra para a subsidiária da Embraer desde que começou a sua cobertura das ações, em março do ano passado. O preço-alvo para os papéis da Eve, contudo, tem tido uma imprevisibilidade semelhante ao futuro do mercado de carros voadores. Em 2023, os analistas do JPMorgan começaram com projeção de US$ 8 e chegaram a apostar em US$ 14,5 em agosto do mesmo ano. Para o ano fiscal de 2024, o valor já foi cortado para US$ 9, mas este patamar ainda representa um potencial de alta de 166% frente aos US$ 3,38 registrados no fechamento da quarta-feira (24).

O que o mercado vê nas ações do carro voador da Embraer?

Além do JPMorgan, outros bancos e corretoras internacionais têm recomendação de compra para as ações da Eve Air Mobility. Se não for compra, a recomendação é neutra, mas o preço-alvo para EVEX também prevê um upside (potencial de ganho) próximo ou superior a 100%. Confira as recomendações na tabela abaixo.

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A crença de que as ações da Eve ainda vão subir, assim como de possíveis concorrentes no mercado do carro voador, acontece por causa da expectativa com o setor. Uma pesquisa da McKinsey mostrou que a indústria da Mobilidade Aérea Avançada acumula vendas estimadas em US$ 111 bilhões. Esse valor corresponde aos mais de 15 mil eVTOLs encomendados em todo o mundo.

Junto a isso, a subsidiária da fabricante de jatos brasileira tem sustentado o seu caixa com investimentos diretos na companhia, já que até o momento a receita de encomendas ainda não existe. No quarto trimestre de 2023, a Eve tinha uma posição de caixa na ordem de US$ 241 milhões e dívida líquida de US$ 25,8 milhões. Nos três primeiros meses de 2024, o caixa ficou em US$ 223 milhões, enquanto a dívida líquida passou para US$ 40 milhões.

Isso tem acontecido porque a companhia adotou um modelo de negócios semelhante a uma startup: primeiro levantando investimentos para posteriormente entregar o seu produto disruptivo. Inclusive, no início de julho a Eve anunciou US$ 94 milhões em novo financiamento de capital de vários investidores e a emissão de 23,5 milhões de ações ordinárias.

O JPMorgan classificou o movimento como positivo. “A Eve conseguiu trazer a Nidec – parceira e fornecedora de motores – para seus acionistas e garantir sua saúde financeira até o início de 2027”, dizem os analistas. Porém, eles destacam que o preço de US$ 4 das ações emitidas, comparado ao preço na sua oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) que foi de US$ 10, reflete a deterioração do cenário macroeconômico mundial e o aumento do custo de capital para o setor de eVTOL.

É melhor investir na Eve ou na Embraer?

Atualmente, a Eve detém a maior participação de mercado no setor de eVTOL (veja o gráfico abaixo). A sua carteira de pedidos chega a quase 2,9 mil “carros voadores”, totalizando US$ 14,5 bilhões. Outro fator que torna o investimento atraente está justamente na participação massiva da sua controladora.

Pelo menos é essa a avaliação de Adrian Nuñez, analista da Moelis & Company. “Investir na Eve é uma forma econômica de investir na Embraer”, afirma. Isso porque a companhia brasileira tem cerca de 83% de participação desenvolvedora de eVTOLs. Para ele, ambas as companhias estão com valores descontados frente aos concorrentes e têm potencial de crescimento para os próximos anos.

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No entanto, o analista destaca que escolher entre controladora e subsidiária vai depender das prioridades de cada investidor. “Os investidores da Embraer concentram-se na desalavancagem e no aumento da rentabilidade da empresa. Já os investidores da Eve vão focar no elevado crescimento em um mercado disruptivo”, explica.

Em relação à fabricante de eVTOL, Nuñes pontua que a companhia tem vantagem sobre concorrentes do setor ao aproveitar a experiência e as instalações da Embraer. “Isso ajuda a cortar custos e a reduzir a necessidade de investimentos pesados”, diz. Além disso, a fabricante brasileira já certificou mais de 35 aeronaves com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) nos últimos 25 anos, o que também pode pesar a favor da regulamentação do carro voador no Brasil.

Vai ter carro voador no Brasil em 2026?

Esqueça a imagem do carro voador parecida com ficções, como no filme “Blade Runner” ou no desenho animado “Os Jetsons”. Os protótipos de eVTOLs apresentados ao mercado têm uma aparência que mescla a de um helicóptero com a de um drone. Na previsão da Eve, em 2025 algumas aeronaves vão começar a sobrevoar os céus das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro e a plena operação se dará no ano seguinte.

Alexandre Bürgel, engenheiro eletrônico e diretor da Innova Ação, Kely Góis, palestrante de Ciências Aeronáuticas e CEO Aviation Council, juntamente com Marco Gabaldo, engenheiro aeroespacial e fundador da Hyperlift Aerospace and Defense, fazem parte de um grupo de estudos sobre o eVTOL no Brasil. Ao todo, são quase 100 profissionais — incluindo diretores de aeroportos, agentes do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) e outros especialistas da aviação civil — que buscam debater o assunto e viabilizar a regulamentação dessa modalidade de transporte.

Mas mesmo diante do otimismo com o setor, o grupo de estudos está cético em relação à plena operação da Eve em 2026. A principal barreira, e que não é um desafio apenas para a subsidiária da Embraer, envolve a infraestrutura adequada onde o eVTOL deve pousar. É um trabalho que não depende apenas da fabricante e da Anac, mas também da participação de governos, prefeituras e empresas privadas.

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Apesar de ser chamado de carro voador, eVTOL lembra a mistura de helicóptero com drone. Foto: Thiago Riboura/Embraer

“A obra para o estacionamento de eVTOL dentro de um aeroporto pode levar quase dois anos, pois depende de adequações de energia e outras autorizações regulatórias. Temos que correr contra o tempo agora em 2024 para que essa infraestrutura chegue junto com a Eve em 2026”, explica Kely Góis, da Aviation Council.

Ainda assim, ela e os demais membros do grupo de estudos acreditam que em 2030 os carros voadores já serão uma realidade no Brasil e no mundo. Por aqui, eles destacam que a Anac não apenas tem promovido eventos e discussões sobre o assunto, como também realizou uma consulta setorial para reunir propostas e soluções em relação ao modelo de vertiporto a ser adotado, treinamento de instrutores e pilotos e emissão de licenças.

“É a primeira vez que as agências de aviação do Brasil, dos Estados Unidos (FAA) e da Europa (AESA) estão coesas no sentido da regulamentação dos eVTOLs”, aponta Marco Gabaldo, da Hyperlift Aerospace and Defense. O engenheiro aeroespacial lembra que esse será um meio de transporte inédito no mundo todo e as reguladoras estão buscando estabelecer regras que permitam que diferentes empresas operem em suas cidades.

Quem são os concorrentes do carro voador da Embraer?

Vale lembrar que a Eve, da Embraer (EMBR3), não é a única empresa no mercado dos carros voadores. Junto dela, estão as americanas Archer (NYSE:ACHR) e Joby (NYSE:JOBY), com testes e aprovações avançadas com a agência regulatória dos EUA. Outros dois rivais vem da Europa: a britânica Vertical Aerospace (NYSE:EVTL) e a alemã Lilium NV (NYSE:LILM), que estão em vias de aprovar os seus eVTOLs. Na Ásia, a chinesa EHang também está próxima desse objetivo. Todas, no entanto, aguardam pela regulamentação e pela legislação desse novo meio de transporte para poderem decolar.

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